Descrição de chapéu Governo Trump

Trump admite ter enviado Giuliani à Ucrânia para obter informações sobre adversários

Declaração ocorre uma semana após presidente ser absolvido em processo de impeachment

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O presidente americano, Donald Trump, voltou atrás em declarações anteriores nesta quinta-feira (13) e admitiu ter enviado seu advogado pessoal, Rudy Giuliani, à Ucrânia com o objetivo de coletar informações que pudessem prejudicar seus adversários políticos.

Durante entrevista ao podcast "Roadkill with Geraldo", o jornalista Geraldo Rivera perguntou ao presidente se não era estranho o fato de ter enviado Giuliani e se ele se arrependia da decisão. "Não, de forma alguma", respondeu Trump.

A admissão ocorre exatamente uma semana após o republicano ser absolvido no processo de impeachment, que se concentrou na acusação de que Trump teria abusado de seu cargo ao pressionar Kiev a reabrir uma investigação envolvendo o democrata Joe Biden.

O presidente disse ainda que recorreu a Giuliani após ter tido uma "amostra muito ruim" da comunidade de inteligência dos EUA por causa da investigação envolvendo a Rússia. 

Rudy Giuliani e Donald Trump se encontram em evento em New Jersey em 2016
Rudy Giuliani e Donald Trump se encontram em evento em New Jersey em 2016 - Don Emmert - 20.nov.2016/AFP

O filho de Joe Biden, Hunter, atuou no conselho de administração de uma das maiores empresas ucranianas, a Burisma, enquanto seu pai era vice-presidente de Barack Obama (2009 - 2017).

A companhia chegou a ser investigada, mas o Departamento Nacional Anticorrupção da Ucrânia afirmou no fim de setembro de 2019 que o inquérito se limitou aos anos de 2010 e 2012, antes da participação de Hunter na firma.

Trump negou em diversas ocasiões ter ordenado que Giuliani viajasse à Ucrânia para obter informações que comprometessem Joe Biden, visto à época como o pré-candidato democrata com as maiores chances de disputar o pleito deste ano contra Trump.

"A minha escolha é esta: ou lido com os Comeys da vida, ou com Rudy", disse o presidente nesta quinta, referindo-se ao ex-diretor do FBI James Comey.

Comey foi demitido por Trump em maio de 2017. Ele chefiava investigações sobre integrantes da campanha de Trump e sua suposta ligação com a Rússia, além de supervisionar o inquérito sobre uso indevido de emails pela ex-secretária de Estado Hillary Clinton, que disputou a Presidência com Trump.

A negativa mais veemente de Trump sobre ter ordenado ou não Giuliani ocorreu em novembro último, quando o apresentador de rádio Bill O'Reilly, um conservador, lhe perguntou diretamente: "Você não ordenou que Giuliani fosse à Ucrânia para fazer algo ou pressioná-los?".

"Não, eu não dei ordens a ele" disse Trump, acrescentando que o advogado tinha sido um ótimo prefeito de Nova York (1994–2001) e uma pessoa que "lutou muito contra a corrupção". 

O próprio Giuliani afirmou, no início de maio de 2019, planejar viajar à Ucrânia na condição de advogado pessoal de Trump com o objetivo de pressionar o novo governo a reabrir inquéritos sobre o democrata e seu filho —Volodimir Zelenski tomou posse como presidente no dia 20 daquele mês.

"Não há nada de ilegal nisso", disse Giuliani ao jornal New York Times à época.

"Alguém poderia dizer que é impróprio. E isso [as viagens] não é política externa —estou pedindo a eles que façam uma investigação que já estão fazendo e que outras pessoas estejam pedindo que parem."

O inquérito, no entanto, já havia sido arquivado, em 2017.

"E vou dar a eles [ucranianos] razões pelas quais eles não devem pará-la [a investigação], porque essas informações serão muito, muito úteis para o meu cliente e podem ser úteis para o meu governo", acrescentou Giuliani na entrevista ao jornal americano. 

Várias testemunhas ouvidas no processo de impeachment descreveram como o advogado se encontrou com oficiais ucranianos em busca de informações comprometedoras sobre Joe e Hunter Biden.

Giuliani também foi mencionado por Trump durante um telefonema com Zelenski, que veio a público graças a uma denúncia anônima e serviu de ponto de partida para o processo de impeachment. 

Na ocasião, o presidente americano disse ao ucraniano que Giuliani e o secretário de Justiça dos EUA, William Barr, entrariam em contato para discutir a reabertura da investigação sobre a Burisma.


Entenda o que já aconteceu

2015 Joe Biden, então vice-presidente, pressiona a Ucrânia para demitir o procurador-geral Viktor Shokin, acusado de corrupção e responsável por uma investigação envolvendo empresa na qual seu filho, Hunter, integrava o conselho de administração

2016 Shokin é substituído; em 2017, inquérito é arquivado

9. mai.19 Giuliani afirma, em entrevista ao New York Times, que planeja viagem à Ucrânia na condição de advogado pessoal de Trump com o objetivo de pressionar o novo governo a reabrir inquéritos sobre o democrata e seu filho

20.mai.19 Volodimir Zelenski toma posse como presidente da Ucrânia

18.jul.19 Envio de pacote de ajuda militar à Ucrânia é suspenso por ordem de Trump

25.jul.19 Em telefonema, Trump pede a Zelenski que reabra o inquérito sobre Hunter Biden

12.ago.19 Denunciante anônimo registra queixa relatando pressão de Trump sobre a Ucrânia 

11.set.19 Casa Branca libera o envio do pacote à Ucrânia

24.set.19 A Câmara abre o processo de impeachment 

25.set.19 Casa Branca divulga a transcrição da chamada. Trump se reúne com Zelenski; Ucraniano afirma que não se sentiu pressionado

Nov.19 Trump nega ter enviado Giuliani à Ucrânia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.