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Como Biden uniu democratas moderados e ressuscitou campanha em três dias

Ex-vice-presidente foi de tudo ou nada na Carolina do Sul a líder da corrida após Super Terça

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Washington

O anúncio do deputado Jim Clyburn deixou a campanha de Bernie Sanders apreensiva.

No final de fevereiro, o parlamentar da Carolina do Sul, considerado a maior liderança negra do Congresso americano, afirmou que apoiaria o ex-vice-presidente Joe Biden à Casa Branca.

Auxiliares do senador progressista viram na declaração o início do movimento mais importante das primárias democratas até aqui.

Desacreditado após resultados frustrantes em Iowa, New Hampshire e Nevada, Biden venceu de forma arrebatadora na Carolina do Sul, fidelizou o eleitorado negro a sua candidatura e em três dias ressurgiu como a principal aposta do partido para concorrer contra Donald Trump.

Ancorado no voto dos negros, o ex-vice de Barack Obama apostou todas as fichas para se consolidar como a alternativa a Sanders e rapidamente uniu o centro democrata em uma articulação bem montada que começou com a desistência de Pete Buttigieg e Amy Klobuchar, às vésperas da Super Terça, e desaguou nesta quarta (4), com a saída de Michael Bloomberg da disputa.

O pré-candidato Joe Biden de palco de comício em Los Angeles
O pré-candidato Joe Biden em comício em Los Angeles - Frederic J. Brown/AFP

Depois de gastar mais de US$ 700 milhões para estrear no dia mais importante das primárias, o ex-prefeito de Nova York ganhou somente no território de Samoa Americana, que estava em jogo ao lado de outros 14 estados.

Juntos, eles somavam 1.344 dos 3.979 delegados que vão à convenção nacional do partido, em julho, escolher o candidato à Presidência dos EUA. Mas Bloomberg conseguiu apenas 53 deles.

Assim como Buttigieg e Klobuchar, o bilionário e ex-prefeito de Nova York declarou apoio a Biden após anunciar que suspendia sua campanha, afirmando que permanecer candidato prejudicaria "o objetivo de vencer Trump."

A decisão de Bloomberg se alinha ao desejo do establishment do partido.

Lideranças tradicionais da sigla temem que a agenda de justiça social e igualdade econômica de Sanders afaste eleitores moderados que, em 2018, ajudaram os democratas a recuperar maioria na Câmara e, assim, não seja capaz de superar Trump.

Figurões da legenda já se mostravam dispostos a se mexer para impedir a nomeação do progressista.

A forma mais simples de ganhar a indicação do partido é conseguir 1.991 dos 3.979 delegados durante as primárias de fevereiro a julho.

Mas, além deles, outros 771 superdelegados —governadores, integrantes do comitê nacional e do Congresso, por exemplo— podem entrar em ação caso nenhum candidato atinja o número mínimo e seja necessário realizar um segundo turno.

 

O jornal The New York Times, em reportagem publicada na semana passada, entrevistou 93 desses superdelegados e encontrou uma oposição fortíssima à indicação de Sanders.

 

Desde o início a campanha democrata é travada entre os campos progressista e moderado do partido, e a fragmentação do centro favorecia o senador por Vermont.

Ele teve bom desempenho nas primeiras prévias e chegou à Super Terça como líder em números de delegados e na média das pesquisas nacionais, mas a agilidade dos adversários o surpreendeu.

Os últimos três dias mostraram a volatilidade da disputa democrata, e ainda não é possível considerar o senador por Vermont fora do jogo.

Ele segue competitivo, com apoio de latinos e jovens pelo país, e tenta reorganizar sua campanha com novas peças publicitárias e um discurso mais assertivo contra Biden.

A liderança irreversível que o progressista queria consolidar nesta Super Terça, porém, foi por água abaixo, e agora ele deve lutar voto a voto com Biden até a convenção de julho, quando deve haver segundo turno para a escolha do nomeado.

"Claro que estou decepcionado", disse ele nesta quarta (4) ao sair do escritório de sua campanha na cidade de Burlington, em Vermont. "Eu queria ter uma grande vitória em todos os estados. Isso não vai acontecer."​

Um dos principais desafios de Sanders é conseguir que Elizabeth Warren desista de concorrer e declare apoio a ele o quanto antes.

Em entrevista coletiva nesta quarta (4), ele disse que a democrata é uma excelente senadora com uma campanha forte. Acrescentou que ela está avaliando o que fazer e que é importante respeitar o tempo que levará para tomar uma decisão de como prosseguir na corrida.

Warren briga com o senador pela ala democrata mais à esquerda, mas não tem conseguido bom desempenho nas prévias e, nesta terça, perdeu inclusive em Massachusetts, onde foi eleita senadora.

Biden levou este e outros nove estados na Super Terça, sendo um deles o Texas, segundo mais relevante, com 228 delegados, e no qual Sanders liderava nas pesquisas.

O ex-vice-presidente somou assim 566 delegados até agora e assumiu a liderança na contagem.

Os novos apoios foram fundamentais para duas vitórias estratégicas de Biden: Amy Klobuchar, senadora por Minnesota, e Beto O'Rourke, do Texas, que desistiu de concorrer à Casa Branca ainda no ano passado.

O'Rourke não se identificava com o campo dos moderados e pegou analistas de surpresa ao declarar endosso a Biden nesta semana.

Já Sanders venceu em 4 dos 14 estados da Super Terça, um deles a Califórnia, mais importante região em jogo, com 415 delegados, e soma 501 delegados, segundo a agência Associated Press.

Com impulso da Carolina do Sul, o voto dos negros carregou Biden nos estados do sul americano que estavam em disputa na Super Terça.

Ele teve 66% desse eleitorado na Virgínia, 56% na Carolina do Norte, 70% no Alabama e 50% no Texas, por exemplo.

A vitória nos dois primeiros, moderados e considerados estados-pêndulo na eleição nacional, foi fundamental para Biden colocar à prova sua capacidade de formar uma base ampla contra Trump.

O argumento do ex-vice-presidente, escorado no establishment do partido, é que o senador não consegue atrair moderados e, sem eles, é impossível vencer o presidente e voltar à Casa Branca.

Sanders, por sua vez, foi sustentado principalmente pelo voto dos latinos: 46% desse nicho deram apoio a ele na Califórnia, 42% no Colorado e 39% no Texas, onde a eleição foi apertada.

O progressista ganhou delegados mesmo onde Biden venceu —e vice-versa—, pois teve desempenho acima de 15%, piso em cada estado para conseguir levar delegados proporcionalmente à votação.

Em 2016, os latinos foram uma das grandes fragilidades do senador.

Neste ano, sua campanha focou esse eleitorado e conseguiu formar com ele um muro favorável a Sanders na Costa Oeste do país.

Biden e Sanders emergem da Super Terça consolidados como os dois nomes da disputa democrata e, até a convenção de julho, precisam duelar pelo apoio daqueles que não estão dispostos a votar em qualquer nome para vencer Trump.

Enquanto o progressista tenta avançar sobre o eleitorado negro e mais velho nas próximas primárias, o ex-vice-presidente terá que atrair jovens e latinos.

Agora, os democratas entraram na fase do tudo ou nada para impedir a reeleição de Donald Trump.

Da Casa Branca, o presidente assiste à guerra da oposição apoiado na máquina do governo e nos índices econômicos que, mesmo com as ameaças de recessão global, ainda não recuaram de maneira significativa.

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