O governo americano anunciou nesta segunda-feira (9) que começou a retirar parte de suas tropas do Afeganistão, como previsto no acordo de paz assinado por Washington com o Taleban há dez dias.
A decisão acontece apesar das desavenças entre o grupo radical islâmico e o governo afegão, que têm travado a aplicação do acordo.
Washington não informou quantos soldados deixarão o país neste momento e afirmou apenas que até julho pretende reduzir seu contingente no país para 8.600 soldados —atualmente há cerca de 13 mil militares americanos no Afeganistão.
A informação sobre a retirada foi inicialmente dada pela agência de notícias Associated Press e depois confirmada pelo coronel Sonny Leggett, porta-voz da operação americana no Afeganistão, à rede de TV CNN.
Segundo a agência, a saída de uma leva de soldados do Afeganistão já estava prevista para acontecer neste momento, antes da assinatura do acordo, mas eles seriam substituídos por novos combatentes.
Com o pacto, o governo americano decidiu cancelar a substituição e dar início à retirada.
De acordo com Leggett, a saída vai continuar pelos próximos meses até que o contingente diminua para 8.600 soldados.
Quando isso acontecer, a retirada será paralisada, e o comando militar dos EUA no Afeganistão irá avaliar se o Taleban cumpriu sua parte do acordo, de deixar de realizar ataques no país, antes de definir se a saída dos soldados vai continuar ou se será cancelada.
Segundo a CNN, ao autorizar o início da retirada, a Casa Branca considerou que o grupo conseguiu diminuir a violência no país nos últimos dez dias, apesar de alguns ataques terem ocorrido —as tropas americanas realizaram um ataque aéreo contra posições do grupo na última quarta (4).
O acordo assinado em 29 de fevereiro entre os EUA e o Taleban não contou com o apoio do governo afegão.
Pelo acerto, o Taleban se compromete a parar de fazer ataques, a não apoiar grupos terroristas e a negociar com o governo afegão. Em troca, todas as tropas dos EUA e da coalizão da Otan deixarão o país até abril de 2021, e o grupo ficará livre de sanções, caso os termos acordados sejam cumpridos.
O governo dos EUA prometeu ainda libertar cerca de 5.000 prisioneiros ligados ao Taleban. Em troca, o grupo soltará cerca de 1.000 presos.
Esse ponto, porém, foi colocado em dúvida no dia seguinte à assinatura do pacto, quando o presidente afegão, Ashraf Ghani, rejeitou a possibilidade de libertar os prisioneiros.
O ponto mais sensível do acordo é exatamente o que prevê que o Taleban e o governo afegão devem iniciar conversas para buscar um acordo de paz entre eles —o desenvolvimento dessas negociações, porém, não interferem na retirada das tropas previstas no acerto entre o grupo e os EUA.
As negociações entre Cabul e o grupo islâmico estavam previstas para começarem nesta terça-feira (10), mas foram adiadas. Com isso, Ghani deve usar a data para anunciar novas exigências para essas negociações e divulgar as condições para a liberação dos prisioneiros.
O próprio Ghani, porém, está no momento envolvido em uma crise política com o líder opositor Abdullah Abdullah.
Os dois disputaram o segundo turno da última eleição presidencial, em setembro do ano passado. Após os resultados iniciais darem vitória a Ghani —que buscava a reeleição— por uma margem apertada, Abdullah se recusou a aceitar o resultado e anunciou o plano de montar um governo paralelo.
Só no último dia 18, cinco meses após a realização do pleito, é que a vitória de Ghani foi confirmada oficialmente pela comissão eleitoral, o que fez aumentar o temor de novos confrontos.
Nesta segunda, os dois rivais tomaram posse em cerimônias paralelas, embaralhando ainda mais a situação.
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