Quatro dias após assinar acordo de paz, EUA atacam alvos do Taleban

Ofensiva acontece apenas horas depois de Trump conversar com líder de grupo islâmico

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Cabul (Afeganistão) | Reuters

Quatro dias após assinar um acordo de paz histórico com o Taleban, os EUA realizaram ataques aéreos contra combatentes do grupo no Afeganistão, nesta quarta (4). O pacto prevê a retirada gradual das tropas americanas da região.

Um porta-voz das forças americanas confirmou a ofensiva —que teve como alvo o sul da província de Helmand—, apenas horas depois de o presidente Donald Trump conversar por telefone com o negociador-chefe do Taleban, mulá Baradar Akhund, no dia anterior.

O diálogo foi a primeira conversa de que se tem notícia entre um líder dos EUA e uma importante autoridade do grupo islâmico.

Soldados do Exército Nacional do Afeganistão (ANA) fazem guarda após ataques de forças do Taleban em Kunduz, no Afeganistão - Reuters

Um comandante do Taleban da província de Helmand, falando sob anonimato, afirmou que um drone mirou o local, mas que nenhum dos combatentes morreu. À agência Reuters a fonte também disse que o grupo convocou uma reunião de emergência para tratar do que pode ser uma "violação grave" do acordo.

Os combatentes do Taleban "estavam atacando ativamente um posto de controle (Forças de Segurança Nacional Afegãs). Foi um ataque defensivo para interromper os ataques", rebateu em uma rede social o coronel Sonny Leggett, porta-voz das forças americanas no Afeganistão.

Ele acrescentou que Washington está comprometido com a paz, mas defenderá as forças afegãs se necessário.

"A liderança do Taleban prometeu à comunidade [internacional] que reduziria a violência e não aumentaria os ataques. Apelamos ao grupo para interromper ofensivas desnecessárias e defender seus compromissos", adicionou Leggett.

Um porta-voz do governador de Helmand disse que o grupo havia atacado um posto de segurança no distrito de Washer —diferente daquele em que os EUA realizaram seu ataque aéreo— na noite de terça-feira, matando dois policiais.

Ainda de acordo com o governo afegão, o Taleban realizou 30 ataques em 15 províncias entre terça (3) e quarta-feira, matando quatro civis e 11 membros das forças de segurança e defesa afegãs. Dezessete de seus membros também morreram.

Este foi o primeiro ataque aéreo dos EUA contra o Taleban nos últimos 11 dias, quando uma redução na violência começou entre os lados antes da assinatura do pacto de sábado (29).

Apesar do acordo, o Taleban decidiu na segunda (2) retomar as operações contra as forças do governo afegão, embora fontes tenham afirmado que o grupo continuará sem atacar tropas estrangeiras.

O grupo islâmico se recusa a confirmar ou negar a responsabilidade por qualquer um dos ataques.

O porta-voz do Taleban, Suhail Shaheen, disse em uma rede social que "de acordo com o plano [o Taleban] está implementando todas as partes do acordo, uma após a outra, a fim de manter a luta reduzida".

Pelo acerto, o Taleban se compromete a parar de fazer ataques, a não apoiar grupos terroristas e a negociar com o governo afegão. Em troca, todas as tropas dos EUA e da coalizão da Otan deixarão o país até abril de 2021, e o Taleban ficará livre de sanções, caso os termos acordados sejam cumpridos. 

Os governos dos EUA e do Afeganistão prometeram libertar cerca de 5.000 prisioneiros ligados ao Taleban. Em troca, o grupo soltará cerca de 1.000 presos. 

A retirada de tropas será feita de forma gradual ao longo de meses, e o número de militares estrangeiros no Afeganistão será reduzido de cerca de 14 mil para 8.600 até julho. No entanto, caso haja o retorno da violência no país, o processo poderá ser revertido.

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