Depois de quase um ano de impasse e duas eleições, Espanha fica próxima de formar governo

Pedro Sánchez deve ser confirmado como premiê após meses de negociação com esquerda e separatistas

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São Paulo

Pedro Sánchez tenta há quase um ano ser confirmado premiê da Espanha. Após meses de campanha, duas eleições gerais, inúmeras reuniões e tentativas de acordo, ele chega à votação que pode selar sua vitória com uma margem muito estreita: dois votos. Se ninguém mudar de ideia ou tiver um imprevisto, ele levará o cargo.

Na votação desta terça (7), realizada pelo Parlamento, o líder do PSOE precisa apenas obter maioria simples (mais votos “sim” do que “não”).

No domingo (5), na primeira votação de investidura, ele teve 166 votos a favor, 165 contra e 18 abstenções. Eram para ter sido 167 a favor, mas a deputada Aina Vidal faltou por estar doente. Ela promete ir nesta terça, o que deixaria o placar em 167 a 165. A votação está marcada para as 12h45 (8h45 em Brasília). 

O socialista Pedro Sánchez observa o rei da Espanha Felipe 4º discursar às vésperas de votação no Parlamento - Sebastian Mariscal/AFP

​Com essa margem pequena, o dia anterior à votação foi marcado por tentativas do PSOE de confirmar os acertos feitos com os partidos aliados, especialmente as legendas pequenas e regionais, que veem no avanço do partido de ultradireita Vox uma forte ameaça às autonomias locais.

Se confirmado, o governo do PSOE em parceria com a Unidas Podemos será o primeiro de uma coalizão de esquerda no país desde os anos 1970. 

Suas propostas incluem rever uma reforma trabalhista feita pelo governo anterior, aumentar impostos para os mais ricos, elevar salários e lutar pela igualdade entre os gêneros. Apesar de planejar aumentar os gastos sociais, os partidos prometem respeitar regras de austeridade fiscal.

A trajetória de Sánchez é marcada pela dificuldade para fechar acordos políticos. Ele chegou ao cargo em junho de 2018, depois que um escândalo de corrupção levou à queda do governo de Mariano Rajoy.

O socialista conseguiu ser nomeado premiê graças ao apoio de legendas catalãs, mas, com um governo minoritário, teve dificuldade para aprovar projetos. Em fevereiro de 2019, não conseguiu aval para sua proposta de Orçamento e antecipou eleições.

O PSOE foi o mais votado no pleito de abril de 2019 e levou 123 cadeiras, porém não chegou a um acordo para formar governo. A coligação Unidas Podemos, também de esquerda, criticou os socialistas por quererem apoio sem ceder espaço em ministérios de peso.

Houve novas eleições em novembro. O PSOE foi o mais votado, mas perdeu três cadeiras na comparação com abril. A Podemos sentiu mais: foram sete a menos, enquanto a legenda de ultradireita Vox passou de 24 para 52 cadeiras. Depois disso, o PSOE cedeu cargos importantes, e Sánchez selou o acordo com o líder Pablo Iglesias com um abraço em público.

Nas semanas de negociação pós-eleitoral, Sánchez se posicionou como alternativa para conter o avanço da direita radical, que ele chama de “coalizão do apocalipse”, e manter as autonomias regionais.

No entanto, há dúvidas sobre como lidar com os separatistas catalães e suas pressões. Os líderes do movimento que tentou a independência em 2017 enfrentam processos judiciais por atentarem contra a unidade nacional, mas seguem buscando meios para prosseguir sua luta. A aposta agora é via Parlamento Europeu.

Três líderes separatistas foram eleitos eurodeputados em maio, mas não conseguiram tomar posse por pendências com a Justiça espanhola. No entanto, o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) decidiu em dezembro que eles poderiam obter os cargos.

Com isso, Carles Puigdemont, principal líder do movimento de 2017, e o ex-deputado regional Toni Comín, ambos foragidos da Justiça espanhola, pegaram suas credenciais de parlamentar europeu e, com isso, passaram a ter imunidade. Depois disso, a advocacia-geral da Espanha pediu a suspensão temporária da ordem de prisão contra eles. 

Outro beneficiado pela decisão europeia foi Oriol Junqueras, líder do ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), partido que deve garantir a posse de Sánchez com 13 abstenções. No entanto, Junqueras está em situação complexa. Ele cumpre pena, mas ganhou imunidade ao ser declarado eurodeputado e, para o TJUE, deveria ser solto.

Na sexta-feira (3), porém, a Justiça eleitoral espanhola disse que Junqueras não poderia ter disputado a eleição, pois a lei nacional diz que quem está cumprindo pena é inelegível. A decisão gerou dúvidas se o ERC cumpriria de fato o combinado com o PSOE. 

“Se render aos piores radicais poderá fazer de você primeiro-ministro, mas não o tornará capaz de governar”, ameaçou Pablo Casado, líder do PP, partido de direita e segundo mais votado.

“A Espanha não irá se partir. O que será rompido será o bloqueio a um governo progressista eleito democraticamente”, respondeu Sánchez. 

Contudo, a falta de maioria no Parlamento poderá dificultar os planos. Na sessão de domingo, membros de partidos de direita tentaram interromper o discurso da porta-voz do partido basco EH Bildu.

O novo premiê terá de encontrar meios para baixar a tensão no país. Se não conseguir, a Espanha recomeçará o ciclo de meses de campanha e de negociações que já se repetiu quatro vezes desde 2015.

 
Erramos: o texto foi alterado

Infográfico em versão anterior desta reportagem indicava incorretamente o total necessário para obter maioria absoluta no Parlamento espanhol. O número correto é de 176 cadeiras.  

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