Nascida numa família progressista de classe média em Dublin, Mary Lou McDonald, a mulher que liderou o terremoto eleitoral irlandês deste ano, foi educada em colégio particular católico e formou-se em literatura inglesa na universidade de maior prestígio do país, o Trinity College, antigo bastião protestante do império britânico.
Admiradora do dramaturgo e romancista Samuel Becket e da jornalista persa Christiane Amanpour, a presidente do Sinn Féin se especializou na obra da poeta americana Sylvia Plath.
Casada com um funcionário do serviço de emergência de uma empresa de gás, tem dois filhos, de 17 e 14 anos, e faz parte de uma geração que não participou dos conflitos armados. Antes de entrar na política, foi pesquisadora do think-tank Instituto de Estudos Europeus e Internacionais.
Sua carreira começou pelo partido de seus pais, o Fianna Fail, agremiação de origem nacionalista rotulada como de centro-esquerda. Aos 30 anos, filiou-se ao Sinn Féin, em 1989, um ano depois do acordo que restabeleceu a paz na Irlanda do Norte.
Gerry Adams, que liderava o partido republicano desde 1983, identificou rapidamente o potencial de Mary Lou para ajudar a reformar a imagem do partido, desgastada pelo passado de violência dos chamados “Trouble Years” (anos turbulentos, nas décadas de 1970 a 1990).
“Inteligente, articulada, confiante e ótima debatedora”, segundo o jornalista Deaglán de Bréadun, autor do livro “Power Play - The Rise of Modern Sinn Féin” (sobre a ascensão do partido), ela se sai bem no rádio e na TV, ganhou projeção como oradora combativa e ajudou a afastar o estereótipo do militante republicano, homem, de 65 anos, sotaque do norte e passado nebuloso.
Desde que assumiu a presidência da agremiação, em 2018, enfrentou duas grandes derrotas: na eleição presidencial daquele ano, o Sinn Féin levou apenas 6% dos votos; em 2019, perdeu assentos na eleição do Parlamento Europeu e metade dos postos em eleições locais.
Na reviravolta deste ano, Mary Lou reorientou a campanha para temas sociais e foi capaz de aplacar eleitores normalmente receosos das políticas do Sinn Féin. O futuro, porém, é duplamente imprevisível, segundo o cientista político irlandês Bill Kissane, professor da London School of Economics: Mary Lou nunca foi testada em cargos executivos e seu partido nunca participou de coligações, indispensáveis se quiser formar agora um governo.
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