Líder supremo do Irã chama EUA de 'palhaços' e diz que está pronto para lutar além de suas fronteiras

Aiatolá também criticou países europeus; Trump respondeu que ele deveria ser cuidadoso com o que diz

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Dubai e São Paulo | Reuters

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, subiu mais uma vez o tom de suas críticas contra os Estados Unidos e a Europa nesta sexta (17). Durante uma rara aparição no sermão das sextas-feiras —a primeira vez em oito anos—, disse que os militares iranianos estão prontos para lutar fora do país, caso seja necessário, e chamou os americanos de palhaços.

No discurso feito para milhares de pessoas em Teerã, ele defendeu a Guarda Revolucionária do Irã, elogiou o general Qassim Suleimani (morto em um ataque americano no dia 3) e criticou os protestos que tomaram as ruas da capital na semana passada —e que tinham o próprio Khamenei como um dos principais alvos. 

O aiatolá Ali Khamenei discursa, com retrato de Ruhollah Khomeini, líder da Revolução Iraniana, ao fundo - Site oficial do líder supremo/Reuters

Sua presença no sermão é uma tentativa de demonstração de força e uma resposta ao Ocidente após uma série de desavenças com os Estados Unidos desde o início do ano. Khamenei profere os sermões de sexta-feira apenas em momentos sérios de crise que requerem sua intervenção. As últimas vezes em que esteve presente foram em 2012, durante os conflitos da Primavera Árabe, e em 2009, quando protestos no Irã contestavam os resultados da eleição.

O líder supremo, recebido em uma mesquita aos gritos de "morte à América", chamou os Estados Unidos de "potência arrogante" e os americanos de "palhaços" e acusou a Casa Branca de fingir que quer ajudar o povo iraniano, "quando na verdade pretende enfiar um punhal envenenado em suas costas". 

Esses palhaços americanos que mentem e dizem que estão com o povo iraniano deveriam ver quem é o povo iraniano", disse, em referência ao presidente Donald Trump. O presidente iraniano, Hasan Rowhani, visto como um líder moderado, estava na primeira fila, em frente ao líder supremo. 

Em reação ao discurso, Trump declarou que Khamenei deveria ser "muito cuidadoso" com o que diz. "O assim chamado 'Líder Supremo' do Irã, que não tem sido tão Supremo ultimamente, teve algumas coisas nojentas para dizer sobre os Estados Unidos e a Europa", escreveu o presidente no Twitter.

"A economia deles está colapsando, e seu povo está sofrendo. Ele deveria ser muito cuidadoso com suas palavras!", completou.

Nos últimos dias, Trump tem postado tuítes, em inglês e em farsi, demonstrando apoio ao povo iraniano em seus protestos contra o governo e o aiatolá.

O sermão acontece no momento em que os EUA revelam que 11 soldados americanos ficaram feridos nos ataques com mísseis que o Irã levou a cabo em Bagdá, no dia 8, contrariando informações divulgadas por Trump inicialmente, de que ninguém havia se machucado.​

As ameaças feitas pelo Irã apenas isolarão ainda mais o país, disse o principal enviado dos EUA para o país, Brian Hook, nesta sexta (17). "Até o Irã se comportar como uma nação normal, seu isolamento só se aprofundará."

Khamenei pediu unidade nacional e acusou os inimigos do país de tentar usar a queda do voo 752, abatido acidentalmente por militares do Irã, para mudar o foco do debate sobre o ataque dos EUA que matou o general Suleimani, que era considerado o principal comandante militar do país.

O aiatolá classificou o acidente aéreo como uma triste tragédia e pediu que medidas sejam tomadas para evitar que algo assim se repita. A derrubada do avião pelas forças iranianas foi o estopim para os protestos contra o governo e contra Khamenei. 

Ele disse também que a Guarda Revolucionária poderá levar sua luta para além das fronteiras do Irã. "A Força Quds [que era chefiada por Suleimani] é uma organização humanitária que protege as pessoas pela região. São lutadores sem fronteiras."

Para o líder supremo, a retaliação pela morte de Suleimani, quando o país atacou bases dos EUA no Iraque, foi um sinal de ajuda divina. "O fato de o Irã ter poder para dar uma bofetada em uma potência mundial mostra a mão de Deus", disse Khamenei.

Ele afirmou também que a morte do general confirma a natureza terrorista dos EUA e acusou Washington de tentar dividir o Iraque para provocar uma guerra civil. 

O discurso também teve críticas a Alemanha, França e Reino Unido, que acionaram nesta semana um mecanismo para questionar o descumprimento do acordo nuclear com o Irã. Khamenei disse que esses países não são confiáveis, que eles servem aos interesses dos EUA e que a pressão sobre o país não funcionará.

O acionamento do mecanismo abre caminho para que a ONU reaplique sanções econômicas ao país, caso não haja acordo entre as partes. 

O líder também defendeu que a economia do Irã se torne independente do setor de petróleo, e que o alto comparecimento dos iranianos nas eleições mostra a força do modelo de república islâmica.

Após a fala do aiatolá, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, pediu por "distensão" e fim a "ameaças constantes". A tragédia do avião "é um sinal muito sério e um sinal para começar a trabalhar na redução de escalada e não em constantes ameaças e vôos de combate nessa região", disse.

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