Descrição de chapéu Governo Trump

Após pressão de Trump, aliado recebe pena menor do que recomendada por promotores

Roger Stone era acusado de mentir para investigadores e dificultar depoimento de testemunha

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Washington | Reuters

Conselheiro político e amigo de longa data do presidente Donald Trump, Roger Stone foi sentenciado nesta quinta-feira (20) a três anos e quatro meses de prisão. Ele era acusado de mentir para investigadores do Congresso no caso da interferência russa nas eleições de 2016 e de dificultar o depoimento de uma testemunha.

O período definido na sentença é menor do que a pena recomendada pelos promotores do caso.

Semanas antes de a decisão ser anunciada, o presidente dos EUA atacou via Twitter os juízes envolvidos no episódio, chamando-os de "corruptos" e dizendo que seria um "erro" se Stone pegasse uma pena de sete a nove anos de prisão.​

Em seguida, o secretário de Justiça, William Barr, interveio, e o Departamento de Justiça retirou a recomendação de sentença, levando os quatro promotores envolvidos no episódio a renunciarem ao caso.

Roger Stone chega ao tribunal E. Barrett Prettyman, em Washington - Drew Angerer/Getty Images/AFP

Durante a leitura da sentença, a juíza Amy Berman Jackson disse que as mentiras de Stone representam "uma ameaça à nossa democracia".

"Ele não foi processado, como alguns reclamaram, por defender o presidente. Ele foi processado por encobrir para o presidente", afirmou. 

Depois de conceder perdão a 11 criminosos de colarinho brancos condenados —incluindo o financista Michael Milken e o ex-governador de Illinois Rod Blagojevich—, Trump havia evitado perguntas sobre um possível indulto para Stone.

Mas após o julgamento o presidente disse que monitoraria o caso de perto e deu a entender que tomará uma decisão sobre o perdão mais adiante. "Em algum momento faremos uma determinação", afirmou.

Trump acrescentou que acha o julgamento injusto. "Roger Stone e todo mundo tem que ser tratado de maneira justa. E este não foi um processo justo."

Fortalecido após ser absolvido pelo Senado em seu julgamento de impeachment no início do mês, o presidente retrata seu ex-conselheiro de campanha como vítima de uma vingança por parte do Judiciário.

​Os democratas do Congresso acusaram Trump e Barr de politizarem o sistema de justiça criminal dos EUA e de ameaçarem o Estado de Direito.

Após o próprio secretário, em entrevista à TV americana, reclamar das mensagens do presidente na rede social, o que segundo ele faria o "trabalho do Departamento de Justiça se tornar impossível", Trump disse que tem o direito de interferir em investigações criminais.

Barr considerou renunciar caso Trump continuasse postando no Twitter sobre as investigações, o que o republicano continuou a fazer.

Stone, 67, chegou ao tribunal em Washington usando um sobretudo de veludo azul, óculos escuros e chapéu preto, cercado por uma comitiva de familiares, amigos e advogados. No caminho, passou por um rato inflável gigante vestido de Donald Trump —um boneco comum em protestos contra o presidente.

Em 15 de novembro, um júri de nove mulheres e três homens o condenou por obstruir a Justiça, dar falso testemunho e manipular testemunha —ele tentou impedir o depoimento de uma fonte que teria revelado ao Comitê de Inteligência as suas mentiras.

As denúncias surgiram a partir da investigação do procurador especial Robert Mueller, que detalhou a interferência russa nas eleições de 2016 em benefício da candidatura de Trump.

Moscou teria usado hackers, propagandas em redes sociais e tido diversos contatos com agentes da campanha do republicano. Stone foi um dos vários associados de Trump acusados ​​no inquérito conduzido por Mueller.

Segundo os promotores, Stone mentiu para o Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados sobre suas tentativas de entrar em contato com o WikiLeaks. 

O site de Julian Assange divulgou e-mails da democrata Hilary Clinton —rival de Trump em 2016—, prejudicando sua campanha na corrida presidencial. Oficiais de inteligência concluíram que as correspondências foram roubadas por hackers russos.

Autodenominado "trapaceiro sujo" e "agente provocador" e famoso por ter o rosto do ex-presidente Richard Nixon tatuado nas costas, Stone começou sua carreira como assessor de Nixon e é ex-sócio de Paul Manafort, que liderou a campanha presidencial de Trump durante vários meses em 2016. 

Manafort foi condenado por diversos crimes federais decorrentes da investigação de Mueller.  ​

Stone foi preso em janeiro de 2019, em uma investida do FBI antes do amanhecer à sua casa na Flórida. Ele foi solto após assinar um título de US$ 250 mil que não exigia depósito de dinheiro caso ele continuasse a comparecer perante a corte quando convocado.


Perguntas e respostas

Quem é Roger Stone?
Conselheiro político e amigo de longa data do presidente Donald Trump, Stone aconselhou o republicano quando ele considerou concorrer a presidente em 2000 e trabalhou por um curto período na sua campanha presidencial em 2016.

Nos anos 1980, Stone foi cofundador de uma empresa de lobby que representava ditadores como Ferdinand Marcos, das Filipinas. Um de seus parceiros no negócio era Paul Manafort, que liderou a campanha eleitoral de Trump há quatro anos.

Conhecido por seu guarda-roupas elegante, Stone começou a carreira como assessor de Richard Nixon, nos anos 1970 —ele tem o rosto do ex-presidente tatuado nas costas.

Do que era acusado?
De mentir para investigadores do Congresso no inquérito que apurava a interferência russa nas eleições presidenciais dos EUA de 2016, de obstruir a Justiça e de tentar impedir o depoimento de uma fonte que teria revelado ao Comitê de Inteligência as suas mentiras.

Os promotores disseram que Stone pressionou o comediante Randy Credico a mentir para os legisladores, instruindo-o a "se fingir de Frank Pentangeli" —uma referência a um personagem do filme "O Poderoso Chefão 2" que desdiz seu testemunho para o Congresso a respeito de um mafioso.

Ao todo, pesavam sete acusações contra Stone.

Que sentença recebeu?
Três anos e quatro meses de prisão, pena menor do que a recomendada pelos promotores do caso, que queriam de sete a nove anos. O secretário de Justiça declarou que este tempo seria excessivo e retirou a recomendação, fazendo com que os promotores renunciassem. Stone já havia sido preso em janeiro de 2019, mas foi solto após pagar fiança.
 

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