Após 2 dias de ataque, manifestantes deixam a embaixada dos EUA em Bagdá

Ato marca novo momento de tensão entre Washington e Teerã no Oriente Médio

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Bagdá | AFP e Reuters

Depois de dois dias de protestos, manifestantes que atacaram a embaixada americana em Bagdá, no Iraque, retiraram-se do complexo nesta quarta-feira (1º). Os Estados Unidos haviam deslocado tropas adicionais para a região e ameaçado represálias contra o Irã, acusado de estar por trás das ações. 

A multidão, que atirou pedras, estourou vidros, quebrou câmeras de vigilância e gritou "morte à América!", reagiu ao bombardeio dos americanos contra a facção Kataib Hezbollah (uma coalizão de paramilitares dominada por facções xiitas pró-Irã), que matou cerca de 25 iraquianos no último domingo.

A ação dos EUA, por sua vez, tinha sido em retaliação à morte de um segurança privado que trabalhava em uma base americana atacada por um foguete. O bombardeio ordenado por Washington alimentou o sentimento antiamericano no país. 

Segundo o Departamento de Estado americano, o embaixador não estava no prédio e nenhum funcionário foi ferido. Durante os conflitos, forças dos EUA, posicionadas nos telhados dos prédios, usaram gás lacrimogêneo para tentar dispersar a multidão.

Na tarde desta quarta-feira, no horário local, a maioria obedeceu ao pedido de retirada emitido pelo grupo Forças de Mobilização Popular, formado majoritariamente por milícias xiitas, que considerou que a mensagem dos manifestantes havia sido ouvida.

Forças de segurança iraquianas vigiam a embaixada dos EUA na capital Bagdá, no primeiro dia de 2020, após ataque ao local
Forças de segurança iraquianas vigiam a embaixada dos EUA na capital Bagdá, no primeiro dia de 2020, após ataque ao local - Ahmad Al-Rubaye/AFP

De acordo com o Exército iraquiano, à noite, todos os manifestantes já haviam ido embora do local.

Os protestos marcam um novo momento de tensão entre Washington e Teerã no Oriente Médio. Na terça-feira (31), o presidente americano, Donald Trump, havia ameaçado retaliar o Irã, dizendo que o país pagaria um "alto preço" por ter "orquestrado" o ataque à embaixada. Depois, no entanto, ele disse que não queria guerra.

Os líderes iranianos, por sua vez, alertaram que responderão a qualquer ameaça feita a seu país. 

Autoridades dos EUA afirmaram que 750 tropas adicionais inicialmente ficariam baseadas no vizinho Kuait e que até 4.000 tropas poderiam ser enviadas à região nos próximos dias.

Mais de 5.000 tropas americanas estão no Iraque apoiando forças locais. Os ataques aéreos estimularam pedidos dentro do Iraque para expulsá-las.

Entre a multidão do lado de fora da embaixada, muitos disseram que o principal objetivo do protesto era encerrar a presença de Washington no Iraque.

Maior embaixada dos EUA

Construída às margens do rio Tigre na fortificada Zona Verde, no centro de Bagdá, durante a ocupação americana depois da invasão de 2003 que derrubou Saddam Hussein, a embaixada é a maior missão diplomática americana no mundo.

A embaixada informou que todas as operações consulares foram suspensas e todos os compromissos futuros, cancelados.

A ação anti-EUA aconteceu após meses de protestos no Iraque contra o governo e as milícias sob influência iraniana. Muitos iraquianos reclamam que o seu país se tornou um campo de batalha para uma guerra indireta de influência entre Washington e Teerã e que seus líderes são muito dependentes de potências estrangeiras.

Há muito tempo o governo iraquiano passa por atritos na relação próxima com os dois inimigos. Na terça-feira, Trump conversou com o primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi e exigiu que o Iraque protegesse a embaixada.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, condenou os ataques dos EUA. O Irã convocou um enviado suíço, que representa os interesses dos EUA em Teerã, para reclamar sobre o que descreveu como palavras "bélicas" de Washington.

Inimizade histórica

Apesar de décadas de inimizade entre Irã e Estados Unidos, milícias apoiadas pelo Irã e forças americanas se viram do mesmo lado durante a guerra do Iraque entre 2014 e 2017 contra o Estado Islâmico, com as duas potências ajudando o governo a recuperar território dos militantes que chegaram a controlar um terço do Iraque.

Desde então, tropas dos EUA ainda não foram embora, e as milícias apoiadas pelo Irã foram incorporadas às forças de segurança.

O primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi —que anunciou planos de renunciar diante de protestos antigoverno nos quais mais de 450 pessoas morreram— é apoiado pelo Irã e por seus aliados.

"Nosso protesto é eterno, até que o covil do diabo seja fechado para sempre, mas não dê a ninguém a desculpa para tornar a sua manifestação violenta. Não brigue com a segurança", disse um líder dos protestos ao público em um palco levantado na embaixada antes da retirada.

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