Candidatos linha dura vencem no Irã em eleições parlamentares esvaziadas

Aiatolá culpa propaganda inimiga sobre coronavírus por menor comparecimento desde 1979

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Dubai | Reuters

Os resultados finais das eleições parlamentares iranianas, anunciados neste domingo (23) pelo Ministério do Interior, mostraram vitória dos candidatos linha dura próximos ao líder supremo Ali Khamenei, responsável pela última palavra em todas as questões estatais do país.

O comparecimento às urnas foi de 42%, o menor desde a Revolução Islâmica de 1979. O aiatolá, que na sexta-feira (21) disse que votar era "um dever religioso", culpou a baixa participação à "propaganda negativa sobre o novo coronavírus espalhada por inimigos do Irã", sem especificar quem seriam eles.

"Essa propaganda negativa sobre o vírus começou há alguns meses e aumentou antes das eleições", disse ​Khamenei, de acordo com comunicado em seu site oficial. "A mídia deles não perdeu a menor oportunidade de dissuadir os eleitores iranianos e recorrer à desculpa do vírus."

Em Teerã, iranianas com máscaras devido ao temos do coronavírus aguardam antes de depositar seus votos para as eleições parlamentares
Em Teerã, iranianas com máscaras devido ao temor do coronavírus aguardam antes de depositar seus votos para as eleições parlamentares - Atta Kenare - 21.fev.20/AFP

O Irã confirmou seu primeiro caso de coronavírus dois dias antes das eleições —até o momento, há 43 pessoas infectadas pelo vírus em quatro cidades diferentes, incluindo Teerã, e oito mortes. Assim, o país tem o maior número de óbitos fora da China, epicentro do surto.

Em Teerã, candidatos linha dura ganharam 30 assentos, com o ex-comandante da Guarda Revolucionária do Irã Mohammad Bagher Qalibaf encabeçando a lista.

As credenciais de Qalibaf, veterano de guerra e chefe de polícia nacional, fez com que ele caísse nas graças do líder supremo, o que aumenta suas chances de se tornar o próximo presidente do Parlamento.

O Conselho dos Guardiões, que aprova quem pode concorrer, barrou milhares de candidatos moderados e conservadores em favor de nomes mais extremistas. Foram 6.850 removidos durante a campanha, de um total de 14 mil. 

A participação na votação é vista como um referendo sobre a popularidade do governo do país persa, que enfrenta isolamento crescente e ameaças de conflito devido ao impasse nuclear com os Estados Unidos, além de grande descontentamento interno.

"A participação em todo o país foi de 42,57%. Em Teerã, foram cerca de 25%. No Irã, mais de 24 milhões de pessoas votaram", disse o ministro do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli, em entrevista coletiva.

Em 2016, a participação foi de 62%, enquanto 66% dos eleitores votaram em 2012.

O Legislativo não tem grande influência nos assuntos externos ou na política nuclear do Irã, que são determinados por Khamenei. Mas a vitória de nomes linha dura pode fortalecer os radicais nas eleições para presidente de 2021, o que endureceria a política externa do país.

A retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear do Irã em 2018 e a reimposição de sanções afetaram fortemente a economia do país, muito dependente de exportações de petróleo.

No final do ano passado, uma série de protestos em resposta ao aumento do preço dos combustíveis deixou mais de cem mortos, segundo levantamento do Anistia Internacional.

As manifestações começaram após o anúncio da elevação de 50% no preço da gasolina, para os primeiros 60 litros comprados a cada mês, e de 300% para compras adicionais.

Centenas de jovens e trabalhadores da classe média saíram às ruas para expressar sua raiva contra a piora do padrão de vida e o aumento da corrupção e da desigualdade social.

No começo de janeiro, os EUA mataram o general iraniano Qassem Suleimani em um ataque com drone em Bagdá, o que elevou a temperatura entre os países e levou o Irã a retaliar, com o disparo de mísseis contra uma base militar com militares americanos no Iraque

Suleimani era considerado a segunda pessoa mais poderosa da república persa, atrás apenas do aiatolá.

Na mesma noite do contra-ataque, o Irã derrubou, por engano, um avião de passageiros da Ukranian Airlines que saiu de Teerã e tinha como destino Kiev, matando as 176 pessoas a bordo.

Inicialmente, Teerã afirmou que a aeronave havia caído por falha técnica, mas depois de três dias e de a comunidade internacional dizer que tinha evidências de que as forças do país haviam derrubado o avião, líderes iranianos confessaram ter confundido o avião com um ataque americano.

A demora para assumir o erro gerou uma nova onda de protestos pelo país, colocando parte da população contra o aiatolá.

Manifestantes chamaram Khamenei de "mentiroso" e o acusaram de querer encobrir a verdade.

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