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Europa e América do Sul fecham fronteiras para tentar conter coronavírus

Comissão Europeia anuncia que estrangeiros não poderão entrar em 31 países do continente, por ao menos 1 mês

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Bruxelas e Buenos Aires

Para tentar combater a pandemia de coronavírus, parte da Europa e vários países da América do Sul fecharam temporariamente suas fronteiras para todos os estrangeiros a partir desta segunda-feira (16).

Na União Europeia, a entrada estará proibida por ao menos 30 dias.

A medida foi anunciada pela presidente da Comissão Europeia (Executivo do bloco), Ursula von der Leyen, na tarde desta segunda (16) e engloba os 27 países da União Europeia mais quatro que fazem parte da zona Schengen, espaço de livre circulação dentro do continente.

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A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen - Johanna Geron/Reuters

Exceções serão abertas apenas para cidadãos europeus, residentes e seus familiares diretos, profissionais de saúde ou de transporte, diplomatas, cientistas e em casos de emergência.

“Para ser efetiva, a restrição deve ser acompanhada por todos os membros da zona Schengen [que inclui países que não são da União Europeia, como Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein], disse Ursula no anúncio da medida.

Como o Reino Unido ainda está em período de transição pós-brexit, cidadãos britânicos não serão afetados pela restrição.

Propostas da Comissão Europeia precisam ser aprovadas pelos chefes de governo de todos os países membros, o que deve acontecer nesta terça (17), segundo Ursula e o presidente do Conselho Europeu (grupo dos líderes), Charles Michel.

Ursula disse que a maioria dos países foi informada durante o final de semana e concordou com as medidas, e outros estão sendo contatados nesta segunda.

A Comissão Europeia quer criar também linhas expressas de passagem (chamadas de green lane) de carga entre os estados membros do bloco.

Eric Mamer, porta-voz de Ursula, disse que longas filas de caminhões estão se formando nas estradas, impedindo que alimentos, remédios, peças e insumos cheguem às fábricas e prejudicando a produção, inclusive de equipamentos de saúde.

Na indústria, o problema fica ainda mais grave porque a produção é feita no sistema “just in time”, com estoques baixos, e qualquer falha na logística desajusta a produção.​

Os líderes dos 27 países da UE se reuniram em teleconferência para discutir detalhes e novas medidas de combate à pandemia.

"Mais virá", disse a presidente da Comissão Europeia ao final do vídeo em que anunciou o fechamento das fronteiras.

"A batalha será dura e longa e vai precisar da ajuda de cada um. Cada cidadão, individualmente, deve obedecer às restrições de seus países para que consigamos vencer a crise", disse o presidente do Conselho Europeu (grupo dos chefes de governo dos 27 países membros), após reunião com Ursula e o G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido).

Na América do Sul, o movimento começou com a Argentina, que anunciou, ainda no domingo à noite, o fechamento das fronteiras aos estrangeiros por pelo menos 15 dias e o cancelamento dos voos provenientes da Europa e dos Estados Unidos por um mês.

A entrada no país, que registra 56 casos da doença e duas mortes, está restrita a argentinos e residentes.

Os turistas pegos desrespeitando a quarentena que deveriam cumprir, em hotéis, estão sendo repatriados —foram 270 entre domingo e segunda.

O governo agora estuda como repatriar os argentinos que estão na Europa e nos EUA e que tiveram a volta para casa cancelada. Deve haver voos da Aerolíneas Argentinas, empresa estatal, específicos para este fim, ou voos especiais, dependendo do país.

Na sequência dos argentinos, outros governos anunciaram medidas mais duras para tentar conter a disseminação da doença.

A Colômbia restringiu a entrada apenas a colombianos e residentes. Mesmo assim, os que chegarem de países de risco deverão cumprir quarentena de 14 dias. Há 54 casos no país e nenhuma morte até o momento.

O Paraguai, que já havia anunciado o fechamento parcial de pontos da fronteira terrestre, também anunciou que, a partir desta segunda (16), só entrarão no país paraguaios ou residentes e, mesmo assim, terão de fazer quarentena. O Paraguai registra oito casos confirmados da doença.

O Chile, com 155 casos registrados, também fechou as fronteiras para estrangeiros. O presidente Sebastián Piñera anunciou ainda que cruzeiros estão proibidos de usar os portos do país.

No Peru, o presidente Martín Vizcarra ordenou o fechamento das fronteiras, com exceção a cargas, e obrigou aos recém-chegados que façam quarentena. O país tem 86 casos confirmados.

Já o governo do Uruguai anunciou o fechamento de sua fronteira com a Argentina a partir da 0h desta terça-feira (17). O país tem 26 casos. Questionado sobre o Brasil, o presidente Luis Lacalle Pou afirmou que se trata de um “assunto mais complexo” e que discutirá a medida nos próximos dias.

O ditador Nicolás Maduro decretou nesta segunda-feira uma quarentena nacional na Venezuela depois que 16 novos casos foram confirmados. O número total de infectados no país aumentou para 33, e até agora nenhuma morte foi registrada.

O país já havia adotado essa medida na capital, Caracas, e em alguns estados nesta segunda, mas muitos venezuelanos saíram às ruas de qualquer maneira, dizendo que não podiam se dar ao luxo de não trabalhar diante da severa crise econômica pela qual o país passa.

O ditador acrescentou que a Venezuela receberá remessas de remédios de Cuba, além de equipamentos de proteção e milhares de kits de teste da China.

Na Argentina, novas restrições foram anunciadas ao longo desta segunda-feira. Shows e festivais estão sendo cancelados ou adiados, e jogos de futebol foram suspensos.

Vários restaurantes estão fechando por conta própria, enquanto o governo diz que ainda se adotará um protocolo em relação a esses estabelecimentos. Discotecas estão proibidas de abrir as portas.

Os casamentos já marcados só poderão ocorrer com a presença de duas testemunhas, para evitar aglomerações, e as aulas, assim como nos países listados acima, estão suspensas por 15 dias.

Em Buenos Aires, as principais redes de supermercados exibem cartazes pedindo que as pessoas não comprem muito, para fazer estoque. Em algumas delas, já falta carne, arroz e papel higiênico.

Os supermercados cujos donos são chineses, que costumam ter muito movimento porque cobram preços menores, estavam vazios.

A reportagem da Folha fez uma compra num deles e ouviu a reclamação da caixa: "Eu e meus irmãos viemos da China há seis anos, nunca mais voltamos para lá, e mesmo assim as pessoas não querem vir fazer compras aqui porque acham que há vírus no mercado".

O turismo também foi afetado —uma das medidas foi fechar todos os parques nacionais, um dos grandes atrativos do país. Foram suspensas as viagens do famoso Trem do Fim do Mundo, e os passeios na Patagônia e no norte do país.

Enquanto isso, totalmente na contramão, na Nicarágua, o ditador Daniel Ortega disse que não haverá fechamento de fronteiras em seu país.

Mais, convocou, ao lado da mulher e vice-presidente, Rosario Murillo, uma marcha contra o vírus, que será denominada "Amor nos Tempos da Covid-19". Será no próximo sábado.

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