O presidente argentino, Alberto Fernández, disse que o papa Francisco prometeu fazer tudo o que puder para ajudar na crise da dívida de sua terra natal.
Os dois líderes, que se conhecem há anos, reuniram-se nesta sexta-feira (31) no Vaticano.
O encontro a portas fechadas durou cerca de 45 minutos, tempo mais longo do que o que o pontífice costuma conceder a outros chefes de Estado, inclusive ao antecessor de Fernández, Mauricio Macri.
"O papa está nos ajudando muito, e eu aprecio isso porque ele é um argentino preocupado com sua terra natal. A dívida trouxe pobreza à sociedade", disse o presidente durante entrevista coletiva em frente à embaixada do país em Roma.
No final do encontro, que aconteceu na biblioteca papal, Francisco pediu em espanhol a Fernández e a sua mulher, Fabiola Yáñez, que os dois defendam a paz na Argentina.
"Foi examinada a situação do país, especialmente em relação a alguns problemas como a crise econômica financeira, a luta contra a pobreza, a corrupção, o narcotráfico, a ascensão social e a proteção da vida desde sua concepção", resumiu o Vaticano em um curto comunicado sobre a reunião.
Segundo a agência de notícias AFP, o presidente admitiu ter debatido dois temas delicados para Francisco, ainda que sem se aprofundarem na discussão: a legalização do aborto, defendida abertamente por Fernández, e uma eventual viagem do papa a seu país de origem.
Francisco não visita a Argentina desde que se tornou o primeiro papa da América Latina, em 2013, mas o presidente afirmou não ter feito um novo convite ao pontífice porque não queria pressioná-lo. "O papa é uma figura transcendental, está muito além dos argentinos, é da humanidade", acrescentou.
O tema é sensível na Argentina, e Francisco nunca explicou por que nunca quis visitar seu país.
Para analistas, o papa evita um retorno para não ser acusado de interferir na política local, já que ele é visto como simpático ao peronismo e crítico ao discurso liberal simbolizado por Macri.
O próprio Fernández compartilha muitas das ideias do papa sobre justiça social e citou o pontífice repetidamente em seu discurso de posse, em dezembro.
O centro-esquerdista de 60 anos prometeu contornar as divisões sociais e implantar um sistema de crédito com taxas baixas para impulsionar a demanda doméstica, além de aumentar os gastos para combater a fome e a pobreza.
O mandatário argentino recebeu um país em recessão desde meados de 2018, com um dos índices de inflação mais altos do mundo (53,8% em 2019). Já a pobreza atinge cerca de 40% da população.
O novo governo argentino também está empenhado em uma série de negociações com os credores pela dívida externa, que representa 91,6% do Produto Interno Bruto.
Na semana que vem, um seminário organizado no Vaticano representa mais uma oportunidade de diálogo, pois contará com a presença da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, e do ministro argentino da Economia, Martín Guzmán.
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