Garçom que atendeu Bolsonaro em Miami diz que fez campanha para Haddad

Nos EUA há quatro anos, Franklin Oliveira afirmou que posição política não atrapalha trabalho e tirou foto com presidente

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Miami

Franklin Oliveira não sabia que seu principal cliente deste domingo (8) seria o presidente Jair Bolsonaro.

Quando foi avisado que precisaria se preparar para servir a uma festa de 40 pessoas, há duas semanas, o garçom de uma churrascaria brasileira em Miami não imaginou que conheceria o adversário do candidato para quem fez campanha em 2018.

“Preferi Haddad”, disse a jornalistas em referência ao petista derrotado por Bolsonaro no segundo turno. “Estava tudo muito polarizado. Eu não queria nenhum dos dois. Sabia que, se um ganhasse, o outro não teria sossego”, completou

O garçom Franklin Oliveira em foto com o presidente Jair Bolsonaro em restaurante de Miami
O garçom Franklin Oliveira em foto com o presidente Jair Bolsonaro em restaurante de Miami - Franklin Oliveira/Arquivo pessoal

Nos EUA há quatro anos, Oliveira não pôde votar em 2018, mas afirmou que sua preferência inicial era o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), porque se considera um “social democrata.”

Com Ciro fora da disputa, porém, foi às redes sociais defender o voto contra seu cliente deste domingo.

Vestido com o uniforme da Steak Brasil, afirma que suas posições políticas não interferem no seu trabalho.

“Por mim, está tranquilo [servir Bolsonaro]. Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso [eu serviria], que é a pessoa de quem eu tenho mais ranço na vida.”

Casado com um cubano, Oliveira tem cidadania americana e diz que precisa se comportar como “CNPJ da porta para dentro [do restaurante]” e “social security [espécie de CPF americano] da porta para fora”.

“Todos têm que ser tratados com educação. Serviria [o presidente dos EUA Donald Trump] e [a ex-presidente] Dilma Rousseff da mesma maneira.”

Ele diz que votou na petista no segundo turno de 2014, quando ainda morava no Brasil, mas que não ficou satisfeito com seu governo.

“Lula é meu crush. Quando ele foi solto, eu soltei fogos. Ele me deu a oportunidade de fazer faculdade, e só estou aqui nos EUA por causa dele.”

Oliveira cursou pedagogia na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, financiado pelo Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), uma das bandeiras da gestão do PT.

"Por isso fui trabalhar no banco, onde conheci meu marido, e vim morar nos EUA, onde trabalho muito, mas tenho uma vida confortável.”

Nascido no Rio, Oliveira disse que Bolsonaro foi simpático, falou “daquele papo de sempre de acabar com o socialismo” e criticou mais uma vez o ator Leonardo DiCaprio. O presidente afirma que o americano colaborou com as queimadas na Amazônia.

Apesar disso, Oliveira disse que gostou de ter servido Bolsonaro neste domingo e até tirou uma foto com o presidente para guardar de recordação. “Foi um prazer receber o nosso representante da República.” 

O garçom afirma ainda que pretende voltar ao Brasil, onde quer retomar o trabalho de escritor sob o pseudônimo “o romancista iludido”.

Por questões de segurança, somente dois garçons foram destacados para servir Bolsonaro e seus convidados —no grupo, estava presente o bicampeão mundial de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi.

Os dois profissionais, explica Oliveira, eram apoiadores do presidente, mas ele foi destacado pelo gerente da churrascaria para fazer o que chamam de apresentação da mesa, uma espécie de boas vindas, e acompanhar o serviço.

“O meu chefe sabe das minhas posições políticas, mas também sabe que isso não me atrapalha. Sou bom funcionário.”

Ainda segundo Oliveira, uma das garçonetes se recusou a servir ao presidente. “Ela foi chorar no banheiro. É brasileira e tem posições de extrema esquerda, defende o regime de Cuba.”

Bolsonaro comeu salada e carne (o rodízio no local custa US$ 29,95, cerca de R$ 139,1) e bebeu uma Coca-Cola, enquanto a primeira-dama, Michelle, preferiu água com gás. O general Augusto Heleno (GSI), conta Oliveira, pediu uma taça de vinho tinto.

O almoço foi organizado pelo cônsul do Brasil em Miami, habitué da churrascaria.

Quando Bolsonaro desceu para se servir de salada e, depois, para ir embora do restaurante, foi aplaudido por clientes, que gritavam “mito.”

A jornalistas o presidente disse que sua relação com Trump “está cada vez melhor.”

Esta é a quarta visita de Bolsonaro aos EUA. No sábado (7), o presidente jantou com Trump.

Neste domingo, além do almoço na churrascaria, Bolsonaro participou da assinatura de um acordo militar inédito entre Brasil e EUA na área de defesa.

Ele ainda vai se encontrar com empresários e investidores e com a comunidade brasileira e, na terça (10), fará uma visita à fábrica da Embraer, em Jacksonville.

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