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Trump mandou Bolton ajudar em pressão à Ucrânia, diz ex-assessor

Pedido teria sido feito no Salão Oval em conversa que inclui chefe de gabinete e advogado da Casa Branca

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Washington | The New York Times

Mais de dois meses antes de pedir ao presidente da Ucrânia para investigar seus adversários políticos, Donald Trump instruiu John Bolton, então assessor de Segurança Nacional, a ajudá-lo em uma campanha de pressão para obter das autoridades ucranianas informações contra rivais democratas, segundo o manuscrito de um livro inédito de Bolton.

Trump deu a instrução, escreveu o ex-assessor, no início de maio, durante uma conversa no Salão Oval que incluiu o chefe de gabinete em exercício da Casa Branca, Mick Mulvaney, o advogado pessoal do presidente, Rudy Giuliani, e o advogado da Casa Branca, Pat A. Cipollone, que hoje comanda a defesa do presidente no processo de impeachment.

O presidente americano, de acordo com o manuscrito, disse a Bolton para telefonar para o então recém-eleito presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, para garantir que o líder europeu se encontraria com Giuliani a fim de discutir as investigações que Trump desejava. Bolton escreveu não ter dado o telefonema.

O presidente Donald Trump, à dir., escuta o hoje ex-assessor de Segurança Nacional John Bolton falar durante evento no Salão Oval
O presidente Donald Trump, à dir., escuta o hoje ex-assessor de Segurança Nacional John Bolton falar durante evento no Salão Oval - Leah Millis - 7.fev.19/Reuters

A ordem descrita por Bolton seria o caso mais antigo conhecido do líder republicano tentando utilizar o poder do governo dos EUA para pressionar a Ucrânia, como ele mesmo fez mais tarde no telefonema de julho a Zelenski, o que provocou a queixa de um denunciante anônimo e o processo de impeachment.

O relato no manuscrito de Bolton retrata os assessores mais graduados da Casa Branca como testemunhas da iniciativa da qual eles tentaram afastar o presidente.

A revelação da reunião também salienta o tipo de informação que os democratas buscavam ao exigir depoimentos dos principais assessores da Casa Branca na investigação do impeachment, incluindo os de Bolton e Mulvaney, que foram bloqueados pela Casa Branca.

Em um comunicado após a revelação de novas informações do manuscrito de Bolton, Trump negou a conversa descrita pelo ex-assessor.

"Eu nunca instruí John Bolton a marcar uma reunião para Rudy Giuliani, um dos maiores combatentes da corrupção nos EUA e de longe o maior prefeito da história de Nova York, encontrar-se com o presidente Zelenski", disse Trump. "Essa reunião não aconteceu."

Em uma rápida entrevista, Giuliani negou que a conversa tivesse ocorrido e disse que essas discussões com o presidente eram sempre mantidas em separado. Ele insistiu que Mulvaney e Cipollone nunca participaram de reuniões relacionadas à Ucrânia. "Isto é absolutamente, categoricamente falso", disse ele.

Nem Bolton nem um representante de Mulvaney responderam a pedidos de comentários.

Bolton descreveu a conversa de aproximadamente dez minutos nos rascunhos de seu livro, uma memória de seu tempo como assessor de segurança nacional.

Em várias páginas, ele expõe a fixação de Trump pela Ucrânia e a crença do presidente, baseada em uma mistura de fatos esparsos, afirmações e teorias conspiratórias, de que o país do Leste Europeu tentou minar suas chances de vencer a Presidência em 2016.

Quando Bolton começou a perceber a extensão e os objetivos da campanha de pressão, passou a se opor aos movimentos, escreveu ele no livro, confirmando o depoimento de uma ex-assessora de segurança nacional, Fiona Hill. 

Segundo ela, o ex-assessor avisou que Giuliani era "uma granada de mão que vai explodir todo mundo".

Trump também tomou diversas decisões de segurança nacional contrárias aos interesses dos EUA, escreveu Bolton, descrevendo uma sensação geral de alarme entre altos assessores sobre as opções do presidente.

O ex-assessor manifestou preocupação a outros membros do governo de que o presidente estivesse efetivamente concedendo favores a líderes autocráticos como Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, e Xi Jinping, da China.

O New York Times relatou nesta semana em outra revelação do rascunho do livro de Bolton que Trump lhe disse em agosto que queria continuar congelando US$ 391 milhões em ajuda à Ucrânia até que autoridades do país ajudassem nas investigações de democratas, incluindo o ex-vice-presidente Joe Biden e seu filho Hunter.

Esse relato mina um elemento chave da defesa da Casa Branca no impeachment —que o sequestro da ajuda financeira à Ucrânia não tinha relação com o pedido de investigações. Trump também negou que essa conversa tenha ocorrido.

O manuscrito de Bolton foi enviado à Casa Branca para um processo normal de revisão no final de dezembro.

Suas revelações estimularam a discussão sobre se os senadores deviam convocar testemunhas no julgamento de impeachment, mas no final da quinta-feira (30) os republicanos pareciam ter conseguido votos suficientes para manter qualquer novo testemunho longe do processo e avançar para uma absolvição rápida do presidente.

A Casa Branca tentou bloquear o lançamento do livro, afirmando que ele contém informação sigilosa.

O governo revisa livros de ex-funcionários do governo que tiveram acesso a segredos para que possam remover dos originais qualquer informação sigilosa.

Autoridades, incluindo Trump, descreveram Bolton, que muitas vezes teve atritos com Mike Pompeo, o secretário de Estado, e Mulvaney, como uma ex-autoridade revoltada, com um machado pronto para atacar.

Bolton irritou os democratas —e alguns republicanos— ao permanecer em silêncio durante a investigação da Câmara, depois anunciando que acataria qualquer intimação para depor no Senado e indicando estar ansioso para compartilhar sua história.

Autoridades do governo deveriam "sentir que podem falar o que pensam sem retaliação", disse ele em um almoço privado em Austin, no Texas, na quinta-feira (30), segundo a KXAN, afiliada da NBC, citando fontes anônimas.

"A ideia de que, de alguma forma, testemunhar o que você considera verdadeiro é destrutivo para nosso sistema de governo —eu acho que é muito perto do inverso, o inverso exato da verdade", acrescentou Bolton.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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