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Oferta de Bolton para depor em impeachment de Trump pressiona senadores republicanos

Oferta surpreendente de ex-assessor de segurança mudou cálculo político de aliados de presidente

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The Washington Post

John Bolton complicou a estratégia de impeachment dos senadores republicanos na segunda-feira (6), ao declarar-se disposto a depor e aumentando a pressão sobre o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, e seu partido, para convocar o ex-assessor de segurança nacional como testemunha no julgamento do presidente Donald Trump.

Bolton recusou no ano passado pedidos dos investigadores do impeachment na Câmara para que testemunhasse sobre suas preocupações em relação aos pedidos de Trump para que a Ucrânia investigasse seus adversários políticos, enquanto o governo adiava a ajuda militar.

John Bolton durante evento na Casa Branca em 2018
John Bolton durante evento na Casa Branca em 2018 - Liu Jie-2.ago.18/Xinhua

O anúncio surpreendente de Bolton mudou o cálculo político da estratégia de não depoimentos de McConnell e pareceu aumentar a probabilidade de que novos testemunhos prejudiquem o presidente.

"Como meu depoimento está mais uma vez em questão, tive que resolver os problemas sérios concorrentes da melhor maneira possível, com base em cuidadosa consideração e estudo", disse Bolton. "Concluí que, se o Senado emitir uma intimação para meu testemunho, estou preparado para depor."

O anúncio foi um grande reforço para os congressistas democratas, que adiaram a transmissão dos artigos de impeachment durante mais de duas semanas, enquanto procuravam garantias sobre o escopo do julgamento, incluindo testemunhas. Os democratas pressionaram pelo depoimento de Bolton, bem como do chefe de gabinete interino da Casa Branca, Mick Mulvaney, e de vários outros homens do presidente.

Pelo menos um senador republicano, Mitt Romney, de Utah, concordou na segunda-feira que é imperativo que Bolton testemunhe, enquanto os democratas insistiam que a recusa dos republicanos em permitir que ele conte sua história seria equivalente a um "encobrimento".

Bolton tem conhecimento em primeira mão das deliberações internas da Casa Branca e, de acordo com depoimentos na investigação da Câmara, reagiu nervosamente à pressão de Trump para que a Ucrânia investigasse o ex-vice-presidente Joe Biden, agora candidato a presidente, e uma teoria desmentida sobre a Ucrânia ter interferido nas eleições de 2016.

O anúncio de Bolton ocorreu quando os parlamentares voltaram a Washington após um recesso de duas semanas no Congresso, com líderes ainda em desacordo sobre os parâmetros do julgamento de impeachment.

A presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, democrata da Califórnia, mantém as duas acusações —abuso de poder e obstrução do Congresso— na esperança de fortalecer o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, nas negociações por depoimentos com o republicano McConnell.

A declaração de Bolton pareceu criar uma mudança na alavancagem em favor dos democratas.
"O Senado dos Estados Unidos conduzirá um julgamento justo de impeachment do presidente dos Estados Unidos? Procuraremos todos os fatos, ou procuraremos um encobrimento, um julgamento falso, sobre um dos poderes mais importantes que os Pais Fundadores deram ao povo americano?", questionou o senador democrata Schumer, de Nova York, no plenário.

McConnell, por sua vez, deixou claro que quando os artigos forem transmitidos ao Senado, ele seguirá em frente na primeira fase do julgamento —argumentos iniciais— sem uma decisão sobre as testemunhas.

"Isso foi bom o suficiente para o presidente Clinton, então deve ser bom o suficiente para o presidente Trump", disse o senador McConnell em comentários no plenário, citando o julgamento de impeachment há 21 anos. "O que é justo é justo."

Duas senadoras republicanas moderadas —Susan Collins, do Maine, e Lisa Murkowski, do Alasca— disseram que estão abertas a ouvir depoimentos. E Romney deu seu apoio para chamar Bolton, aumentando a probabilidade de que moderados possam forçar a mão de McConnell eventualmente.

"Eu gostaria de poder ouvir John Bolton", disse o candidato a presidente do Partido Republicano em 2012 a repórteres. "Qual é o processo para que isso aconteça, não sei lhe responder. Os líderes estão tentando negociar esse processo no momento. (...) O importante é que o escutemos."

Ainda assim, os mesmos senadores republicanos centristas sinalizaram que estão dispostos a iniciar o julgamento sem um acordo para o depoimento de Bolton, mantendo McConnell em firme controle por enquanto, enquanto ele trabalha para adiar qualquer decisão sobre testemunhas adicionais até que os deputados democratas apresentem seu caso e a equipe de defesa do presidente rebata.

"Há várias testemunhas que podem ser apropriadas para o estágio três, das quais ele certamente seria uma", disse Collins sobre Bolton.

O fator Bolton ocorre apenas alguns dias depois de McConnell ter aproveitado o recesso de fim de ano para convencer Trump a apoiar um julgamento rápido, sem testemunhas. O presidente, conhecido por sua abordagem de terra arrasada, queria usar os procedimentos para perseguir Biden.

Mas McConnell, de acordo com assessores que não estavam autorizados a falar publicamente, explicou que, se Trump chamasse suas próprias testemunhas, os democratas insistiriam nas deles. "Destruição mútua garantida", afirmou ele, alertando contra a convocação de alguém.

A principal questão para McConnell é se ele pode manter a linha —principalmente depois que Bolton diz estar pronto para contar sua história. Uma intimação requer maioria simples de 51 votos, e os democratas precisariam de apenas quatro republicanos para romper as fileiras.

O testemunho de Bolton pode ser prejudicial a Trump politicamente, de acordo com uma pessoa próxima a ele que falou sob a condição do anonimato porque não estava autorizada a discutir conversas particulares.

Pessoas familiarizadas com o mandato de Bolton no Conselho de Segurança Nacional esperam que ele corrobore o depoimento de outras testemunhas do impeachment de que ficou horrorizado com o fato de a ajuda militar dos EUA estar sendo retida enquanto o presidente e seus aliados pressionavam a Ucrânia a fazer sondagens politicamente vantajosas, segundo pessoas familiarizadas com suas opiniões.

Nos últimos meses, Bolton confidenciou a amigos que está profundamente preocupado com seu tempo na Casa Branca e com o comportamento do presidente, mas se recusou a dar muitos detalhes, disse a pessoa, acrescentando que o apoio de Bolton à linha dura de Trump no Irã não influenciaria qualquer possível depoimento. "São questões diferentes. Uma não afeta a outra", afirmou a fonte.

Ainda assim, outros associados de Bolton disseram em particular que ele visa um futuro na política republicana, e não quer ser visto como um vira-casaca sobre Trump, ou alguém que está tentando agradar aos críticos do presidente. Eles observaram, por exemplo, que sua declaração na segunda-feira veio do seu comitê de ação política como um exemplo de que ele está tentando desenvolver sua operação, enquanto lida com questões legais.

Além disso, pessoas próximas a Bolton observam que ele também tem uma visão abrangente do poder presidencial. Em consequência, não está claro se ele deporia que acredita que Trump ultrapassou sua autoridade constitucional nas negociações com a Ucrânia.

Os democratas buscam o testemunho de Bolton há meses, principalmente depois que ex-assessores do Conselho de Segurança Nacional falaram aos investigadores do impeachment sobre suas preocupações com a conduta de Trump relativa à Ucrânia. A diretora de assuntos russos, Fiona Hill, testemunhou que Bolton explodiu em frustração após uma reunião na Casa Branca em 10 de julho, na qual Gordon Sondland, embaixador dos EUA na União Europeia, pressionou autoridades ucranianas a abrir investigações sobre Biden e a campanha de 2016.

Bolton, disse Hill, equiparou as discussões a um "negócio de drogas" e disse a ela para denunciá-lo imediatamente a John Eisenberg, o principal advogado do Conselho de Segurança Nacional.

Além disso, William Taylor, então embaixador na Ucrânia, depôs que Bolton foi "muito solidário" quando expressou preocupações ao então conselheiro de segurança nacional de que a ajuda militar à Ucrânia estava sendo usada para obter favores políticos.

Bolton recomendou que Taylor enviasse um telegrama em "primeira pessoa" ao secretário de Estado, Mike Pompeo, sobre suas preocupações para documentar o assunto. Taylor depois ouviu de outras autoridades do Departamento de Estado que Bolton estava trabalhando para levar a ajuda à Ucrânia.

Os senadores republicanos pareceram divididos quanto à possibilidade de ouvir Bolton.

John Cornyn, do Texas, que é próximo de McConnell, disse a Guy Benson, editor político do site conservador Townhall.com, que o testemunho de Bolton poderia ser "útil ao presidente" e que ele gostaria de saber mais sobre o que ele diria. Outros republicanos, incluindo Marco Rubio, da Flórida, sugeriram que o Senado deveria considerar apenas as evidências já reunidas na Câmara, excluindo Bolton.

"Acho que não temos nenhuma obrigação de considerar nada fora dos registros do que foi criado para os artigos que nos enviaram", disse Rubio a repórteres.

Autoridades democratas previram na semana passada que Pelosi entregaria os artigos ao Senado ainda nesta semana, embora a presidente da Câmara tenha mantido seus planos em sigilo e seu gabinete tenha se recusado a detalhar seu cronograma.

O senador Josh Hawley, do Missouri, e vários outros republicanos apresentaram uma resolução na segunda-feira para dispensar os artigos de impeachment sem julgamento, já que Pelosi ainda não entregou os documentos. Mas parece improvável que a medida seja votada.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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