Irã quer extrair dados das caixas-pretas de avião que caiu e diz que pedirá ajuda se precisar

Retirada dos registros pode levar até dois meses, diz governo iraniano

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Dubai e Bruxelas | Reuters

O Irã afirmou nesta sexta (10) que pretende fazer a extração dos registros das caixas-pretas do avião que caiu em Teerã na quarta (8) e matou 176 pessoas.

A aeronave pode ter sido derrubada com mísseis, de modo acidental, segundo informações divulgadas por governos estrangeiros. Essa possibilidade foi negada pelo governo iraniano.

Uma das caixas-pretas do avião que caiu, exibida por uma emissora de TV iraniana - Irib/Wana/via Reuters

"Nós preferimos retirar os dados das caixas-pretas no Irã. Mas se virmos que não vamos conseguir porque as caixas estão danificadas, então vamos pedir ajuda", disse Ali Abedzadeh, chefe da autoridade de aviação civil do Irã, em uma entrevista coletiva.

Abedzadeh voltou a descartar que o avião tenha sido atingido por artefatos militares, e o inquérito busca descobrir por que a aeronave pegou fogo.

A ajuda na investigação poderia ser solicitada para a Rússia, o Canadá, a França ou a Ucrânia, segundo ele. O governo do Irã afirmou que os países que perderam cidadãos no acidente poderão enviar representantes para participar das investigações, assim como representantes da Boeing. 

Entre as vítimas, havia 82 iranianos, 63 canadenses e 11 ucranianos. Boa parte dos passageiros faria uma conexão para um voo com destino ao Canadá.

A retirada dos dados pode levar um ou dois meses, e o resultado final da investigação, até dois anos, segundo Abedzadeh. A apuração das causas de acidentes aéreos costuma levar vários meses. 

Mas a agência de notícias semioficial Fars informou que Teerã vai anunciar neste sábado (11) o motivo do acidente. O anúncio será feito após a reunião de uma comissão local focada em acidentes aéreos.

No acidente de quarta-feira, o Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines caiu cinco minutos após decolar do aeroporto Imam Khomeini, em Teerã. A aeronave, que decolou às 6h12 na hora local (23h42 de terça em Brasília) e seguia para Kiev, pegou fogo minutos após a decolagem.

Os governos do Canadá e do Reino Unido, assim como funcionários da inteligência dos EUA, dizem ter informações que indicam que o voo foi derrubado de forma acidental por um ataque iraniano. 

Nesta sexta, a Rússia saiu em defesa do Irã e apontou não ver elementos para culpar o país pela queda. O vice-chanceler Sergei Ryabkov afirmou que os líderes de outros países deveriam evitar novas declarações até que mais detalhes sejam apurados.

No mesmo dia, o chanceler da Holanda, Stef Blok, disse considerar que há grandes chances de que a queda tenha sido causada por mísseis iranianos.

A Ucrânia disse priorizar as possibilidades de ataque com míssil e terrorismo como causas da queda, mas que ambas ainda precisam de confirmação. No fim do dia, o ministro do Exterior do país, Vadym Prystaiko, informou à rede CNN que o país investiga a possibilidade de uma bomba ter sido plantada no avião.

Ele suspeita dessa hipótese pelo fato de o voo ter atrasado para sair do aeroporto de Teerã e porque algumas malas não foram carregadas na aeronave.

Os Estados Unidos ofereceram ajuda à Ucrânia nas investigações, mas também defenderam que seja feita uma investigação independente.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse que o país acredita que o avião foi derrubado por um míssil iraniano, mas que isso ainda precisa ser comprovado pela investigação. Na quinta (9), funcionários de Inteligência dos EUA haviam revelado essa informação, sob condição de anonimato. 

Dois dias após a queda, diversas companhias aéreas seguem cancelando seus voos para a Teerã ou passaram a desviar suas rotas para não sobrevoar Irã e Iraque. Entre elas, estão KLM Air France, Lufthansa, Malaysia Airlines e Qantas.

Já empresas como Emirates, Turkish Airlines, Qatar Airways, e Aeroflot (Rússia) seguem operando suas rotas para o Irã. 

O acidente com o avião ucraniano chegou a ser relacionado à crise entre Irã e Estados Unidos. Cinco horas antes da queda da aeronave, o Irã havia disparado mísseis contra bases americanas no Iraque, em resposta a um ataque dos EUA que matou o general Qassim Suleimani, principal autoridade militar iraniana.


PERGUNTAS E RESPOSTAS

O que ocorreu?
Um Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines caiu cinco minutos após decolar do aeroporto internacional Imam Khomeini, em Teerã, na manhã de quarta (8). Todas as 176 pessoas a bordo morreram 

Por que o avião caiu? 
Não está claro. Funcionários dos setores de inteligência dos Estados Unidos e os primeiros-ministros do Canadá e do Reino Unido, Justin Trudeau e Boris Johnson, acusam o Irã, por meio do seu sistema de defesa aérea, de derrubá-lo. O Irã diz que a informação é parte de uma “guerra psicológica” contra o país

Foi proposital? 
Não. Teria sido um acidente, segundo agentes dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido

Quais as evidências já apresentadas? 
Um vídeo divulgado na noite desta quinta (9) pelo New York Times mostra, aparentemente, um míssil atingindo a aeronave sobre Parand, região próxima ao aeroporto de Teerã onde o avião transmitiu sinais pela última vez. Já Trudeau afirmou ter informações “de múltiplas fontes, incluídos nossos aliados e nossos próprios serviços”, que indicam que a aeronave foi atingida por um míssil iraniano

Qual é o tipo do míssil? 
Seria um terra-ar iraniano de origem russa, segundo Canadá e Reino Unido

Quem vai investigar a queda? 
O comitê de investigação de acidentes aéreos no Irã. Mas o porta-voz do governo iraniano, Ali Rabiei, disse em comunicado que os países cujos cidadãos estavam no avião podem enviar representantes e solicita que a Boeing envie representantes para se juntarem à investigação da caixa-preta

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