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'Terceirização' de serviços de inteligência tornará ciberataque a Bezos novo normal

Companhias vendem serviços a governos, como o da Arábia Saudita, suspeito de invadir celular de dono da Amazon

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Davos

Jeff Bezos é uma das vítimas mais famosas de um dos problemas mais importantes do mundo hoje: a comercialização de poderosas ferramentas de vigilância. 

O caso que envolve o dono da Amazon joga luz sobre velhos conhecidos de quem acompanha o tema: companhias que atuam na estarrecedora prática de vender ferramentas de espionagem e não estão sujeitas a qualquer tipo de controle efetivo.

Para entender o tamanho do problema, vale considerar, por exemplo, apenas uma das ferramentas oferecidas pela empresa italiana Hacking Team, o Remote Control System (sistema de controle remoto), um vírus para espionar computadores e celulares.

O empresário Jeff Bezos, dono da Amazon, durante conferência em Washington
O empresário Jeff Bezos, dono da Amazon, durante conferência em Washington - Joshua Roberts - 7.mar.17/Reuters

Por meio dele, o cliente tem acesso a praticamente todas as informações que a pessoa armazena ou transmite pelo aparelho.

A infecção geralmente se dá com apenas um clique. Um e-mail, um SMS ou uma mensagem de WhatsApp sobre um assunto qualquer são enviados para a pessoa, com um link.

O usuário clica nele (no celular, o clique pode acontecer até acidentalmente) e, a partir daí, o código espião se instala e tudo fica exposto para os hackers.

Os principais clientes de empreasas-hacker como essas são governos. Há evidências de que clientes usuais de ferramentas de espionagem da Hacking Team eram países como Egito, Colômbia, Panamá, México e Arábia Saudita. 

É justamente sobre a Arábia Saudita que recaem as suspeitas da autoria da invasão ao celular de Bezos em maio de 2018, meses antes de o regime assassinar o jornalista saudita Jamal Khashoggi, colunista do jornal The Washington Post, do qual o empresário é dono.

O veículo tem feito uma cobertura crítica do regime saudita.

Tecnologias como as vendidas pela Hacking Team vêm sendo usadas também para perseguição de opositores e para neutralizar ativistas.

A Universidade de Toronto, por meio do seu laboratório Citizen Lab, relatou o uso da tecnologia para intimidar jornalistas na Etiópia e dissuadir minorias xiitas na Arábia Saudita.

Não por acaso, a organização Repórteres Sem Fronteiras colocou a Hacking Team na lista de empresas "inimigas da internet".

Seria o Brasil também um cliente? Artigo publicado em 2015 pelo grupo Coding Rights, que coordena o projeto Antivigilância, relata investigação preliminar para apurar se há menções ao país em documentos que vazaram da própria Hacking Team (sim, hackers também podem ser hackeados!). 

Se os documentos forem verdadeiros, a organização encontrou trocas de e-mails entre a companhia e uma empresa brasileira de segurança e também com um integrante de um órgão público.

Não são evidências conclusivas, mas o fato é que vários governos, inclusive democráticos, sentem-se hoje tentados a adquirir tecnologia de empresas como a Hacking Team.

Como o caso de Bezos demonstra, essa "terceirização" de serviços de inteligência para firmas como essa é em si uma enorme vulnerabilidade e um risco para direitos fundamentais e a democracia.

Esse problema é um ovo da serpente. Ou se lida com ele agora ou o que aconteceu com Bezos será o novo normal.


Se até Bezos foi hackeado, saiba se proteger no Whatsapp

  • Solicite a verificação da conta via SMS: entre no WhatsApp com seu número de telefone e confirme o código de 6 dígitos que você receber via SMS. Dessa forma, qualquer um que estiver usando sua conta será desconectado
  • Notifique amigos e família: entre em contato com pessoas próximas para que ninguém possa se passar por você
  • Ative a verificação em duas etapas
  • Em caso de tentativa de roubo de conta, o WhatsApp também ressalta que a criptografia de ponta a ponta do aplicativo não é comprometida. Ou seja, o golpista não tem acesso a mensagens armazenadas no seu telefone
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