Descrição de chapéu Brexit

Em 2º na eleição irlandesa, partido ex-braço político do IRA pode formar próximo governo

Legenda Sinn Féin defende reunificação do país com Irlanda do Norte

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Dublin | AFP

O partido nacionalista Sinn Féin, de esquerda, tornou-se a segunda maior formação política no Parlamento irlandês, de acordo com o resultado final das eleições legislativas realizadas no fim de semana.

O resultado pode levar a sigla —que tem ligação histórica com o grupo separatista IRA— ao poder, quebrando a alternância de governo entre os tradicionais partidos Fine Gael e Fianna Fail, que dura cem anos.

Segundo a contagem dos votos encerrada na madrugada desta terça-feira (11), o Sinn Féin conquistou 37 das 160 cadeiras na Dáil Éireann, a Câmara Baixa do Parlamento irlandês, com dois representantes a mais do que o Fine Gael, do primeiro-ministro Leo Varadkar. O Fianna Fail, de centro-direita, obteve 38 assentos.

A líder do Sinn Féin, Mary Lou McDonald, em Dublin
A líder do Sinn Féin, Mary Lou McDonald, em Dublin - Phil Noble/Reuters

Embora o partido tenha obtido a maior votação popular nas eleições de sábado (8), com 24,1% dos votos, o número de candidatos que concorria pelo Sinn Féin era limitado, o que impossibilitou que mais assentos fossem conquistados no Parlamento.

Mary Lou McDonald, líder do partido —que milita pela reunificação da República da Irlanda com a Irlanda do Norte, parte do Reino Unido—, disse que a sigla "venceu a eleição", e afirmou que o Sinn Féin tentará formar governo sem o apoio dos dois partidos tradicionais.

A ideia do partido é obter apoio de siglas menores e de parlamentares independentes para formar uma coalizão governista de esquerda, mas o cenário é altamente improvável, afirmaram colegas antigos de McDonald.​

O IRA (Exército Republicano Irlandês, na sigla em inglês) foi um grupo armado que realizou uma campanha violenta para tentar reunificar o país na segunda metade do século passado. Sua ação incluiu ataques terroristas com bombas na Irlanda do norte e deixou cerca de 3.500 mortos. O grupo, que teve várias divisões ao longo de sua existência, encerrou as atividades e entregou suas armas em 2005.

Desde então, o Sinn Féin descolou progressivamente sua imagem do IRA, se reinventando como uma sigla voltada para a classe trabalhadora. Durante a campanha, a líder prometeu ​construir 100 mil moradias populares num período de cinco anos, acabar com a obrigatoriedade de se aposentar aos 65 anos e multar os empregadores que pagarem salários diferentes a homens e mulheres, além de melhorar o sistema público de saúde.

No complexo sistema eleitoral irlandês, os eleitores não votam em uma lista estabelecida, mas fazem sua própria lista escolhendo candidatos de diferentes partidos em ordem de preferência.

O resultado representa a possibilidade real de queda do primeiro-ministro, uma vez que o grande perdedor das eleições foi o Fine Gael, de Varadkar. O premiê viu sua popularidade cair à medida que o custo de vida, e o acesso à habitação e aos serviços públicos de saúde ficaram mais difíceis no país.

O Fine Gael descartou qualquer possibilidade de acordo com o Sinn Féin, alegando diferenças políticas e os vínculos do partido com o terrorismo.

As eleições na Irlanda ocorreram apenas uma semana após a saída britânica da União Europeia, cujas consequências afetam especialmente o país e seus 4,9 milhões de habitantes.

McDonald pediu apoio à União Europeia para seu projeto de reunificar a Irlanda. "A UE deve se posicionar sobre a Irlanda da mesma forma que apoiou a reunificação da Alemanha e que tem uma visão positiva sobre a reunificação da Chipre", afirmou à BBC.

Um acordo de paz selado em 1998, entre católicos e protestantes, estabelece que a reunificação precisaria ser aprovada por referendo nas duas partes da ilha, em uma votação autorizada pelo governo do Reino Unido, em Londres.

Como a maioria dos norte-irlandeses votou contra o brexit, a ideia pode ter apoio na região.

A Irlanda segue como parte da União Europeia, mas a Irlanda do Norte, não. Como ficaria a fronteira entre as duas regiões foi um dos principais entraves da saída do Reino Unido da UE

A ilha esteve sob controle britânico completo até 1921, quando uma guerra de independência levou ao surgimento da Irlanda como país independente e de maioria católica, com capital em Dublin. No entanto, a Irlanda do Norte, de maioria protestante, seguiu ligada a Londres.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior desta reportagem citou incorretamente o grupo espanhol ETA em vez do grupo irlandês IRA. A informação foi corrigida. 
 

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.