O discurso do premiê britânico, Boris Johnson, ao deixar o hospital depois de uma semana internado com Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus), mostra a importância da imigração para o sistema de saúde britânico.
Os dois enfermeiros que “a cada segundo das noites estavam assistindo, pensando e cuidando” de Boris são estrangeiros: Jenny, de Invercargill, na Nova Zelândia, e Luis, da região do Porto, em Portugal.
Segundo o primeiro-ministro, o cuidado dos dois foi a razão pela qual seu corpo recebeu a quantidade certa de oxigênio no momento mais decisivo, "quando a situação poderia ter ido para qualquer lado".
Jenny e Luis são parte dos 13% dos funcionários do sistema público de saúde britânico (NHS) que vieram de outro país: 1 a cada 8 é imigrante. Em Londres, a parcela é ainda maior: chega perto de 20%.
Em todo o país, são cerca de 153 mil pessoas que vieram de fora do Reino Unido. Índia, com 21 mil, e Filipinas, com 18,5 mil, são os principais países de origem, mas há imigrantes de 102 nacionalidades. Os brasileiros que atuam no NHS são 423.
A necessidade de receber imigrantes para atuar não só em hospitais mas também no cuidado de idosos foi um dos principais temas da campanha do brexit.
Os opositores à saída da União Europeia argumentavam que isso deixaria ainda mais vulnerável o serviço de saúde pública britânico, no qual já faltam 43 mil enfermeiros, segundo números de 2019.
No quadro de funcionários da saúde pública britânica, 9,5% dos médicos e 6,4% dos enfermeiros são cidadãos de países da UE. Boris, líder da campanha do brexit, prometeu à época que facilitaria a entrada de estrangeiros para trabalhar em profissões críticas, como as da área de saúde.
A dependência de imigrantes para manter o atendimento médico funcionando não é exclusividade britânica. Em todo o mundo, países desenvolvidos dependem do trabalho estrangeiro para preencher suas vagas de saúde, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
O Japão, que estima falta de 270 mil enfermeiros em cinco anos, abriu um novo programa de vistos para atrair 60 mil profissionais da área, e a Alemanha também não tem enfermeiros no país para ocupar as 36 mil vagas abertas no momento para o cuidado de doentes e idosos.
Em 2030, a estimativa é que faltem 500 mil profissionais no serviço de saúde alemão.
Na Suécia, 34% de todos os médicos e 12% dos enfermeiros são imigrantes, segundo as estatísticas mais recentes do governo (de março de 2020). Auxiliar de enfermagem ou cuidador, a profissão mais comum no país, tem um quarto (26%) de seus profissionais nascidos no exterior.
São mais de 48 mil imigrantes que trabalham como auxiliares ou cuidadores na Suécia, a maioria asiáticos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.