Descrição de chapéu The New York Times

Pequim condena a 10 anos de prisão editor que vendia livros críticos a líderes chineses

Gui Minhai foi apreendido com diplomatas suecos em um trem

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Austin Ramzy
Hong Kong | The New York Times

Um tribunal da China condenou a dez anos de prisão um editor de livros de Hong Kong de cidadania sueca. Ele tinha uma livraria onde eram vendidas obras críticas ao regime de Xi Jinping, incluindo volumes de fofoca.

A sentença foi rapidamente denunciada por seus apoiadores como exemplo do empenho do governo chinês para calar as críticas vindas do exterior, e estremeceu a relação de Estocolmo com Pequim.

O editor, Gui Minhai, desapareceu em circunstâncias misteriosas de sua casa na Tailândia em 2015 e virou alvo de uma campanha do Partido Comunista Chinês para calar a dissidência, mesmo fora do território continental. 

Seu caso indignou moradores de Hong Kong, que viram a detenção pelas autoridades chinesas como um claro sinal da erosão das liberdades civis locais sob a crescente influência de Pequim.

A revolta pública com o fortalecimento do governo chinês no território ajudou a instigar meses de protestos no ano passado, na maior expressão pública de oposição ao governo do Partido Comunista em décadas.

Manifestantes protestam com placas com fotos do editor de livros Gui Minhai (à direita) e seu assistente, Lee Bo
Manifestantes protestam com placas com fotos do editor de livros Gui Minhai (à direita) e seu assistente, Lee Bo - Philippe Lopez 19.jan.16/AFP

A reação à interferência chinesa assumiu dimensões internacionais porque Gui foi secretamente levado da Tailândia à China e mantido sob custódia durante dois anos.

Então, em 2018, ele desapareceu novamente de forma dramática, quando foi retirado de um trem em que viajava a Pequim acompanhado de dois diplomatas suecos.

Gui, 55, foi julgado em janeiro sob a acusação de fornecer informações ao exterior, explicou o Tribunal Intermediário do Povo Ningbo em um breve comunicado anunciando o veredicto.

A corte disse que o editor pediu para restabelecer sua cidadania chinesa em 2018, implicando que abandonaria a cidadania sueca e não desejava apelar da sentença. Os detalhes não puderam ser checados.

O Ministério das Relações Exteriores da Suécia disse que Gui continua sendo um cidadão sueco e pediu que a China o liberte.

"Deixamos perfeitamente claro que desejamos que Gui Minhai seja libertado para que possa se reunir com sua filha e parentes", afirmou o ministério em um comunicado.

"Essa demanda se mantém. Também pedimos o acesso a nosso cidadão para podermos lhe fornecer apoio consular, ao qual ele tem direito."

A sentença de Gui foi o último capítulo em um esforço de anos para sufocar um mercado de livros de fofoca sobre líderes chineses que eram vendidos em Hong Kong pela sua livraria.

Havia rumores de que os editores planejavam um livro sobre a relação do dirigente Xi Jinping com uma ex-namorada.

Tais obras não podiam ser publicadas na China continental, mas encontraram um mercado florescente entre os turistas chineses em Hong Kong, território semiautônomo onde há liberdade de imprensa.

Gui era sócio da Mighty Current Media, editora de Hong Kong com cinco empregados que foram detidos no continente, inclusive um, Lee Bo, que aparentemente foi retirado das ruas de Hong Kong.

Todos exceto Gui foram mais tarde libertados depois de confissões.

Patrcik Poon, um pesquisador chinês para a Anistia Internacional, chamou as acusações contra Gui de "totalmente insubstanciais".

O livreiro "parece ter sido julgado e condenado em segredo, sendo-lhe negada qualquer possibilidade de julgamento justo", disse Poon em uma declaração.

Gui fez uma confissão aos prantos em 2016, dizendo que tinha violado a liberdade condicional por um acidente de carro em que dirigia embriagado, e que voltou voluntariamente à China para enfrentar o julgamento.

Um ano depois, as autoridades chinesas disseram que ele foi libertado, mas não podia deixar a China e estava obrigado a se apresentar regularmente à polícia.

Sua liberdade durou pouco. Quando tomava um trem para Pequim com dois diplomatas suecos no início de 2018, ele foi agarrado por policiais à paisana.

Gui iria até a embaixada sueca em Pequim para um exame médico quando cerca de dez homens o capturaram e o retiraram do trem.

O ministro das Relações Exteriores sueco chamou o movimento de "intervenção brutal".

Mais tarde, Gui declarou em uma entrevista coletiva organizada pelo governo que foi manipulado pelos diplomatas suecos que queriam tirá-lo da China.

Grupos de direitos humanos e de liberdade de imprensa disseram que os comentários foram provavelmente feitos sob coação, para ocultar sua detenção arbitrária pelas autoridades chinesas.

A ex-embaixadora da Suécia na China Anna Lindstedt foi acusada no ano passado de atuar fora das funções diplomáticas depois de ela intermediar conversas entre a filha de Gui, Angela Gui, e dois chineses que disseram que poderiam ajudá-la a libertar seu pai.

Angela disse que os homens usaram o encontro para pressioná-la a não falar sobre o caso do pai.

Com Reuters

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