Descrição de chapéu The Washington Post

Terremoto em Porto Rico provoca apagões, feridos e ao menos uma morte

Tremor de magnitude 6,4 sucede desastre que, na segunda (6), destruiu um ponto turístico no sudoeste da ilha

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Cristina Corujo Arelis R. Hernández Samantha Schmidt
Guánica (Porto Rico) | The Washington Post

Uma série de terremotos fortes nesta semana, incluindo um grande tremor de magnitude 6,4 na manhã de terça-feira (7), provocou falta de energia e danos generalizados, deixando Porto Rico, que já é frágil, em uma situação ainda mais precária.

Escolas, casas e igrejas ao longo da costa sul desmoronaram. Hospitais evacuaram pacientes. Uma atração turística exclusiva caiu no mar. Pelo menos uma pessoa morreu, esmagada por um muro que tombou sobre sua casa.

O terremoto de terça seguiu outro de magnitude 5,8 ocorrido na segunda (6), e foi um dos inúmeros eventos sísmicos ao longo de uma linha de falha subaquática nos últimos dias. Todos eles enviaram ondas de choque por todo o território dos Estados Unidos, em meio a receios de que novos tremores pudessem derrubar a infraestrutura principal.

 

Os terremotos ocorreram apenas alguns meses depois que um escândalo envolvendo o ex-governador Ricardo Rosselló desencadeou protestos e tumultos políticos enormes.

Entre as comunidades atingidas estão algumas que ainda passam por dificuldades mais de dois anos após o catastrófico furacão Maria varrer a ilha. Muitas casas permanecem cobertas por lonas azuis no lugar dos telhados.

"Não estávamos preparados para algo dessa magnitude", disse Ángel Luis "Luigi" Torres, prefeito de Yuaco, cidade no sudoeste afetada pela tempestade e pelos terremotos desta semana. "Nós nem estávamos preparados para um furacão. Agora imagine um terremoto."

A governadora Wanda Vázquez Garced declarou estado de emergência na terça, e disse que as autoridades estão avaliando os danos e inspecionando as usinas de geração de energia de Porto Rico —todas localizadas ao longo da costa sul, perto da origem da atividade sísmica. Ela também disse aos funcionários do governo para ficarem em casa, pois mais tremores secundários são esperados.

"Haverá outros terremotos, preparem-se", afirmou. "Isso continuará a acontecer. Por quanto tempo? Não podemos dizer.”

A usina de energia Costa Sur, localizada perto do epicentro do terremoto, foi danificada, e milhões de pessoas em toda a ilha ficaram sem eletricidade.

José Ortiz, diretor executivo da concessionária de energia de Porto Rico, disse na noite de terça que a eletricidade foi restabelecida para 100 mil dos 1,4 milhão de clientes da concessionária na ilha.

Autoridades esperam poder restabelecer a energia antes do fim de semana, segundo o diretor.

"Aprendemos com nossos erros do passado", disse Ortiz. "Queremos fazer as coisas pouco a pouco, para que quem tiver energia, continue com energia”.

As autoridades informaram que há 300 mil pessoas sem abastecimento de água. Não foram relatados grandes danos a barragens e portos marítimos, e os danos nas estradas pareciam estar limitados a áreas locais na região sul. O governo está trabalhando para ligar três "megageradores" adquiridos após o furacão Maria.

Durante uma entrevista coletiva na terça, a governadora, Vázquez Garced, disse que Porto Rico não atualiza seu plano contra terremotos há mais de um século, em referência a um terremoto e tsunami de 1918 que mataram cerca de cem pessoas e causaram graves danos nas cidades do noroeste da ilha. Segundo ela, o governo recentemente contratou uma empresa para preparar esse documento.

O terremoto de San Fermin de 1918 registrou uma magnitude de 7,3 e foi o mais desastroso e mortal da história de Porto Rico. O terremoto de terça foi o mais forte perto da ilha desde 2014.

As autoridades locais estão preocupadas que a atividade sísmica excepcionalmente forte tenha apanhado o território dos EUA desprevenido. A grande maioria dos prédios das escolas públicas e milhares de residências —sobretudo nas áreas rurais, onde a construção é mais informal—, não seguem os códigos de construção atuais, de acordo com o senador do estado de Porto Rico, Ramon Luis Nieves.

Vázquez Garced acrescentou que seu governo ainda não tinha tido contato direto com a Casa Branca até o final da terça. Um porta-voz da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências disse que as autoridades estão considerando o pedido do governador para uma declaração de emergência.
 
O Conselho de Supervisão e Gestão Financeira de Porto Rico disse que aprovou o uso de fundos de reserva de emergência dos exercícios fiscais de 2019 e 2020 para serem usados para despesas relacionadas aos terremotos, mas quaisquer gastos locais certamente afetarão um governo que está falido e lutando para se recuperar da fúria do furacão Maria.
 
O blecaute de terça alimentou os temores de um novo furacão Maria, que deixou áreas sem energia por meses, isolou a população em algumas áreas rurais e resultou em mais de 4.000 mortes.
 
"Tudo está paralisado", disse Marcos Irizarry Pagan, prefeito de Lajas, município do sul afetado pelo terremoto, durante uma entrevista ao vivo para a estação local Telemundo, em Porto Rico. "Espero que não seja como o Maria."
 
Gladyra Archilla, porta-voz da cidade de Ponce, localizada na costa sul, confirmou que um homem de 70 anos morreu quando um muro de sua casa desabou sobre ele. A equipe de emergência estava tentando resgatar outra pessoa presa sob os escombros da mesma casa. Archilla afirmou que muitos prédios da cidade —a segundo maior de Porto Rico— foram danificados.
 
As autoridades responsáveis pela eletricidade de Porto Rico relataram danos à infraestrutura ao longo da costa sul e disseram que estavam avaliando as subestações em toda a ilha. A porta-voz da concessionária, Edith Seda, disse que o sistema foi projetado para desligar automaticamente em caso de vibrações, e a extensão dos danos à usina de Costa Sur ainda não estava clara.
 
Seda afirmou que há equipes trabalhando para restaurar a energia assim que for seguro fazê-lo em meio aos tremores secundários. É possível que certos setores recebam eletricidade antes de outros; geradores estão fornecendo energia para o principal hospital da ilha, o Centro Médico. O aeroporto internacional de San Juan está em operação, de acordo com autoridades.
 
A maior parte dos danos causados pelo terremoto ocorreu na região costeira do sul de Ponce, a oeste dos municípios de Yauco, Guánica, Guayanilla e Lajas.
 
Na cidade de Yauco, no sudoeste do país, 32 casas desabaram. Mais de cem prédios ficaram inabitáveis, e centenas de outras casas estão em risco, segundo o prefeito de Yauco, Ángel Luis "Luigi" Torres. Quase 400 pessoas foram forçadas a deixar suas casas e buscaram abrigo sob barracas em um estacionamento.
 
Um hospital evacuou todos os seus 80 pacientes, que aguardavam em barracas com ar-condicionado da Guarda Nacional na terça, continuou Torres.
 
Em Guánica, pelo menos 180 pessoas procuraram abrigo no Coliseu Mariano "Tito" Rodriquez na segunda (6), após o terremoto de magnitude 5,8 —que, aliás, atingiu a ilha na manhã do Dia de Reis, uma ocasião em geral festiva. Mas após o terremoto seguinte, o coliseu foi evacuado por medo de possíveis danos à estrutura, disse Zulma Bracero Martínez, membro do conselho municipal de Guánica.
 
Em vez disso, famílias tiveram que se agrupar no estacionamento do coliseu. Entre elas estava Noelia De Jesús, 69 anos, que estava no local com seu marido, Francisco Ramos, 72 anos, que usava cadeira de rodas.
 
O casal procurou refúgio depois que uma casa em frente à sua desabou no terremoto de segunda. Sentindo-se inseguros, eles embarcaram em um ônibus para o coliseu. Mas então, às 4h24 da manhã de terça, o tremor de magnitude 6,4 jogou as lâmpadas do teto do edifício ao chão. De Jesús perdeu o equilíbrio. O carrinho de bebê em que estava sua neta tombou.
 
"Eu pensei que íamos morrer", disse De Jesús.
 
A situação traz de volta lembranças terríveis aos dois. Duas décadas atrás, o furacão George danificou sua casa. Depois do furacão Maria, o casal morou em um abrigo por quase um ano.
 
"Tem sido muito difícil", disse De Jesús.

Centenas de pequenos tremores têm deixado as pessoas do arquipélago apreensivas desde 28 de dezembro. Os cientistas descreveram a ilha como ‘espremida’ entre duas falhas principais conhecidas como zonas de subducção, onde placas tectônicas estão encravadas umas sob as outras. A maior dessas zonas de subducção fica ao norte da ilha e pode potencialmente causar um terremoto catastrófico com magnitude igual ou superior a 7.
 
Os dois terremotos mais fortes desta semana ocorreram em uma falha ‘intraplaca’ marítima não mapeada ao sul da ilha, segundo Gavin Hayes, cientista pesquisador dos Serviços Geológico dos EUA (USGS, na sigla em inglês). Os epicentros estavam a poucos quilômetros de distância. Essa foi uma sequência  de terremotos de baixa intensidade que prenunciam outro maior relativamente incomum, na qual um terremoto moderado foi seguido por um grande.
 
É possível, embora improvável, que ambos os terremotos antecedam um evento ainda mais violento. A falha instável gerou quase duas dúzias de terremotos registrados com magnitude 3 ou superior nas últimas semanas. O USGS calcula que há 9% de chance de acontecer um tremor de magnitude 6,4 ou maior ao longo da falha na próxima semana, e 22% de chance de magnitude 6 ou superior.
 
O geofísico do USGS, John Bellini, declarou que acredita que o terremoto de 6,4 foi "o pico da pressão", mas os tremores secundários podem ser perigosos.
 
O deputado norte-americano Raúl Grijalva, democrata do Arizona, que preside o comitê que supervisiona os territórios dos EUA, incluindo Porto Rico, pressionou o governo Trump a liberar os fundos federais restantes de recuperação do furacão Maria para fornecer nova ajuda rapidamente.
 
"A indiferença e incompetência do governo Trump já custaram aos moradores de Porto Rico suas vidas e meios de subsistência, e continuar esse padrão agora é completamente inaceitável", disse Grijalva em comunicado. "Faço um apelo a este governo que lembre que vidas estão em risco e o público está assistindo."
 
Como muitos porto-riquenhos, Yaritza Llabreras sofreu diretamente essa perda de vidas depois do furacão Maria, com a morte de dois de seus avós. Agora ela se preocupa com a avó, que tem Alzheimer e está de cama há dois anos. Após os desastres desta semana, a família Llabreras foi resgatá-la em Guánica.
 
"Quando chegamos em casa, ela não parecia bem", disse Llabreras, 24 anos, acrescentando que agora a avó está recebendo tratamento médico. Mas Llabreras pensa em deixar a ilha.
 
"Se isso continuar, não sei onde vamos acabar", disse ela.

Tradução de AGFox

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