Capital de Estado palestino proposta por Trump tem pouca ressonância religiosa

Abu Dis, citada no plano de paz do americano, é expansão urbana inexpressiva de Jerusalém

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Jerusalém | Reuters

Abu Dis, cidade escolhida para ser a capital palestina no plano de paz para o Oriente Médio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fica a curta distância a leste da Cidade Velha de Jerusalém, cercada por muralhas.

Uma expansão urbana relativamente inexpressiva na antiga estrada para Jericó, tem pouco da ressonância religiosa ou cultural do centro histórico da cidade, que abriga locais sagrados para as três grandes religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo.

Abu Dis pertence à administração palestina de Jerusalém, mas fica junto dos limites municipais israelenses estabelecidos por Israel após capturar Jerusalém Oriental da Jordânia em 1967, anexando-a posteriormente em uma medida não reconhecida pela maior parte da comunidade internacional.

O que o bairro tem é um grande prédio com venezianas que foi construído em uma era anterior e mais esperançosa para ser a sede do Parlamento da Autoridade Palestina.

Construção abandonada do Parlamento palestino na cidade palestina de Abu Dis, na Cisjordânia, região ocupada por Israel - Ammar Awad - 29.jan.20/Reuters

Esse salão agora está abandonado e em desuso após o colapso do processo de paz de Oslo e a eclosão da segunda Intifada palestina, ou levante, há duas décadas.

Desde então, os palestinos em Abu Dis foram isolados dos bairros de Jerusalém a oeste por um alto muro de concreto que Israel construiu para impedir que homens-bomba e pistoleiros entrassem na cidade.

Os estudantes de uma universidade próxima usaram a parede como pano de fundo para projetar filmes durante as noites de verão, quando se sentam ao ar livre.

O documento da Casa Branca que acompanha o lançamento do plano dos EUA diz que a barreira deve "servir de fronteira entre as capitais das duas partes". Ele afirma que Jerusalém "deve permanecer a capital soberana do Estado de Israel e deve continuar sendo uma cidade indivisa".

E continua: "A capital soberana do Estado da Palestina deve estar na seção de Jerusalém Oriental, localizada em todas as áreas a leste e norte da barreira de segurança existente, incluindo Kafr Aqab, a parte oriental de Shuafat e Abu Dis, e poderia ser chamada de Al Quds ou outro nome, conforme determinado pelo Estado da Palestina".

Locais sagrados

Isso deixaria sob o controle de Israel a colina no centro da Cidade Velha, conhecida pelos judeus como Har ha-Bayit, ou Monte do Templo, e pelos muçulmanos como al-Haram al-Sharif, ou O Nobre Santuário.

O local mais sagrado do judaísmo abrigou os templos judaicos na Antiguidade, e seu muro de contenção construído por Herodes, o Grande —conhecido como Muro Ocidental—, é um lugar de oração para os judeus.

Sobre o platô estão dois imponentes locais sagrados muçulmanos, a Cúpula da Rocha e a Mesquita Al-Aqsa, que foi construída no século 8º. Os muçulmanos consideram o local o terceiro mais sagrado do islã, depois de Meca e Medina.

É esse complexo que os palestinos buscam como parte da capital de um futuro Estado, e ao qual o presidente palestino, Mahmoud Abbas, referia-se quando disse que era "impossível para qualquer criança palestina, árabe, muçulmana ou cristã aceitar" um Estado sem Jerusalém.

No dia seguinte ao plano de Trump ter identificado Abu Dis como possível capital, os moradores desprezaram a ideia.

Mohammed Faroun, um morador de Abu Dis, disse: "A capital da Palestina é Jerusalém".

Outro morador, que se recusou a dar seu nome, afirmou: "Trump, ou quem quer que seja, não é bem-vindo. Jerusalém conta sua própria história, cada pedra fala sobre sua história. Nunca foi israelense ou americana; é palestina, islâmica e árabe".

Barreira israelense que corta a cidade palestina de Abu Dis na Cisjordânia - Ammar Awad - 29.jan.20/Reuters
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