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Rússia está tentando ajudar campanha de Sanders, dizem autoridades dos EUA

Democrata pede que Putin fique fora de eleições; Trump também foi avisado de interferência

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Washington | The Washington Post

Autoridades dos Estados Unidos disseram ao senador Bernie Sanders que a Rússia está tentando ajudar sua campanha presidencial como parte de um esforço para interferir na disputa democrata, segundo pessoas informadas sobre o assunto.

O presidente Donald Trump e legisladores no Capitólio também foram informados sobre a ajuda russa ao senador de Vermont, segundo essas fontes, que falaram sob a condição de anonimato por se tratar de informações delicadas.

O candidato democrata Bernie Sanders em um ato de campanha na Califórnia nesta sexta (21)
O candidato democrata Bernie Sanders em um ato de campanha na Califórnia nesta sexta (21) - Ringo Chiu/AFP

Não está claro que forma assumiu a ajuda russa. Em 2016, promotores dos EUA encontraram uma iniciativa russa de usar redes sociais para promover a campanha de Sanders contra Hillary Clinton, como parte de um esforço maior para prejudicar Clinton, semear a divisão no eleitorado americano e, em última instância, ajudar Donald Trump.

"Não me importa, francamente, quem Putin quer que seja o presidente", disse Sanders, em um comunicado enviado ao Washington Post.

"Minha mensagem para Putin é clara: fique fora das eleições americanas, e como presidente eu me certificarei disso."

"Em 2016, a Rússia usou propaganda na internet para semear divisão em nosso país, e meu entendimento é que eles estão fazendo isso de novo em 2020. Parte das coisas feias na internet atribuídas à nossa campanha pode não estar vindo de apoiadores reais", continua o comunicado.

Um porta-voz da campanha de Sanders não quis comentar a informação dada pelas autoridades americanas sobre as iniciativas russas.

Sanders advertiu várias vezes sobre a ameaça de interferência estrangeira nas eleições nos EUA e criticou Trump por não agir o suficiente para detê-la.

"Estou sendo claro: não devemos viver em negação enquanto permitimos que a Rússia e outros atores estatais minem nossa democracia ou nos dividam", disse o senador em janeiro.

"A Rússia visa dividir nossa sociedade. Vamos trabalhar para sanar essas divisões."

Os adversários de Sanders culparam alguns de seus mais veementes apoiadores online por injetar uma linguagem tóxica nas primárias.

Em um debate de candidatos democratas na quarta-feira (19) em Las Vegas, Sanders acusou indiretamente a Rússia, dizendo que era possível que atores malignos estivessem tentando manipular as redes sociais para inflamar divisões entre os democratas.

"Todos nos lembramos de 2016... Dos esforços de russos e outros tentando interferir em nossas eleições e nos dividir", disse Sanders. "Não estou dizendo que isso está acontecendo, mas não me chocaria."

Também nesta semana, uma importante autoridade da inteligência dos EUA disse que a Rússia tinha "desenvolvido uma preferência" por Trump na campanha de 2020 —avaliação que enfureceu o presidente.

Trump criticou seu diretor de inteligência em exercício, Joseph Maguire, por compartilhar essa informação com os legisladores, afirmando que os democratas a usarão para prejudicar Trump na eleição.

Apesar da desconfiança do presidente sobre as tentativas russas de prejudicar a democracia americana, autoridades de seu governo advertiram diversas vezes que Moscou tem planos em curso para interferir nas eleições americanas e instigar divisões entre alguns americanos, parte de um objetivo estratégico de minar a posição dos EUA no mundo.

Alguns analistas dizem que o objetivo do Kremlin é causar o máximo de desordem nos EUA e que o apoio de seus hackers e trolls a certos candidatos seja definido com base nesse objetivo, e não em uma afinidade particular com a pessoa.

Depois dos comentários de Sanders no debate, alguns analistas de redes sociais ficaram céticos sobre a ideia de que os russos já estão se disfarçando de apoiadores do candidato.

"Não vimos evidências em fontes abertas durante este ciclo eleitoral de que uma comunidade online de apoiadores de Sanders, conhecida como Bernie Bros, tenha sido catalizada pelo que Sanders sugeriu ser uma "interferência russa", disse Graham Brookie, diretor do Laboratório Digital de Pesquisa Forense no Conselho Atlântico, que verifica a desinformação nas redes sociais.

"Qualquer candidato ou autoridade pública que lance casualmente a possibilidade de influência russa sem fornecer qualquer evidência ou contexto cria um espectro de interferência que dificulta reagir à interferência real."

Agora, porém, parece que Sanders talvez tivesse razão de suspeitar que a Rússia esteja novamente se intrometendo no processo eleitoral dos EUA, repetindo em parte o que ocorreu em 2016.

Em um processo em fevereiro de 2018 contra 13 indivíduos russos e três empresas que supostamente teriam orquestrado o esquema nas redes sociais em 2016, promotores afirmaram que o grupo "se envolveu em operações basicamente destinadas a comunicar informação difamatória sobre Hillary Clinton, prejudicar outros candidatos como Ted Cruz e Marco Rubio e apoiar Bernie Sanders e o então candidato Donald Trump."

Os promotores afirmaram que, em fevereiro de 2016, enquanto Clinton e Sanders estavam em uma firme batalha pela nomeação democrata, um memorando interno circulou na Agência de Pesquisas da Internet, baseada em São Petersburgo e que segundo os promotores liderou o esforço online, instruindo seus trolls pagos a "usarem qualquer oportunidade para criticar Hillary e o resto (exceto Sanders e Trump —nós os apoiamos)".

A Agência de Pesquisas da Internet era financiada por um oligarca russo próximo do presidente Vladimir Putin, segundo autoridades americanas.

Os promotores também afirmaram que, trabalhando com o WikiLeaks, o governo russo divulgou propositalmente e-mails internos roubados do Partido Democrata na véspera da convenção democrata em julho de 2016, de modo a exacerbar as divisões no partido e uma sensação de revolta nos apoiadores de Sanders.

Em um indiciamento em julho de 2018 de 12 oficiais da inteligência russa acusados de roubar e disseminar os e-mails, os promotores afirmaram que o WikiLeaks havia apresentado os documentos antes da convenção para ressaltar as divisões.

"Se você tiver qualquer coisa ligada a Hillary, nós a queremos nos próximos dois dias de preferência, porque a CND [convenção democrata] está se aproximando e depois ela vai solidificar os apoiadores de Bernie atrás dela", alguém ligado ao WikiLeaks escreveu em 6 de julho a Guccifer 2.0, uma identidade online operada por russos, segundo a acusação.

"Pensamos que Trump tem apenas uma chance de 25% de ganhar contra Hillary... Por isso o conflito entre Bernie e Hillary é interessante", acrescentou o grupo.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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