Símbolo da Revolução Sandinista, padre Ernesto Cardenal morre aos 95 na Nicarágua

Expoente da Teologia da Libertação, sacerdote foi protagonista da revolução sandinista

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Manágua | AFP

O poeta e padre nicaraguense Ernesto Cardenal morreu neste domingo (1º), aos 95 anos, devido a uma parada cardíaca.

Ele havia sido hospitalizado dois dias antes por problemas respiratórios derivados de uma descompensação generalizada.

“Morreu em paz absoluta, não teve dor”, afirmou Luz Marina Acosta, assistente de Cardenal há mais de 40 anos. 

O poeta e padre nicaraguense Ernesto Cardenal em sua casa, em Manágua
O poeta e padre nicaraguense Ernesto Cardenal em sua casa, em Manágua - Oswaldo Rivas - 16.fev.17/Reuters

Expoente da Teologia da Libertação, que combina ensinamentos religiosos e luta por justiça social, o padre foi protagonista da revolução sandinista.

O célebre escritor de obras como “Hora Zero”, “O Evangelho de Solentiname” e “Oração por Marilyn Monroe e Outros Poemas” completou 95 anos no dia 20 de janeiro ao lado de sua família. Ele nasceu em Granada em uma das famílias mais influentes do país.

Pouco após a divulgação da morte, o regime do ditador Daniel Ortega, de quem Cardenal se tornou um ferrenho crítico, decretou três dias de luto nacional e anunciou que “participará das cerimônias de agradecimento e despedida deste irmão nicaraguense”.

Ortega e Cardenal foram companheiros durante a guerrilha da Frente Sandinista contra a ditadura de Somoza.

Quando a revolução triunfou, Cardenal foi nomeado ministro da Cultura, cargo que ocupou por cerca de oito anos, mas posteriormente ele se distanciou do líder sandinista por diferenças políticas, o que fez com que fosse perseguido quando Ortega retornou ao poder, em 2007. 

Em fevereiro de 2017, usando a mão pesada do sistema judicial, Ortega, ao lado de sua mulher e vice, Rosário Murillo, notificou Cardenal de que ele deveria pagar uma multa de US$ 800 mil (R$ 2,9 milhões) por supostos danos e prejuízos em disputa relacionada à posse de terrenos em Solentiname.

Foi lá que Cardenal fundou sua comunidade de pescadores, camponeses e artistas primitivistas.

Cardenal denunciou a multa como perseguição política “por parte do governo de Daniel Ortega e de sua mulher, que são donos de todo o país, até da Justiça, da polícia e do Exército". "Mais não posso dizer, porque esta é uma ditadura", afirmou o religioso em entrevista ao El País.

Em 1984 Cardenal foi suspenso pelo papa João Paulo 2º por sua militância política durante a Revolução Sandinista (1979-1990). Um ano antes do afastamento da igreja, em março de 1983, foi ao aeroporto para receber João Paulo 2º em visita à Nicarágua.

Quando o papa se aproximou, Cardenal se ajoelhou e tomou sua mão para beijá-la. O papa tirou a mão e, apontando o dedo indicador da mão direita, lhe disse que antes teria que se reconciliar com a igreja.

Em fevereiro de 2019, o papa Francisco retirou a suspensão e readmitiu Cardenal na Igreja Católica como padre.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.