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Brasileiros ficam presos em hostel no Peru após hóspedes contraírem coronavírus

Dois deles estão doentes; turistas podem ficar até 3 meses confinados em hospedagem em Cusco

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São Paulo

No começo, a maior dificuldade para voltar ao Brasil era a logística da chegada de aviões até Cusco, onde eles estão —o governo peruano fechou as fronteiras por causa da pandemia do coronavírus.

Mas, mesmo após a embaixada brasileira ter conseguido liberar a ida de algumas aeronaves de repatriação até o local, eles não puderam embarcar.

Cinco brasileiros estão neste momento isolados em um hostel cercado por barreiras na cidade peruana, com hóspedes doentes e ao menos dois com diagnóstico de Covid-19 confirmado, sem atendimento médico, sem poder sair sob o risco de prisão e sem saber quanto tempo permanecerão por lá.

Segundo eles, há uma centena de turistas na mesma situação.

Os brasileiros Natália dos Santos, Leandro Martiniano e Romildo Ribeiro da Silva no hostel onde estão isolados em Cusco
Os brasileiros Natália dos Santos, 25, Leandro Martiniano, 38, e Romildo Ribeiro da Silva, 28, no hostel onde estão isolados em Cusco - Arquivo pessoal

O problema começou na segunda-feira (23), quando um hóspede mexicano avisou que tinha recebido o diagnóstico de coronavírus logo após voltar ao seu país.

Desde então, o governo do Peru cercou o hostel e proibiu os demais turistas de deixar o local. Até um representante da embaixada brasileira que esteve no prédio foi impedido de entrar, segundo os relatos.

Dois hóspedes de outras nacionalidades fizeram exames e também tiveram a confirmação de que estão infectados após apresentar sintomas.

Sem saber se estão com o vírus, os brasileiros foram informados de que terão que ficar lá por um período de um a três meses. "Eles já disseram que não vão testar todo mundo, então nós todos que estamos aqui somos considerados contaminados", diz a analista de risco Natália Moreira dos Santos, 25.

Natural do interior de São Paulo, ela parou em Cusco durante um mochilão que faz pela América do Sul. Os cinco brasileiros não se conheciam antes, cada um viajava por sua conta.

Um vídeo gravado no local mostra um jovem argentino deitado, de máscara, relatando dor de cabeça, dor no corpo e falta de ar. "Nenhum médico veio aqui", diz Natália. "Meu maior medo é ficar doente e não ter socorro. Esse argentino não é de nenhum grupo de risco e está muito mal. Não teve nenhum atendimento."

Na manhã desta quinta-feira (26), após a primeira entrevista, ela avisou que começou a sentir sintomas. "É uma dor horrível no corpo, cabeça e no peito." Outro brasileiro também teria adoecido, diz ela.

Procurado pela Folha, o Itamaraty informou que a embaixada do Brasil em Lima tem conhecimento do caso e está em contato permanente com os brasileiros retidos no hostel.

"O isolamento determinado pelas autoridades peruanas deverá ser observado pelos nacionais. O Itamaraty busca soluções para o caso, respeitando as decisões do governo local, para que os brasileiros confinados possam retornar ao país o mais rapidamente possível", afirma a nota.

O quarteirão em volta do hostel de Cusco está todo cercado e ninguém pode sair; há cinco brasileiros no local
O quarteirão em volta do hostel de Cusco está todo cercado e ninguém pode sair; há cinco brasileiros no local - Arquivo pessoal

O hostel Pariwuana tem quartos individuais e coletivos, restaurante, bar e outras áreas comuns. Pelas regras estabelecidas desde os diagnósticos positivos, os hóspedes têm que ficar dentro dos quartos a maior parte do tempo e só podem sair uma vez ao dia para as dependências coletivas, sem se aproximar dos demais.

As refeições são feitas de dois em dois, mantendo distância. Segundo os relatos, estão sendo servidas algumas frutas no café da manhã e um almoço perto das 16h.

Os brasileiros também não sabem quem pagará pela estadia e pela comida durante esse período de isolamento. "A gente está no escuro. Não temos como pagar para ficar esse tempo a mais aqui. Tenho trabalho no Brasil, não posso ficar três meses longe. Está sendo muito estressante tudo isso", diz Natália.

Segundo ela, o que eles reivindicam não é deixar de fazer a quarentena. "Não queremos voltar para o Brasil de uma forma irresponsável. Tanto que, antes de tudo isso, eu já havia avisado a embaixada da possibilidade de ter alguém infectado aqui", afirma.

"O que a gente quer é assegurar nossos direitos básicos enquanto estivermos aqui. Seria um sonho voltar para o Brasil e fazer a quarentena lá, mas está bem difícil de isso acontecer no momento."

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