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Rival convida Netanyahu para formar governo de união contra o coronavírus

Em mais uma reviravolta, Gantz faz aceno a premiê para tentar resolver crise política no país

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São Paulo e Jerusalém | Reuters

A crise política que atinge Israel há quase um ano teve uma nova reviravolta nesta segunda-feira (16), e o país agora pode ter um governo de união nacional formado pelos rivais Benny Gantz e Binyamin Netanyahu para combater o surto de coronavírus.

A indefinição de quem vai comandar o país, que já dura 11 meses —e três eleições—, aconteceu em grande parte porque os dois até o momento vinham se recusando a formar um governo de coalizão.

Nesta segunda, porém, Gantz convidou o atual premiê para que ambos negociem um acordo que tenha como objetivo o combate ao vírus —o país tem 298 casos confirmados até esta segunda.

Entrada da cidade velha de Jerusalém nesta segunda (16); com restrição a turistas no país, local ficou vazio
Entrada da cidade velha de Jerusalém nesta segunda (16); com restrição a turistas no país, local ficou vazio - Emmanuel Dunand/AFP

"É hora de acabarmos com as palavras vazias. É hora de abaixarmos nossas espadas, unirmos nossas tribos e derrotarmos o ódio", disse. "Farei tudo em meu poder para estabelecer dentro de alguns dias o governo mais amplo e patriótico possível."

Líder da sigla centrista Azul e Branco, Gantz deu as declarações depois de receber oficialmente do presidente Reuven Rivlin a tarefa de formar um governo.

A medida foi uma derrota para Netanyahu, líder do partido de centro-direita Likud. Isso porque sua sigla foi a mais votada na eleição do último dia 2, quando conquistou 36 cadeiras, contra 33 do Azul e Branco —o Parlamento tem 120 deputados.

Netanyahu chegou a comemorar vitória após o resultado do pleito ser anunciado, mas até o momento ele conseguiu reunir apenas o apoio de siglas de direita e ultraortodoxas, insuficientes para conseguir a maioria na Casa.

Assim, Rivlin consultou as outras legendas para decidir quem deveria ter a prioridade para tentar formar o governo. Nesse cenário, Gantz conseguiu virar o jogo e atraiu 61 parlamentares, contra 58 de Netanyahu e 1 abstenção.

Isso aconteceu porque o líder do Azul e Branco recebeu o apoio da esquerda israelense, da Lista Árabe Unida, que representa a minoria árabe-israelense do país, e do direitista Israel Nossa Casa, liderado pelo ex-ministro Avigdor Lieberman, rompido com Netanyahu.

Com isso, Gantz terá agora quatro semanas —que podem ser estendida para seis— para tentar formar um governo que seja aprovado pela maioria absoluta do Parlamento.

Nenhuma coalizão na história do país foi formada por um partido com representação árabe. Ayman Odeh, líder da Lista Árabe Unida, disse que a legenda não se uniria formalmente a uma coalizão de Gantz, mas poderia lhe dar votos suficientes para governar.

Já Lieberman, do Israel Nossa Casa, declarou que apoiaria o ex-militar por considerar que o mais importante neste momento é evitar uma quarta eleição —o país teve pleitos em abril e setembro de 2019 e no início de março.

O problema para Gantz é que os árabes e o Israel Nossa Casa são rivais, e não está claro se eles apoiariam uma coalizão que tivesse o adversário —sem apoio dos dois, Gantz não tem os votos suficientes para aprovar um governo no Parlamento.

Por isso, ele indicou que aceitaria formar uma coalizão com Netanyahu para solucionar o impasse, opção que tem o apoio do presidente Rivlin.

O premiê sinalizou que poderia aceitar a proposta e participar de um governo temporário de seis meses para combater o surto, desde que ele, Netanyahu, permaneça no cargo, o que dificilmente será aceito por Gantz.

Lieberman anunciou que apoia a formação do governo de coalizão de seis meses, mas já indicou que prefere Gantz no comando, e não Netanyahu.

Depois da eleição de setembro, os dois rivais chegaram a negociar a formação de um governo de coalizão, mas não chegaram a um acordo exatamente porque tanto Gantz quanto Netanyahu não aceitaram abrir mão do cargo de primeiro-ministro.

Para dificultar ainda mais a situação, Netanyahu é acusado de corrupção. O julgamento estava previsto para começar nesta terça (17), mas foi adiado por dois meses devido ao surto de coronavírus.

Nesta segunda, parlamentares apresentaram um projeto que proíbe que deputados acusados de corrupção sejam escolhidos como primeiro-ministro, o que impediria Netanyahu de continuar no cargo, mas ainda não há previsão para que a proposta seja votada.

Premiê mais longevo da história de Israel (ele governou o país entre 1996 e 1999 e desde 2009), Netanyahu luta por sua sobrevivência política —de acordo com a lei do país, ele seguirá no cargo até que um novo nome seja escolhido.

Nesta segunda, ele anunciou uma série de medidas para tentar conter o surto de coronavírus no país, incluindo um projeto de vigilância em massa da população.

A ideia, disse Netanyahu, é usar mecanismos do combate ao terrorismo para identificar e rastrear pessoas que podem ter sido infectadas pelo vírus.

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