Descrição de chapéu Coronavírus

Peru fechará novamente fronteiras, e brasileiros no país se desesperam

Turistas estão sem informação; avião de sexta voltou com lugares vazios, segundo eles

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

“Pessoal que está em Cusco, por favor, vão para a Plaza de Armas agora!”, grita, nervosa, a voz feminina no áudio enviado em um dos grupos de WhastApp de turistas brasileiros no Peru. É a publicitária Lisiane Ferreira, 28, uma das pessoas que ficaram retidas no país desde que o presidente Martín Vizcarra anunciou o fechamento de fronteiras aéreas e terrestres no último domingo (15), para tentar conter o avanço do coronavírus.

Em um vídeo, ela chora: "A gente pede encarecidamente para as linhas aéreas, a embaixada e o governo que nos ajudem, que mandem aviões para cá para nos retirar daqui hoje. Por favor".

O governo peruano publicou na terça-feira (17) um decreto que permitia excepcionalmente a repatriação de estrangeiros no país e de peruanos no exterior. Desde então, o Itamaraty conseguiu que três voos chegassem ao país com esse objetivo. Eles, porém, eram destinados apenas a passageiros que já eram clientes das companhias Latam e Gol.

Na noite de sexta (20), o ministro da Defesa peruano anunciou, em entrevista a uma TV local, que a partir de domingo (22) as fronteiras fecharão, inclusive para voos humanitários. Ou seja, este sábado (21) seria o último dia para retirar os estrangeiros do país durante a quarentena, que inicialmente é de 15 dias, mas pode ser prorrogada.

Brasileiros que ainda estão no país se desesperaram com a notícia. No início da tarde, um voo saiu levando 182 pessoas que estão em Cusco —que é descrita como uma zona de guerra neste momento de quarentena.

Muitas pessoas que não estavam na lista de passageiros divulgadas pela embaixada foram até o aeroporto tentar a sorte, especialmente depois que souberam que nos voos de sexta-feira (20) houve brasileiros que conseguiram embarcar por terem ido até a embaixada, mesmo sem estar nas lista. A notícia gerou revolta entre os que decidiram seguir as instruções da embaixada e esperar por informações nos hotéis.

“Se vier todo mundo de Cusco para cá, vai dar briga, vai dar confusão, mas por enquanto a polícia está organizando as filas. Uma é com lista, outra sem lista. Não tem ninguém da embaixada brasileira e acabou de chegar mais um ônibus aqui”, disse Lisiane.

Brasileiros na fila para entrar no aeroporto de Cusco na tentativa de serem repatriados após fronteiras fecharem por coronavírus
Brasileiros na fila para entrar no aeroporto de Cusco, Peru, na tentativa de serem repatriados após fronteiras fecharem por coronavírus - Lisiane Ramos Ferreira/Arquivo pessoal

Depois que o check-in foi encerrado, ao menos 150 ficaram de fora, inclusive alguns que disseram ter o nome na lista original de passageiros original. Uma delas é Maiara Aguilar, 30, assistente administrativa, gravou um vídeo dizendo que tem problema renal, está sem remédios e tem uma cirurgia marcada no Brasil. "A gente não tem mais dinheiro, não tem onde ficar porque nosso nome estava na lista e fechamos a estadia." Ela cita também o caso de um brasileiro que tem câncer e está na mesma situação.

A embaixada do Brasil em Lima divulgou em suas redes sociais que neste domingo um diplomata e um militar irão a Cusco para auxiliar os turistas. Informou, ainda, que mesmo com o fechamento de fronteiras anunciado pelo ministro da defesa peruano "permanecem autorizados voos 'charter' para repatriação de turistas estrangeiros que permanecem no Peru, mediante tramitação diplomática".

Questionado pela Folha, o Itamaraty enviou nota dizendo que “os esforços estão concentrados em gestões diplomáticas para abertura excepcional de espaços aéreos, e em entendimentos com companhias aéreas, para a realização de voos destinados a repatriar os brasileiros”.

Segundo o ministério, não há, até o momento, previsão de voo da FAB (Força Aérea Brasileira) para repatriar os que estão no Peru.

“Recomenda-se a todos os cidadãos brasileiros no exterior que mantenham a serenidade e observem estritamente as medidas determinadas pelas autoridades locais, e que, se necessário, busquem contato direto com o Consulado ou Embaixada do Brasil responsável pela região onde se encontram.”

A publicitária Lisiane Ferreira, que decidiu ir ao aeroporto para ver se consegue ser repatriada no voo que sai neste sábado de Cusco
A publicitária Lisiane Ferreira, que decidiu ir ao aeroporto para ver se consegue ser repatriada no voo que sai neste sábado de Cusco - Lisiane Ferreira/Arquivo Pessoal

De acordo com o Itamaraty, havia 3.770 turistas do país em território peruano quando as fronteiras fecharam pela primeira vez, no último domingo. Não há informações oficiais sobre quantos já foram repatriados até agora.

Aqueles que estão fora de Lima e de Cusco não tiveram notícia sobre o que acontecerá com eles. Segundo uma lista informal que circula nos grupos, há pelo menos 16 brasileiros na cidade de Arequipa e 19 divididos entre Lobitos, Talara e Piura. Outro grupo está espalhado por municípios no norte do país.

Sem informações claras sobre a situação, os brasileiros se arriscam, saindo do hotel em meio à quarentena, para tentar pressionar a embaixada. Um grupo que ainda está em Lima foi na manhã deste sábado (21) até a sede da representação diplomática na capital peruana, na tentativa de obter informações.

Foram informados de que em 10 minutos sairia um ônibus em direção ao aeroporto, onde chegaria o voo da Latam vindo de Cusco com algumas vagas remanescentes. "Eu estava sem mala, sem nada. Pedi para uma viatura pelo amor de Deus para me trazer em casa, peguei o consegui e voltei em 10 minutos. Chegando lá o ônibus já tinha ido embora. Tinha uma moça chorando com a filha e ofereci carona", conta Jhonatan Souza, 25.

Ele afirma que a embaixada conseguiu sete lugares em negociação com a Latam e para levar idosos, uma pessoa doente e uma grávida. "Quando estávamos indo embora eles voltaram chorando porque a Latam não os aceitou por algum motivo", relata.

Na noite de domingo (15), o presidente Martín Vizcarra decretou estado de emergência nacional por 15 dias para evitar a propagação do coronavírus.

A medida teve aplicação quase imediata: estrangeiros e locais têm que obedecer a uma quarentena obrigatória, museus e restaurantes já não podem funcionar e o transporte internacional e doméstico está suspenso desde as 23h59 de segunda (16).

Brasileiros foram pegos de surpresa e ficaram sem opção de transporte para voltar, retidos em cidades com comércios e hotéis fechados com a orientação de não saírem às ruas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.