Descrição de chapéu The Washington Post

À frente nas pesquisas, Gantz vê 3ª eleição como grande chance de derrotar Bibi

Analistas afirmam que campanha eleitoral incessante em Israel fez ex-general ganhar força contra premiê

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Ruth Eglash
Tel Aviv | The Washington Post

Benny Gantz comprimiu uma carreira política inteira em um único ano turbulento. 

Neófito político quando se jogou na acirrada disputa eleitoral israelense, no final de 2018, Gantz enfrentou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o líder que passou mais tempo no poder no país, em duas eleições que terminaram em um impasse.

Agora, com os dois lados se preparando para o terceiro pleito em menos de um ano, marcado para 2 de março, observadores políticos dizem que a campanha política incessante converteu o ex-general do exército em um adversário ainda mais temível.

“Às vezes o fato de estarmos avançando tão rapidamente deixa tudo difícil, mas acordo todas as manhãs feliz com o que estou fazendo. Estou servindo à causa à qual me propus quando ingressei na política”, disse Gantz em uma rara entrevista.

O candidato do Partido Azul e Branco Benny Gantz durante comício em Haifa
O candidato do Partido Azul e Branco Benny Gantz durante comício em Haifa - Jack Guez - 11.fev.20/AFP

Um senso de otimismo paira no ar na sede de sua campanha, um espaço de três andares povoado de hipsters de Tel Aviv, com móveis enxutos da marca sueca Ikea e cercadinhos para três bebês nascidos de funcionárias da campanha desde que ela começou. 

Mesmo depois de duas eleições gerais não terem resultado num vencedor claro e apesar da apatia crescente do público israelense, as pessoas que trabalham para o Partido Azul e Branco, de Gantz, parecem estar cheias de energia.

Isso talvez reflita o fato de sua legenda estar em posição de vantagem nas pesquisas de opinião, que nas últimas semanas vêm colocando o Azul e Branco à frente do Likud, o partido governista de Netanyahu. 

Parece ser a continuação de uma tendência de alta verificada desde a primeira eleição, em abril do ano passado, quando, como partido recém-formado, o Azul e Branco ficou em segundo lugar, perdendo por pouco para o Likud. Em setembro o Azul e Branco já estava cerca de 40 mil votos à frente.

Funcionários da legenda dizem que sua confiança vem do próprio Gantz, ex-chefe do Estado-Maior do Exército. Figura imponente, mas de fala mansa, ele recebeu repórteres na quinta-feira (6) sentado numa poltrona, com ar descontraído, usando suéter preto, jeans pretos e botas da mesma cor.

“Somos como uma start-up que vai adquirindo outras firmas muito rapidamente”, disse Gantz, refletindo sobre o processo de unir outros partidos sob o guarda-chuva do Azul e Branco. “Crescemos muito rapidamente, e isso foi um desafio.”

Apesar de não ter conseguido afastar Netanyahu nas eleições anteriores –em parte devido ao sistema parlamentar israelense, baseado em coalizões—, Gantz agora está sendo visto amplamente como sucessor viável do premiê.

“O Azul e Branco vem melhorando, sem dúvida alguma”, afirma o jornalista Anshel Pfeffer, do Haaretz, autor do livro “Bibi: The Turbulent Life and Times of Benjamin Netanyahu”.

“Há menos sectarismo no partido, e a liderança está trabalhando bem”, comenta. “Esta é a terceira campanha eleitoral da qual ele participa, e os últimos 12 meses de campanha deixaram seus membros mais unidos.”

“O próprio Bibi, pelo fato de ser tão implacável, está ajudando o Azul e Branco a afiar sua plataforma”, diz Pfeffer, usando o apelido de Netanyahu e aludindo aos ataques frequentes que o premiê lança contra seus adversários políticos e legais. 

“O Azul e Branco agora está deixando muito claro que seu objetivo principal é um só: afastar Bibi.”

A mensagem dominante do partido é que Israel deve ter precedência sobre tudo –ideologia, religião e necessidades individuais. É uma alfinetada em Netanyahu, indiciado em três processos criminais envolvendo acusações de suborno, fraude e quebra de confiança

Gantz diz que seu partido e o Likud poderiam ter formado um governo de união se o primeiro-ministro tivesse renunciado.

Em sua campanha, Gantz defendeu um esforço para aproximar os lados diversos da sociedade israelense, para assegurar que o país seja “judaico, democrático, que tenha segurança garantida, seja economicamente próspero e moralmente correto”.

“Como povo judeu, precisamos combinar força com moralidade”, disse Gantz na entrevista.

“Especialmente no Oriente Médio, se você tem moralidade sem força, acabará sendo chutado. Se tiver força sem moralidade, você ingressará em áreas muito perigosas de extremismo e até mesmo fascismo.”

Ao longo de um ano de campanha, Gantz virou alvo de ataques frequentes de seus adversários, que zombaram de suas primeiras entrevistas à televisão, que traíam sua inexperiência, e o descreveram como alvo fácil.

“Não se chega à recompensa sem pagar um preço”, disse ele, fazendo pouco caso dos ataques. De modo geral, Gantz tem se abstido de reagir.

Em um ambiente político onde insultos e escárnio são comuns, seu tom comedido lhe valeu críticas.

Muitos o enxergam como sendo demasiado deferente e passivo para conseguir dar conta dos muitos problemas que o país enfrenta.

O deputado do partido Azul e Branco Michael Biton reconheceu as dificuldades que o país enfrenta, incluindo ameaças à segurança, desigualdade econômica e tensões sociais, mas disse que o crescimento de Gantz ao longo da campanha mostra que ele está preparado para encará-las de frente.

“Gantz montou a melhor equipe possível para responder aos desafios de segurança do país. Ele já provou que sabe como unir as pessoas”, diz Biton. “Essa é a habilidade mais importante de um primeiro-ministro.”

O ex-chefe do Exército parece ter ficado mais hábil ao longo do último ano.

Duas semanas atrás, o vice-presidente americano Mike Pence o convidou à Casa Branca para acompanhar o anúncio do aguardado plano de paz do presidente Donald Trump, dizendo que foi sugestão de Netanyahu que seu rival também estivesse presente. 

Muitos observadores políticos encararam o convite como uma armadilha –o anúncio do plano seria uma oportunidade para destacar os feitos diplomáticos de Netanyahu e a inexperiência de Gantz no palco internacional. 

Após dias de especulações na mídia sobre a possibilidade de ele rejeitar o convite de Trump, Gantz surpreendeu seus rivais e os analistas, anunciando que marcara um encontro separado com o presidente.

Ele receberia informações detalhadas sobre o plano um dia antes de Netanyahu.

Seu encontro com Trump durou meia hora mais do que o tempo programado. Gantz ficou satisfeito com sua primeira visita à Casa Branca.

Ele diz que apoia em linhas gerais o plano da Casa Branca rejeitado pela liderança palestina. Para Gantz, o plano reflete princípios fundamentais de segurança definidos na plataforma de seu partido e oferece uma base para um acordo futuro para o Oriente Médio que seja baseado na realidade em campo.

“Acho que o que torna o plano de paz tão singular e importante é o fato de encarar o conflito desde uma perspectiva baseada na realidade, não de uma perspectiva ilusória”, disse Gantz. “Ele é muito prático, trata do que pode ser feito.”

Ele considera que tanto Israel quanto os palestinos precisam de líderes novos e rejeita as críticas de alguns palestinos segundo os quais ele não seria diferente de Netanyahu.

Alguns dos aliados de direita de Netanyahu defendem a anexação imediata de partes da Cisjordânia que o plano de Trump diz que devem permanecer sob soberania de Israel. 

Mas Gantz já deixou claro que tais passos precisam esperar –pelo menos até depois da eleição de 2 de março.

“Acho que todos precisamos digerir o plano estrategicamente, discuti-lo, refletir sobre ele”, disse Gantz.

“Mas primeiro é preciso terminar esta eleição. Uma vez que eu tenha estabelecido um governo, vou priorizar a promoção deste plano.”

Tradução de Clara Allain  

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