O governo do Iraque solicitou oficialmente nesta sexta-feira (10) aos Estados Unidos a retirada de suas tropas do país. O pedido, porém, foi negado por Washington, que avisou que quer discutir a relação com Bagdá.
O caso deve aumentar ainda mais a tensão entre os dois países, em alta desde a semana passada, quando um ataque ordenado pela Casa Branca contra o aeroporto de Bagdá matou o general iraniano Qassim Suleimani.
O pedido iraquiano da retirada das tropas foi feito em um telefonema do primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi para o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, na manhã desta sexta.
Na conversa, o premiê solicitou que Washington enviasse uma delegação para organizar a saída dos soldados americanos. A medida atende a uma ordem de expulsão aprovada pelo Parlamento iraquiano no domingo (5) em represália à morte do general.
Pouco depois, o próprio Departamento de Estado divulgou um comunicado no qual afirma que a presença das tropas americanas no país é "adequada" e que não pretende retirar seus soldados do país.
Na nota, o governo americano diz ainda que até gostaria de enviar uma delegação a Bagdá, mas para debater outros temas. "Existe a necessidade de uma conversa entre os governos dos EUA e do Iraque não apenas sobre segurança, mas também sobre nossa parceria financeira, econômica e diplomática", afirma o texto.
O governo iraquiano ainda não respondeu ao comunicado americano, e não está claro ainda quais medidas o país tomará se seu pedido não for atendido.
Há cerca de 5.000 soldados dos EUA no Iraque atualmente, membros de uma coalizão internacional liderada pelos próprios americanos para lutar contra o Estado Islâmico (EI).
Os militares estrangeiros estão no país graças a um convite de Bagdá —que, portanto, tem poder para expulsá-los. Mas uma ação nesse sentido poderia levar ao rompimento das relações entre os dois países e poderia enfraquecer o combate ao grupo radical islâmico. Também não está claro se os EUA aceitariam uma medida impositiva do governo iraquiano.
Oficialmente, Washington diz não ter planos de sair do Iraque. Os EUA invadiram o país em 2003, para depor o ditador Saddam Hussein, e seguem com presença militar por lá desde então.
Em 2013, o então presidente Barack Obama chegou a retirar a maior parte do contingente militar do país, mas já no ano seguinte teve que enviar novas tropas devido ao crescimento do Estado Islâmico.
A tensão na região aumentou depois do ataque de drone realizado pelos Estados Unidos na última sexta (3), em ação que matou o general Suleimani, considerado a segunda maior autoridade do Irã.
A ação matou também Abu Mehdi Al Muhandis, que controlava as milícias pró-Teerã que atuam no Iraque. Para Bagdá, Washington violou a soberania do país com o ato.
Na quarta (8), o Irã revidou e fez ataques com mísseis a bases com americanos no Iraque. Não houve mortes, segundo o governo dos EUA, mas equipamentos militares foram danificados. O governo iraquiano também reclamou da atitude iraniana de realizar ataques em seu território.
No mesmo dia, Trump deu sinais de que não pretende ir à guerra contra Teerã. E, na quinta (9), a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou uma resolução que restringe ações militares do presidente no conflito com o Irã. Pela determinação, que ainda precisa ser votada pelo Senado, Trump é obrigado a pedir autorização ao Congresso antes de tomar outras medidas relacionadas ao tema.
Protestos matam jornalistas
Nesta sexta (10), manifestantes tomaram as ruas de várias cidades iraquianas mais uma vez, determinados a manter seus protestos contra o governo apesar de a atenção ter se virado para a ameaça de um conflito entre Irã e EUA.
Homens armados mataram dois jornalistas locais que cobriam as manifestações na cidade de Basra, no sul do país, disseram fontes de segurança à mídia estatal. Ahmed Abdulsamad, correspondente da emissora de TV Dijla —de propriedade de um importante político sunita, Mohammed al-Karbouli— foi morto na hora, enquanto seu operador de câmera morreu no hospital, em decorrência dos ferimentos.
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