Descrição de chapéu The Washington Post

Presidente da Câmara diz que Trump está 'impichado' por toda a vida

Julgamento de presidente dos EUA pode começar ainda nesta semana

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Elise Viebeck
Washington Post

A presidente da Câmara dos Deputados americana, a democrata Nancy Pelosi, disse no domingo (12) que o presidente Donald Trump foi “impichado” por toda a vida, independentemente de qualquer “manobra” do senador Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, a quem acusou de orquestrar o “acobertamento” dos atos de Trump, enquanto o Senado aguarda a transmissão dos artigos de impeachment pela Câmara.

Desafiando McConnell a promover um julgamento sério que inclua depoimentos de testemunhas, Pelosi não excluiu a possibilidade de a Câmara intimar judicialmente a depor o ex-assessor de segurança nacional John Bolton, caso o Senado opte por não fazê-lo. Ela criticou McConnell repetidas vezes por assinalar que não está interessado em avaliar seriamente as acusações feitas pela Câmara.

“Passar por cima das acusações é um acobertamento. Se eles quiserem seguir esse caminho outra vez, os senadores que agora estão pensando em votar pela inclusão ou não de testemunhas —eles serão responsáveis pela não realização de um julgamento justo”, disse Pelosi no programa "This Week”, da ABC News.

A democrata Nancy Pelosi, durante entrevista para a imprensa no Capitólio, em Washington - Brendan Smialowski - 09.jan.20/AFP

A presidente da Câmara deu essas declarações dias antes do início previsto do julgamento de impeachment de Trump no Senado. Será a terceira vez que um presidente dos EUA enfrenta a possibilidade de ser afastado de seu cargo depois de ser impedido pela Câmara.

Pelosi disse que se reunirá com deputados democratas na manhã da terça-feira (14) para discutir quando será feita a votação para a escolha dos gerentes do impeachment —os seis deputados que vão atuar como promotores no julgamento e vão transmitir as acusações ao Senado. O julgamento pode começar na quarta-feira (15) se a Câmara agir prontamente, mas parlamentares e seus assessores especulam que ele não começará efetivamente até a próxima semana.

A Câmara aprovou dois artigos de impeachment em 18 de dezembro –por abuso de poder e obstrução do Congresso. Pelosi surpreendeu observadores ao não transmitir as acusações ao Senado imediatamente. Com a estratégia, ela quis pressionar Mitch McConnell a definir termos mais justos para o julgamento.

A entrevista do domingo ocorreu depois de Pelosi ter assinalado que vai acabar com o impasse que se arrasta há três semanas, indicando em carta a seus colegas na sexta-feira (10) que transmitiria os artigos de impeachment ao Senado esta semana, mesmo sem qualquer indicação clara de McConnell sobre como será conduzido o julgamento.

No domingo Pelosi acusou McConnell de acobertamento, por ele ter assinado uma resolução que permitiria ao Senado rejeitar as acusações de impeachment se a Câmara não os transmitisse em até 25 dias depois de aprovadas.

Num tuíte postado na tarde de domingo, Trump pediu que as acusações sejam arquivadas sem julgamento. Ele escreveu: “Muitos acreditam que, se em vez de rejeitar as acusações diretamente o Senado admite um julgamento baseado em um impeachment fraudulento, sem provas, sem crime, leia as transcrições, ‘sem pressão’, isso confere à caça às bruxas enviesada movida pelos democratas uma credibilidade que de outro modo ela não possui. Concordo!”

A potencial ausência de testemunhas e provas documentais em um julgamento de impeachment no Senado seria mais um “acobertamento”, disse Pelosi, defendendo sua decisão de não transmitir os artigos imediatamente, apesar de isso não ter resultado nas concessões que ela procurava de McConnell.

“Queríamos que o público visse a necessidade de testemunhas, testemunhas com conhecimento em primeira mão do que aconteceu, e de documentação”, disse Pelosi.

Quando George Stephanopoulos, apresentador do “This Week”, destacou que McConnell “não mudou um centímetro em sua posição em relação a testemunhas”, Pelosi disse que ele será “responsável perante o povo americano por isso”.

“Eles fazem um juramento solene prometendo um julgamento justo”, ela disse. “Agora a bola está com eles. Ou fazem isso ou pagam o preço por deixar de fazer.”

Os republicanos do Senado se uniram em torno do precedente do julgamento de impeachment do presidente Bill Clinton em 1999, em que os argumentos em favor de seu afastamento da Presidência foram apresentados e rejeitados antes de serem tomadas decisões sobre convocação de testemunhas ou procura de provas adicionais.

Pelosi rejeitou as comparações com 1999 “por pelo menos seis razões, sendo a maior que todas as testemunhas (que acabaram depondo no julgamento de Clinton) foram interrogadas em depoimento judicial” antes de prestarem depoimento público.

“As provas já estavam acessíveis”, ela explicou. “Foi apenas uma questão de trazê-las mais para o primeiro plano.”

A estratégia de McConnell de promover um julgamento sem testemunhas foi complicada por vários fatos novos ocorridos nos últimos 15 dias.

A senadora republicana Susan Collins, do Maine, informou que está trabalhando com um grupinho de republicanos para assegurar que o julgamento inclua testemunhas.

E Bolton anunciou este mês que se o Senado o intimar judicialmente, ele está disposto a depor. No outono ele rejeitou pedidos para ser testemunha durante a investigação feita pela Câmara.

Pelosi disse que a Câmara não eliminou a possibilidade de intimar Bolton se o Senado não o fizer, mas falou “vamos aguardar para ver o que eles farão”.

Ela tampouco excluiu a possibilidade de a Câmara redigir novos artigos de impeachment.

Stephanopoulos destacou que pouco antes de seu programa começar, Trump fez um post no Twitter chamando Pelosi de “Crazy Nancy” e escarnecendo do presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, o deputado democrata Adam Schiff.

“É domingo de manhã e eu queria falar de coisas mais agradáveis do que a natureza errática deste presidente”, disse Pelosi em resposta. “Mas ele precisa saber que cada insulto que ele lança nos fortalece. Tudo o que ele diz é projeção. Quando ele chama outra pessoa de maluca, ele sabe que ele próprio o é. Tudo o que ele diz você pode traduzir de volta e saber que se refere a ele.”

O líder da minoria republicana na Câmara, deputado Kevin McCarthy, sugeriu no “Sunday Morning Futures” da Fox News que Pelosi teria adiado intencionalmente a transmissão dos artigos de impeachment ao Senado para adiar a realização de um julgamento que vai exigir a participação presencial do senador independente Bernie Sanders, pré-candidato presidencial em 2020. McCarthy argumentou que isso fortaleceria o ex-vice-presidente Joe Biden, um dos rivais de Sanders, no período que precede os caucus democratas de 3 de fevereiro no Iowa.

“O que isso faz é beneficiar Joe Biden”, disse McCarthy, destacando que Sanders “vai estar parado, sem sair do lugar”.

McCarthy não mencionou os outros senadores democratas que disputam a candidatura presidencial por seu partido —Elizabeth Warren, do Massachusetts, Amy Klobuchar, de Minnesota, e Cory Booker, de Nova Jersey, todos os quais terão que acompanhar pessoalmente o julgamento do impeachment.

No mesmo programa, o senador republicano o Rick Scott, da Flórida, disse que gostaria que Hunter Biden, filho de Joe Biden, fosse chamado para depor, mas não mencionou nenhuma outra testemunha possível.

Quando se trata de decidir quais testemunhas vão depor ou mesmo se alguma vai depor, Scott disse que isso será decidido depois de iniciado o julgamento.

“Vamos seguir as regras do Senado, não as regras de Nancy Pelosi”, disse Scott. “Vamos ouvir os dois lados e então tomar uma decisão.”

O ex-estrategista de Trump Steve Bannon, por sua vez, disse que Trump deveria autorizar seus assessores a depor diante dos senadores, exigindo em contrapartida que sejam convocados Joe e Hunter Biden, além de outras testemunhas, como o delator inicial da CIA cuja queixa está no centro da investigação ao impeachment.

O inquérito de impeachment da Câmara enfocou em parte se o presidente exerceu pressão inapropriada sobre o presidente da Ucrânia para investigar os vínculos de Hunter Biden com a Burisma, a maior empresa privada de gás ucraniana, e se Joe Biden tentou proteger o dono da Burisma enquanto foi vice-presidente. Não veio à tona nenhuma prova de conduta criminal por parte dos Biden, mas Trump e outros republicanos dizem que eles devem ser interrogados.

“Acho que essas testemunhas precisam ser convocadas”, disse Bannon, acrescentando que John Bolton e o chefe-de-gabinete interino da Presidência, Mick Mulvaney, também poderiam aparecer durante o julgamento. “Tragam-nos para depor. O que eles têm a mostrar? Donald Trump não fez nada de errado.”

Antes do meio-dia Trump escreveu no Twitter: “Por que tenho que ter o estigma do impeachment ligado a meu nome quando não fiz NADA de errado? leiam as transcrições! Uma farsa totalmente partidária... muito injusta com dezenas de milhões de eleitores!”

Trump afirmou que três democratas votaram contra o impeachment, ao lado dos republicanos.

Na realidade, dois democratas votaram contra a acusação de abuso de poder e três votaram contra a acusação de obstrução do Congresso.

Um dos democratas que votou contra os dois artigos, o deputado Jeff Van Drew, de Nova Jersey, mudou de partido desde então, tornando-se republicano.

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.