Após negar, Irã admite que derrubou avião ucraniano por engano

Comandante afirma que soldado disparou sem ordem por conta de interferência nas telecomunicações

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AFP e Reuters

O Irã admitiu neste sábado (11) que o avião ucraniano que caiu em seu território na última quarta-feira (8), matando todas as 176 pessoas a bordo, foi derrubado por erro humano. Um comunicado lido na TV estatal iraniana declara que os responsáveis serão punidos.

Entre as 176 vítimas, havia 82 iranianos, 63 canadenses e 11 ucranianos. Boa parte dos passageiros faria uma conexão para um voo com destino ao Canadá.

“A República Islâmica do Irã lamenta profundamente esse erro desastroso”, escreveu o presidente iraniano, Hasan Rowhani, no Twitter. “Meus pensamentos e orações vão para todas as famílias de luto.” Ele reiterou que os responsáveis pelo incidente serão processados.

O chanceler iraniano, Javad Zarif, lamentou o erro em uma rede social, mas culpou os Estados Unidos pelo estado de tensão.

"O erro humano, em um momento de crise causada pelo aventureirismo americano, levou a um desastre."

Em comunicado, a Guarda Revolucionária do Irã disse, na primeira mudança de posição do país sobre o acidente, que o avião havia voado perto de um local militar sensível.

Segundo a agência de notícias local Fars, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, a principal autoridade da República Islâmica, foi informado sobre a derrubada acidental do avião ucraniano na sexta-feira (10) e disse que as informações deveriam ser anunciadas publicamente após uma reunião do principal órgão de segurança do Irã.

Neste sábado, o comandante da seção aeroespacial da Guarda Revolucionária iraniana, general Amir Ali Hajizadeh, assumiu a culpa pelo erro em uma declaração à TV estatal. "Preferiria estar morto a testemunhar um acidente semelhante", afirmou.

O comandante disse que o avião foi confundido com um míssil de cruzeiro (armamento guiado remotamente para liberar ogivas a longas distâncias) e abatido por um míssil de curto alcance. Ele também afirmou que o soldado efetuou o disparo sem ordem por causa de uma interferência nas telecomunicações.

Após a divulgação das informações sobre a derrubada do avião, a tensão política dentro do Irã aumentou. 

Segundo o jornal The New York Times, protestos irromperam em Teerã e outras cidades iranianas. Vídeos publicados em redes sociais mostraram centenas de manifestantes reunidos em frente à Universidade Amir Kabir, na capital, pedindo a renúncia do aiatolá Khamenei

estudantes protestam
Estudantes protestam em frente a universidade em Teerã, após tributo a mortos em avião abatido por míssil - Atta Kenare/AFP

O Times e o britânico Guardian relataram protestos em que manifestantes gritavam "Khamenei é assassino" e "Khamenei acabou", assim como pessoas rasgando fotos do general Qassim Suleimani, morto pelos EUA na semana passada.

Em meio às manifestações, forças iranianas detiveram brevemente o embaixador do Reino Unido no país, Rob Macaire, segundo informou o ministro das Relações Exteriores britânico, Dominic Raab, que classificou o episódio como "violação flagrante da legislação internacional".

No início da noite de sábado, o presidente americano, Donald Trump, escreveu no Twitter que "está ao lado" do "corajoso e sofrido povo do Irã". "Estamos acompanhando seus protestos de perto e estamos inspirados por sua coragem", completou. Ele tuitou em inglês e em persa.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse em comunicado que espera uma investigação completa, uma admissão total de culpa e compensação do Irã após a queda do avião de passageiros da companhia ucraniana.

O ACIDENTE

No acidente, o Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines caiu cinco minutos após decolar do aeroporto Imam Khomeini, em Teerã. A aeronave, que decolou às 6h12 na hora local (23h42 de terça em Brasília) e seguia para Kiev, pegou fogo minutos após a decolagem. 

Os governos do Canadá e do Reino Unido, assim como funcionários da inteligência dos EUA, já haviam dito ter informações que indicam que o voo foi derrubado por um míssil iraniano de forma acidental. Essa possibilidade vinha sendo negada pelo governo iraniano.

Na sexta-feira, o New York Times divulgou um vídeo que aparentemente mostra um míssil atingindo a aeronave sobre Parand, região próxima ao aeroporto de Teerã onde o avião transmitiu sinais pela última vez.

Na véspera da admissão da responsabilidade pela derrubada do avião, o governo iraniano dizia que pretendia fazer a extração dos registros das caixas-pretas no próprio país, a não ser que encontrasse dificuldades técnicas. Nesse caso, afirmou que solicitaria ajuda para a Rússia, o Canadá, a França ou a Ucrânia.

Nesse mesmo dia, o ministro do Exterior da Ucrânia, Vadym Prystaiko, informou à rede de TV americana CNN que o país investigava a possibilidade de uma bomba ter sido colocada dentro do avião.

Ele disse suspeitar dessa hipótese pelo fato de o voo ter atrasado para sair do aeroporto de Teerã e porque algumas malas não haviam sido carregadas na aeronave.

Na sexta, a Rússia saiu em defesa do Irã e apontou não ver elementos para culpar o país pela queda. O vice-chanceler Sergei Ryabkov afirmou que os líderes de outros países deveriam evitar novas declarações até que mais detalhes fossem apurados.

A Ucrânia disse priorizar as possibilidades de ataque com míssil e terrorismo como causas da queda, mas que ambas as hipóteses ainda precisavam de confirmação.

Os Estados Unidos ofereceram ajuda à Ucrânia nas investigações, mas também defenderam que seja feita uma investigação independente.

Após a queda, diversas companhias aéreas cancelaram seus voos para Teerã ou passaram a desviar suas rotas para não sobrevoar Irã e Iraque. Entre elas, estão Lufthansa, Malaysia Airlines, KLM Air France, e Qantas.


PERGUNTAS E RESPOSTAS

O que ocorreu?
Um Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines caiu cinco minutos após decolar do aeroporto internacional Imam Khomeini, em Teerã, na manhã de quarta (8). Todas as 176 pessoas a bordo morreram 

Por que o avião caiu? 
Segundo declaração do chefe da seção aeroespecial da Guarda Revolucionária do Irã, Amir Ali Hajizadeh, o avião foi abatido por um míssil de curto alcance. Antes, o Irã havia negado as acusações e dito que a informação era parte de uma “guerra psicológica” contra o país

Foi proposital? 
Não. De acordo com Hajizadeh, o avião foi confundido com um míssil de cruzeiro, armamento utilizado para liberar ogivas em longas distâncias, e, por isso, foi erroneamente abatido. A informação havia sido considerada antes por agentes dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido

Quais as evidências já apresentadas? 
Um vídeo divulgado na noite desta quinta (9) pelo New York Times mostra, aparentemente, um míssil atingindo a aeronave sobre Parand, região próxima ao aeroporto de Teerã onde o avião transmitiu sinais pela última vez

Qual é o tipo do míssil? 
Em declaração à TV estatal iraniana, o general Hajizadeh confirmou que foi utilizado um míssil de curto alcance. Segundo Canadá e Reino Unido, seria um terra-ar iraniano de origem russa

Quem vai investigar a queda? 
O comitê de investigação de acidentes aéreos no Irã. Mas o porta-voz do governo iraniano, Ali Rabiei, disse em comunicado que os países cujos cidadãos estavam no avião podem enviar representantes e solicita que a Boeing envie representantes para se juntarem à investigação da caixa-preta

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