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Dois Papas, presença de cor brasileira no Oscar, tem cenas gravadas pela Folha

Imagens são parte de reportagem da série 'Um Mundo de Muros', publicada em 2017

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São Paulo

“Construa pontes, não muros”, pede a inscrição grafitada, não por coincidência, em um muro —e pouco importa em que país.

O registro da arte urbana marca, em “Dois Papas”, o fim de um discurso de Francisco (então apenas Jorge Bergoglio, antes de virar bispo), sobre exclusão, em 1998.

No filme (que neste domingo concorre em três categorias do Oscar), a fala serve como redentor ponto final de uma longa reflexão do argentino acerca de sua atuação na ditadura do país vizinho e um subsequente período de exílio pelo qual passou de suas atividades na ordem jesuíta.

“Nos dias de hoje devemos dizer não à economia da exclusão”, vaticina, num prenúncio da atenção aos pobres que marcaria sua atuação nos anos seguintes —e chamando, positivamente, a atenção de um superior eclesiástico.

O Muro da Vergonha em colina de Lima, cena que aparece em 'Dois Papas' - Avener Prado - 23.jul.17/Folhapress

“Vivemos um período de tirania de estruturas econômicas injustas, que causam grande desigualdade.”
As imagens que o filme intercala às do discurso exibem barreiras sendo erguidas, em diferentes partes, a separar o mundo em dois lados.

(Disse o diretor, o brasileiro Fernando Meirelles, em uma entrevista, que por escolha dele, em uma intervenção ao roteiro do neozelandês Anthony McCarten.)

Aqui, qualquer semelhança de “Dois Papas” com a série “Mundo de Muros”, que a Folha publicou entre junho e setembro de 2017, não é mera coincidência: algumas das tomadas exibidas na sequência são parte, justamente, de uma das reportagens.

As imagens foram captadas pelo repórter-fotográfico Avener Prado no Peru, e acompanharam texto de Fabiano Maisonnave sobre o chamado Muro da Vergonha.

A barreira, de 10 km, separa o conjunto de favelas de Pamplona Alta, na capital peruana, do condomínio de luxo Las Casuarinas, na municipalidade de La Molina.

Carga leve de ironia: como conta a reportagem, ela começou a ser erguida nos anos 1980 por um colégio administrado pelos jesuítas locais —para combater danos ao meio ambiente, conforme explicou a municipalidade.

Como outros muros mostrados na série (no filme também), o limenho se presta a bloquear o indesejável, mas também a traçar uma linha, nada sutil, de diferenças.

Uma das mais palpáveis retratadas pela reportagem mostra que, se em Pamplona Alta não há água encanada, as casas de Las Casuarinas se destacam na paisagem vista do alto pelas amplas piscinas.

São do alto, captadas com drone, imagens da Folha presentes em “Dois Papas” (filme disponível na Netflix). Uma delas sobrevoa o condomínio de luxo e dá ré para realçar a diferença da paisagem nas favelas. Outra tem o drone partindo de trás de uma enorme cruz para viajar sobre a encosta limenha.

“Todas as comunidades devem ser instrumento da liberação e promoção dos pobres”, pede Bergoglio no discurso. O filme mistura, cá e lá, relatos verídicos a diálogos fantasiosos; algumas cenas, porém, podemos garantir, são bem reais.

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