Coligação com direita radical derruba herdeira de Merkel e complica sucessão na Alemanha

Vista como sucessora da chanceler, líder da CDU renuncia após ter orientação desrespeitada em eleição regional

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Bruxelas

Apontada como herdeira da chanceler alemã, Angela Merkel, a líder da União Democrata-Cristã (CDU), Annegret Kramp-Karrenbauer, anunciou nesta segunda-feira (10) ao partido que renunciará à chefia da legenda.

A decisão de AKK, como é conhecida, se segue a uma onda de críticas e manifestações contra a participação do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), da ultradireita nacionalista, no governo regional do estado da Turíngia. 

Annegret Kramp-Karrenbauer (esq.), que deixará a liderança da CDU, e a chanceler Angela Merkel durante encontro na sede do partido, em Berlim, nesta segunda (10)
Annegret Kramp-Karrenbauer (esq.), que deixará a liderança da CDU, e a chanceler Angela Merkel durante encontro na sede do partido, em Berlim, nesta segunda (10) - Hannibal Hanschke/Reuters

Foi a primeira vez na história desde a Segunda Guerra Mundial que um primeiro-ministro regional chegou ao poder com votos da direita radical.

A coligação com um partido associado pelos alemães ao passado nazista havia exposto a fragilidade de AKK: sua orientação para que os representantes da CDU não votassem no candidato liberal do FDP, Thomas Kemmerich, foi desrespeitada, levando ao governo integrado pela AfD.

A associação fez Merkel declarar publicamente que o comportamento da CDU era "inaceitável" e que a eleição deveria ser cancelada. Após protestos nas ruas alemãs, Kemmerich, o eleito, anunciou que convocaria novas eleições.

Além de renunciar à chefia da legenda, AKK disse também que não vai concorrer à sucessão de Merkel como chanceler nas eleições previstas para 2021, o que pode afetar toda uma União Europeia à procura de um novo equilíbrio após a saída do Reino Unido, no brexit, em 31 de janeiro.

Maior economia do continente, a Alemanha divide com a França a liderança da União Europeia. A dúvida sobre se Merkel será capaz de fazer um sucessor já era apontada por analistas como um dos principais elementos de instabilidade da UE.

O país vem sendo assombrado pelo fantasma da recessão, com crescimento oscilando perto de 1% ao ano. A atividade industrial e a exportação, pilares da sua força econômica, têm sofrido com a competição com a China e a disputa comercial entre os asiáticos e os EUA, contribuição mais recente para a inanição da atividade global que persiste desde a crise de 2008.

Sem um governo forte, a Alemanha pode perder batalhas na política de austeridade fiscal que tem imposto à União Europeia.

Em vários países do continente, governos avaliam a possibilidade de aproveitar os juros muito baixos (ou até negativos) para se endividar e investir em infraestrutura, como forma de reativar a economia.

A eleição na Turíngia acendeu uma luz amarela no cenário político alemão, tradicionalmente dominado por coligações majoritárias —3 dos 4 últimos governos eram formados pelos dois maiores partidos, a CDU, de centro-direita, e o SPD (Partido Social-Democrata), de centro-esquerda.

A AfD, no entanto, apareceu como a principal oposição nas eleições de 2017. Embora sua composição seja heterogênea, o partido é associado à extrema direita porque alguns de seus políticos se recusam a condenar o nazismo —um deles é justamente o líder da legenda na Turíngia, Björn Höcke.

AKK liderava a CDU desde dezembro de 2018, após Merkel anunciar que não pretendia se candidatar novamente ao cargo de chanceler nas próximas eleições gerais. A chanceler alemã está em seu quarto mandato e disse que se aposentará em 2021.

Segundo a imprensa europeia, um porta-voz do CDU afirmou que AKK permanece na liderança do partido até que seja escolhido um novo nome.

Em reunião, Merkel disse esperar que ela continue como sua ministra da Defesa, cargo que acumulava com a liderança da CDU desde julho do ano passado.

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