Iraque pede que EUA retirem suas tropas do país, mas Washington recusa

Departamento de Estado afirma que países precisam discutir sua relação diplomática e econômica

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Bagdá, Washington e São Paulo | AFP e Reuters

O governo do Iraque solicitou oficialmente nesta sexta-feira (10) aos Estados Unidos a retirada de suas tropas do país. O pedido, porém, foi negado por Washington, que avisou que quer discutir a relação com Bagdá. 

O caso deve aumentar ainda mais a tensão entre os dois países, em alta desde a semana passada, quando um ataque ordenado pela Casa Branca contra o aeroporto de Bagdá matou o general iraniano Qassim Suleimani. 

O pedido iraquiano da retirada das tropas foi feito em um telefonema do primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi para o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, na manhã desta sexta. 

Na conversa, o premiê solicitou que ​Washington enviasse uma delegação para organizar a saída dos soldados americanos. A medida atende a uma ordem de expulsão aprovada pelo Parlamento iraquiano no domingo (5) em represália à morte do general.  

O premiê iraquiano, Adel Abdul Mahdi, em discurso em outubro de 2019 - Ahmad Al-Rubaye/AFP

Pouco depois, o próprio Departamento de Estado divulgou um comunicado no qual afirma que a presença das tropas americanas no país é "adequada" e que não pretende retirar seus soldados do país.

Na nota, o governo americano diz ainda que até gostaria de enviar uma delegação a Bagdá, mas para debater outros temas. "Existe a necessidade de uma conversa entre os governos dos EUA e do Iraque não apenas sobre segurança, mas também sobre nossa parceria financeira, econômica e diplomática", afirma o texto.

O governo iraquiano ainda não respondeu ao comunicado americano, e não está claro ainda quais medidas o país tomará se seu pedido não for atendido.

Há cerca de 5.000 soldados dos EUA no Iraque atualmente, membros de uma coalizão internacional liderada pelos próprios americanos para lutar contra o Estado Islâmico (EI).

Os militares estrangeiros estão no país graças a um convite de Bagdá —que, portanto, tem poder para expulsá-los. Mas uma ação nesse sentido poderia levar ao rompimento das relações entre os dois países e poderia enfraquecer o combate ao grupo radical islâmico. Também não está claro se os EUA aceitariam uma medida impositiva do governo iraquiano.   

​Oficialmente, Washington diz não ter planos de sair do Iraque. Os EUA invadiram o país em 2003, para depor o ditador Saddam Hussein, e seguem com presença militar por lá desde então.

Em 2013, o então presidente Barack Obama chegou a retirar a maior parte do contingente militar do país, mas já no ano seguinte teve que enviar novas tropas devido ao crescimento do Estado Islâmico. 

A tensão na região aumentou depois do ataque de drone realizado pelos Estados Unidos na última sexta (3), em ação que matou o general Suleimani, considerado a segunda maior autoridade do Irã.

A ação matou também Abu Mehdi Al Muhandis, que controlava as milícias pró-Teerã que atuam no Iraque. Para Bagdá, Washington violou a soberania do país com o ato.  

Na quarta (8), o Irã revidou e fez ataques com mísseis a bases com americanos no Iraque. Não houve mortes, segundo o governo dos EUA, mas equipamentos militares foram danificados. O governo iraquiano também reclamou da atitude iraniana de realizar ataques em seu território. 

No mesmo dia, Trump deu sinais de que não pretende ir à guerra contra Teerã. E, na quinta (9), a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou uma resolução que restringe ações militares do presidente no conflito com o Irã. Pela determinação, que ainda precisa ser votada pelo Senado, Trump é obrigado a pedir autorização ao Congresso antes de tomar outras medidas relacionadas ao tema.

Protestos matam jornalistas

Nesta sexta (10), manifestantes tomaram as ruas de várias cidades iraquianas mais uma vez, determinados a manter seus protestos contra o governo apesar de a atenção ter se virado para a ameaça de um conflito entre Irã e EUA.

Homens armados mataram dois jornalistas locais que cobriam as manifestações na cidade de Basra, no sul do país, disseram fontes de segurança à mídia estatal. Ahmed Abdulsamad, correspondente da emissora de TV Dijla —de propriedade de um importante político sunita, Mohammed al-Karbouli— foi morto na hora, enquanto seu operador de câmera morreu no hospital, em decorrência dos ferimentos.

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