Descrição de chapéu Financial Times Brexit

Vitorioso, Boris Johnson terá que converter slogan do brexit em realidade

Maior incerteza é como premiê vai realmente levar saída do Reino Unido da União Europeia a cabo

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George Parker Sebastian Payne
Financial Times

Boris Johnson conquistou a vitória mais convincente de qualquer primeiro-ministro desde Tony Blair em sua época áurea, o que lhe dá a liberdade que ele tanto buscava para realizar o brexit e promover sua versão própria do conservadorismo dito “de uma nação”.

Durante as cinco semanas de uma campanha eleitoral desanimadora, Boris ofereceu poucos detalhes sobre como pretende exercer seu poder. Agora ele terá que converter “Let's get brexit done” (vamos resolver o brexit de uma vez ) de slogan à política pública.

Ele também terá que explicar como sua visão de “uma nação” vai poder garantir a coesão de uma nova coalizão conservadora que abrange desde eleitores do chamado “cinturão de acionistas” de Sevenoaks até pessoas da classe trabalhadora nas ruas de casinhas geminadas de Stoke-on-Trent.

O primeiro-ministro Boris Johnson em frente ao número 10 de Downing Street após se encontrar com a rainha Elizabeth 2ª, em Londres
O primeiro-ministro Boris Johnson em frente ao número 10 de Downing Street após se encontrar com a rainha Elizabeth 2ª, em Londres - Han Yan/Xinhua

Quando a poeira assentar sobre a noite eleitoral notável, Boris vai comandar não apenas um partido unido na determinação de levar o brexit a cabo como também dotado de um rosto e um conjunto de prioridades diferentes de antes.

A eleição sempre fora uma estratégia de alto risco. Em outubro, Boris conseguiu o apoio de deputados para seu acordo do brexit com uma maioria na Câmara dos Comuns —sugerindo que ele teria conseguido concretizar seu acordo de divórcio em tempo para o país sair da UE em janeiro.

Mas Boris temia que o brexit se convertesse em uma guerra de atrito em Westminster, com deputados propondo emendas e derrotando o governo repetidas vezes em relação aos detalhes do plano. A eleição foi a saída que ele encontrou.

A maior incerteza é como Boris vai realmente levar o brexit a cabo, supondo que ele agora consiga fazer seu acordo de divórcio ser aprovado pelo Parlamento em tempo para uma saída britânica em 31 de janeiro.

Apesar de todo seu discurso bombástico de campanha sobre “resolver o brexit de uma vez por todas”, sugerindo que estaria tudo feito antes de o peru de Natal ir para o forno, Boris agora se depara com uma corrida altamente problemática para firmar um novo acordo comercial com a UE até o prazo final de dezembro de 2020. Ele já excluiu a possibilidade de pedir uma prorrogação desse prazo.

Alguns setores especulam que Boris pode aproveitar sua maioria grande na Câmara dos Comuns para colocar de escanteio os “brexiters” de linha dura do European Research Group (ERG, grupo de pesquisas sobre a Europa), pressionando por um acordo comercial que deixe o país estreitamente alinhado com as regras da UE, podendo manter relações comerciais sem barreiras excessivas.

Mas nada no discurso de campanha de Boris sugeriu que ele pretenda defender um brexit mais moderado, embora ele agora vá enfrentar um lobby intenso do setor empresarial para que o Reino Unido se conserve dentro da órbita comercial mais próxima da UE.

Os membros do ERG foram mantidos à distância da mídia durante a campanha eleitoral, porque os estrategistas conservadores temiam que eles assustassem os eleitores moderados. Mas eles ainda formarão um bloco poderoso no novo Parlamento.

Em 2017, quando era ministro das Relações Exteriores, Boris avisou que o Reino Unido “não deve fazer o brexit às pressas para acabar em alguma sala de espera qualquer da UE, esperando pateticamente pelas migalhas que caem ao chão, mas não mais no controle do cardápio”.

Dizer que Boris e os ministros conservadores seniores não mostraram aos eleitores a realidade de uma negociação comercial difícil com a UE é pouco.

Sajid Javid, o ministro das Finanças, chegou a afirmar que uma declaração política de alto nível da UE e do Reino Unido sobre os princípios subjacentes a qualquer acordo comercial era a mesma coisa que um acordo comercial. “Fechamos um fantástico acordo comercial novo com a UE”, ele disse à BBC durante a campanha.

Enquanto isso, Boris Johnson realizou uma façanha política rara: persuadiu os eleitores de que o que ele oferece é uma “mudança” no governo —sendo que seu partido está no poder desde 2010— com a promessa de liderar “uma administração conservadora de uma nação só”.

Mas há incertezas grandes sobre como ele pode colocar em prática esse discurso moderado. Partes de sua agenda estão claras: elevação dos gastos públicos, investimentos em infraestrutura e redução dos impostos pagos pelos eleitores mais pobres.

Sua aposta para conquistar cadeiras parlamentares que integravam a chamada “muralha vermelha” trabalhista no norte e na região das Midlands parece ter dado certo: a boca de urna sugeriu que vários distritos que nunca antes elegeram um deputado conservador haviam mudado de posição.

Boris rometeu anunciar um orçamento nacional em fevereiro para detalhar seu plano de “nivelar para cima” a economia britânica, desenvolvendo o potencial e a riqueza dos distritos eleitorais fora da região de Londres sobre os quais seus ganhos eleitorais foram baseados.

Mas Boris agora representa distritos de classe trabalhadora do Norte do país e das Midlands, que foram visados durante a campanha com temas que diferiram tremendamente do conservadorismo liberal e tolerante defendido por políticos como Ken Clarke e John Major.

Boris está prometendo mais intervenção do Estado em indústrias em dificuldades, políticas protecionistas do tipo “compre produtos britânicos” e repressão aos imigrantes pouco qualificados que “basicamente tratam o Reino Unido como se fosse parte de seu próprio país”.

James Kanagasooriam, o estrategista de dados que foi o primeiro a identificar a “muralha vermelha”, disse que Boris Johnson “demoliu a muralha vermelha e a reconstruiu tijolo por tijolo em azul profundo”.

Ele comentou ainda que foi a personalidade de Jeremy Corbyn, somada à questão divisora do brexit, a responsável pela derrota dos candidatos trabalhistas na base tradicional desse partido

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