Descrição de chapéu The New York Times

Sanders me disse que mulher não conseguiria ser eleita presidente dos EUA, afirma Warren

Acusação acontece em meio ao acirramento da disputa entre os dois democratas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Astead W. Herndon Jonathan Martin
The New York Times

A senadora Elizabeth Warren (de Massachusetts) afirmou nesta segunda-feira (13) à noite que o senador Bernie Sanders (de Vermont) havia lhe dito em 2018 que não achava que uma mulher pudesse ganhar à Presidência dos EUA.

A descrição de Warren do comentário, feito em uma reunião particular, mostra um forte ataque de seu principal rival de esquerda na corrida para a eleição de 2020, apenas três semanas antes das convenções do partido democrata em Iowa.

Sanders negou veementemente o comentário na segunda-feira de manhã e acusou a equipe da campanha de Warren de "mentir" sobre isso, em um comunicado que pretendia refutar uma reportagem da CNN baseada em fontes anônimas.

A senadora Elizabeth Warren durante evento de sua campanha na última sexta (10)
A senadora Elizabeth Warren durante evento de sua campanha na última sexta (10) - Brian Snyder - 10.jan.20/Reuters

O jornal The New York Times e outros meios de comunicação confirmaram a reportagem da CNN na segunda-feira à tarde, enquanto a campanha de Warren inicialmente se recusou a comentar.

Os dois democratas terão um embate na noite desta terça-feira (14) em um debate televisionado, em meio ao impasse mais tenso da luta pela indicação democrata: Sanders insistindo que ele não fez o comentário explosivo, o que poderia alienar muitos democratas, e Warren dizendo publicamente que ele fez o comentário.

Warren, em um comunicado na noite de segunda-feira, disse que Sanders fez o comentário em uma reunião de duas horas em dezembro de 2018, onde discutiram a eleição de 2020 e "nosso trabalho passado juntos e nossos objetivos comuns", em especial, derrotar o presidente Donald Trump.

 “Entre os assuntos que surgiram estava o que aconteceria se os democratas indicassem uma candidata. Eu disse que acreditava que uma mulher poderia vencer; ele discordou”, disse Warren. "Não tenho mais interesse em discutir essa reunião privada porque Bernie e eu temos muito mais em comum do que nossas diferenças em termos de opinião."

Ela acrescentou que ela e Sanders eram "amigos e aliados" e disse que acreditava que continuariam trabalhando juntos para derrotar Trump.

Internamente, a declaração de Warren irritou a equipe de campanha de Sanders e aparentemente surpreendeu alguns membros.

Sua declaração representa uma inesperada ruptura no relacionamento entre Warren e Sanders, que tem sido amplamente cordial e mutuamente benéfico.

Eles são dois dos principais candidatos em Iowa, onde lutam por uma fatia semelhante de eleitores, e a troca de acusações provavelmente animará não apenas o debate de terça-feira à noite, mas a disputa entre os grupos mais à esquerda que apoiam ambos.

Os assessores de Warren insistiram que ela não teve a intenção de transformar essa reunião privada em um espetáculo público. No entanto, depois que a equipe de Sanders negou veementemente as informações, alguns assessores disseram acreditar que ela não teve escolha a não ser dar sua versão.

Sanders, em sua declaração na segunda-feira, disse que era "absurdo" acreditar que ele teria feito tal comentário.

"É triste que, três semanas antes da convenção em Iowa e um ano depois dessa conversa particular, colaboradores que não estavam na sala estejam mentindo sobre o que aconteceu", disse Sanders. “Se acredito que uma mulher possa vencer em 2020? Claro! Afinal, Hillary Clinton venceu Donald Trump por 3 milhões de votos em 2016.”

Sanders acrescentou que ele dissera a Warren "que Donald Trump é um sexista, racista e mentiroso que usaria qualquer coisa que pudesse como arma contra os oponentes".

Pessoas familiarizadas com a reunião de 2018, que foram informadas sobre ela logo após a sua realização, mas que não estavam autorizadas a falar publicamente sobre o assunto, disseram que Sanders fez o comentário enquanto fazia sua avaliação sobre a próxima disputa.

Ao comunicar a Warren os desafios que ele achava que a campanha dela enfrentaria, ele disse não apenas que Trump faria uso do sexismo, mas também que esses ataques impossibilitariam uma mulher de ser eleita, de acordo com os relatos. 

Larry Cohen, um amigo de longa data e assessor de Sanders, disse na segunda-feira que o senador havia contado a ele sobre a reunião depois que ela aconteceu e que ele não acreditava na reportagem.

"Tudo o que sei sobre Bernie Sanders há 30 anos me diz que ele nunca falaria assim, muito menos para uma mulher que ele admira muitíssimo", disse Cohen.

Faiz Shakir, gerente de campanha de Sanders, pediu a Warren na tarde de segunda-feira que ela refutasse a acusação.

"Precisamos ouvir isso diretamente dela", disse Shakir, "mas sei o que ela diria —que não é verdade, que é uma mentira."

A existência da reunião é pública desde pouco depois de ela ter ocorrido em dezembro de 2018. O New York Times informou logo após ela ter sido realizada que Warren tinha entrado em contato "como cortesia" e que nenhuma das partes havia tentado obter o apoio da outra ou dissuadir a outra da disputa. Mas os dois senadores eram as únicas pessoas na sala, e todos os relatos do que foi dito foram de segunda mão.

Questionada em março passado se Sanders havia pedido que ela não concorreresse, Warren disse: "Bernie e eu jantamos em particular, e minha opinião é que o jantar permanece em sigilo".

Todo o efeito político da controvérsia pode depender do que vai acontecer durante o debate de terça-feira, em Des Moines, Iowa. Até o momento, Warren e Sanders concentraram seus ataques em rivais mais moderados, uma consequência de sua amizade e um desejo de não prejudicar a ala esquerda do partido.

No entanto, as tensões entre as duas campanhas —e entre seus apoiadores mais fervorosos— aumentaram nos últimos dias. Uma pesquisa do jornal The Des Moines Register e da rede de TV CNN colocou Sanders e Warren como os dois principais candidatos em Iowa, com ele na liderança.

Além da forma como os candidatos vão lidar com o problema, está a questão de como exatamente ele é interpretado —como uma manifestação sexista de um candidato cuja campanha de 2016 enfrentou reclamações de colaboradores do sexo feminino, uma infâmia de última hora feita por uma candidata que perdeu terreno ou uma combinação de ambos.

No fim de semana, o site Politico publicou uma reportagem sobre um roteiro distribuído aos voluntários da campanha de Sanders que sugeria que os apoiadores de Warren apoiassem Sanders. "As pessoas que a apoiam são pessoas altamente escolarizadas e mais ricas que vão comparecer e votar nos democratas, não importa o que aconteça", diz o texto. "Ela não está trazendo novas bases para o Partido Democrata."

Respondendo sobre o roteiro vazado, Warren disse que Sanders estava "enviando seus voluntários para me destruir”.

Ela pediu que o antagonismo visto entre os democratas durante as primárias de 2016, em que Sanders enfrentou Clinton, não se repetisse. "Não podemos deixar que isso se repita", disse ela. "Os democratas precisam unir nosso partido, e isso significa atrair todas as partes da coalizão democrata."

Sanders disse que ele nunca havia atacado pessoalmente Warren e que as duas campanhas tinham centenas de colaboradores, que "às vezes dizem coisas que não deveriam".

No final da segunda-feira, a deputada Tulsi Gabbard, do Havaí, outra candidata presidencial democrata, escreveu no Twitter que também se encontrara com Sanders antes de anunciar sua candidatura.

"Tivemos uma boa conversa individual e eu o informei que estaria concorrendo à presidência", disse ela. "Naquela reunião, ele me mostrou o maior respeito e encorajamento, como ele sempre fez."

 O Democracy for America (Democracia para a América), um proeminente grupo progressista, manifestou sua preocupação na segunda-feira diante das crescentes tensões.

 "Vocês dois são campeões progressistas e nosso movimento precisa de vocês trabalhando juntos para derrotar seus adversários democratas corporativos —e não atacar um ao outro", tuitou o grupo. "Os progressistas vencerão em 2020, mas apenas se não deixarmos a ala corporativa ou Trump nos dividir."

Tradução de AGFox

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.