Coronavírus abala turismo na Tailândia e põe futuro de elefantes em risco

Queda no número de viajantes pode levar donos a pedirem esmolas acompanhados dos animais

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The New York Times

Mais de uma década atrás, os donos de elefantes frequentemente levavam seus animais para as cidades da Tailândia e pediam esmolas nas ruas.

Outros elefantes eram colocados para trabalhar na extração ilegal de madeira na fronteira com Mianmar, para derrubar árvores e arrastar os troncos para fora da floresta.

Pouco a pouco a Tailândia conseguiu reduzir essas práticas e melhorar as condições de vida dos elefantes domesticados. Agora, porém, o coronavírus, que está levando pessoas em todo o mundo a adoecer, pode colocar esses avanços em risco.

Uma redução repentina do turismo internacional levou ao fechamento de dezenas de parques de elefantes e atrações turísticas semelhantes, deixando mais de mil elefantes na Tailândia sem trabalho e colocando o futuro deles em risco, disseram operadores dessas atrações.

Turistas brasileiros no Parque de Elefantes Maetaeng, na cidade de Chiang Mai, Tailândia - Adam Dean - 22.mar.20/ The New York Times

Nos últimos anos, a principal preocupação citada por defensores do bem-estar de animais quando falam das muitas atrações da Tailândia envolvendo elefantes é a possibilidade de os passeios de turistas nas costas de elefantes constituírem um abuso.

Para muitos donos de elefantes, porém, a preocupação mais urgente agora é alimentar seus animais.

Alimentar um elefante pode custar até US$ 40 (R$ 202) por dia, mais de três vezes o salário mínimo diário na Tailândia.

Theerapat Trungprakan, presidente da Associação Aliança de Elefantes da Tailândia, que reúne operadores de atrações turísticas envolvendo elefantes, receia que, sem uma intervenção por parte do governo, alguns elefantes terão que voltar às ruas ou até mesmo à atividade madeireira ilegal.

“Não queremos ver o retorno dessas alternativas de sobrevivência”, disse Theerapat. “Isso pode colocar em risco o bem-estar dos animais. Podemos ver elefantes vagando pelas ruas à procura de bananas ou cana-de-açúcar.”

A Tailândia, que até quarta-feira (25) informara 934 casos de coronavírus e quatro mortes, fechou as escolas e os locais de entretenimento e está incentivando a população a permanecer em casa para barrar a propagação do vírus.

O surto inicial de coronavírus na China levou a uma queda repentina do turismo na Tailândia, enquanto ambos os países impunham restrições às viagens.

Mais de um quarto dos 40 milhões de turistas que foram à Tailândia em 2019 vieram da China.

O número total de turistas que visitaram a Tailândia em fevereiro foi 44% inferior ao de fevereiro de 2019. Diante das novas restrições impostas às viagens e às atividades, o turismo caiu ainda mais em março.

O turismo ocupa um lugar enorme na economia tailandesa. Antes da chegada do vírus, viagens e turismo eram responsáveis por mais de 20% do PIB nacional e empregavam quase 16% de sua força de trabalho.

Os efeitos estão sendo sentidos em todo o país. Os hotéis estão vazios, e os táxis, parados.

Eventos importantes foram adiados ou cancelados, entre os quais as festas do Ano Novo tailandês, que normalmente acontecem em abril, além da primeira Convenção Mundial de Muay Thai da WBC, que havia sido programada para este mês em Bancoc.

As atrações envolvendo elefantes foram fortemente prejudicadas, segundo seus operadores.

Borpit Chailert, gerente geral do Parque de Elefantes Maetaeng, situado ao norte da cidade da Chiang Mai, disse que 85 empresas desse tipo no norte do país suspenderam suas operações temporariamente devido à falta de visitantes.

Ele disse que o parque de Maetaeng, um dos maiores de seu tipo no país, continua aberto, mas que o número de visitantes que recebe diminuiu 90%, obrigando a empresa a reduzir as horas de trabalho dos funcionários. Antes o parque recebia até mil visitantes por dia. No sábado passado, houve apenas quatro.

Há cerca de 3.800 elefantes domesticados no país. Soltá-los na floresta, onde vivem por volta de 3.000 elefantes selvagens, não é uma opção viável, mesmo porque as leis do país não o permitem; na floresta, os elefantes domesticados competiriam com os elefantes selvagens.

“Os elefantes domesticados não sabem procurar alimento na floresta, porque estão acostumados a ser alimentados”, disse Borpit. “Imagine o que aconteceria se soltássemos 3.000 elefantes na floresta ao mesmo tempo. Não haveria comida suficiente para todos.”

O elefante é o símbolo nacional da Tailândia. Alguns elefantes foram usados na extração de madeira durante gerações, até 1989, quando, diante da destruição acelerada de suas florestas, o país proibiu quase toda a atividade madeireira comercial.

Mais recentemente, muitos elefantes cativos foram postos para trabalhar em atrações turísticas, frequentemente em operações pequenas com cerca de uma dúzia de animais onde os turistas podem fazer passeios de elefante.

Os defensores do bem-estar animal dizem que o treinamento e trato dos elefantes nesses locais frequentemente envolvem crueldade. Eles pedem o fim do uso de animais em circos e dos passeios de turismo sobre elefantes.

Para eles, o melhor é que os turistas apenas observem os animais em refúgios, que formam uma parte crescente das atrações.

Uma entidade que promove o bem-estar de elefantes na Tailândia, a Fundação Amigos do Elefante Asiático, vem exortando o governo há muito tempo a criar um fundo para este tipo de emergência turística.

“Esses recursos seriam importantes, porque, sem receita nenhuma, como os donos de elefantes e de parques conseguirão comprar comida para seus animais?”, disse a cofundadora e secretária-geral da organização, Soraida Salwala. “Estou muito preocupada com esta situação.”

Theerapat, presidente da Associação Aliança de Elefantes da Tailândia, disse que a maioria dos elefantes nas atrações turísticas do país é alugada de seus proprietários.

Se os parques os devolverem, disse ele, alguns dos donos dos animais podem decidir que não têm outra escolha senão pedir esmolas.

Ou então alguns elefantes serão forçados a arrastar troncos nas fronteiras com Mianmar e Laos, onde correrão o risco de pisar sobre minas terrestres remanescentes de conflitos na região, afirma.

“Esses elefantes têm que viver em áreas de alto risco”, disse Theerapat. “Quando eles voltam, em algumas das áreas ainda ocorre a extração ilegal de madeira. Quando o dinheiro do dono do animal está chegando ao fim, ele pode enxergar isso como uma saída.”

Tradução de Clara Allain

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