O ex-vice-presidente Joe Biden recebeu nesta segunda-feira (13) o apoio de seu maior rival no processo de escolha do candidato à Presidência pelo Partido Democrata —o senador Bernie Sanders—, em um gesto que tenta unificar a legenda para o embate com Donald Trump nas eleições americanas de novembro.
Até a semana passada, o senador por Vermont disputava com Biden a vaga de nome escolhido para o pleito presidencial. Após uma série de derrotas nas primárias, Sanders anunciou na última quarta (7) que deixaria a disputa, mas sem endossar diretamente o ex-vice de Barack Obama.
Por isso, o anúncio desta segunda ganhou contornos históricos. Ele foi feito durante uma transmissão ao vivo pelas redes sociais, na qual os dois antigos rivais dividiram a tela —cada um em sua casa para respeitar o distanciamento social devido à pandemia do coronavírus.
“Hoje, peço a todos os americanos —a todos os democratas, a todos os independentes e a muitos republicanos— que se unam nesta campanha para apoiar sua candidatura, que eu endosso, para garantir que derrotemos alguém que acredito ser o presidente mais perigoso da história moderna deste país”, disse Sanders a Biden, em referência a Trump.
"Nós precisamos de você na Casa Branca. E eu farei tudo ao meu alcançe para que isto aconteça, Joe", completou.
"Eu vou precisar de você. Não apenas na campanha, mas para governar", respondeu Biden, que se referiu ao senador como “a voz mais poderosa para uma América justa". O combate à desigualdade é uma das principais bandeiras de Sanders.
Biden ainda se dirigiu aos apoiadores de Sanders e prometeu ouvi-los e incluí-los em seu eventual governo.
O apoio é importante porque os dois políticos representam grupos diferentes dentro do Partido Democrata. Sanders, senador independente, é uma espécie de líder extraoficial da ala mais à esquerda, com forte apoio entre latinos, enquanto Biden simboliza a ala mais moderada e é mais forte entre a comunidade negra.
"Seu apoio significa muito para mim", disse Biden a Sanders. "Eu creio que as pessoas ficarão supresas ao ver que temos diferenças em algumas áreas, mas estamos muito próximos em diversas outras."
A decisão do senador é um forte contraste com 2016, quando ele esperou até a véspera da Convenção Nacional Democrata para endossar a então indicada, Hillary Clinton, após uma longa disputa entre os dois pela candidatura.
A ex-primeira-dama por diversas vezes já afirmou que considera que a falta de um apoio mais enfático de Sanders beneficiou Trump na eleição daquele ano.
Exatamente para não repetir a derrota de quatro anos atrás, as campanhas de Sanders e Biden vinham negociando uma aproximação nas últimas semanas, de acordo com o jornal The New York Times.
Logo após a desistência de Sanders na semana passada, Biden anunciou a incorporação de parte das propostas do ex-rival em seu plano de governo.
Durante a transmissão ao vivo desta segunda, o ex-vice-presidente disse ao senador se ele gostaria de fazer alguma pergunta.
Sanders imediatamente questionou se Biden iria apoiar suas principais propostas, como o estabelecimento de um salário mínimo nacional e a criação de um sistema universal de saúde.
Segundo o senador, já antes da pandemia de coronavírus os americanos vinham percebendo que é necessário adotar um modelo de assistência médica unificado para todos os cidadãos, em vez do atual, baseado em seguros privados.
Sanders ganhou reconhecimento nacional exatamente por apoiar esse tipo de projeto, considerado muito radical nos Estados Unidos.
Foi assim que ganhou apelo especialmente entre os jovens e ecos no movimento progressista que se intensificou no Partido Democrata após as eleições legislativas de 2018, tentando levar a legenda mais para a esquerda.
Um dos desafios de Biden agora será conquistar o apoio desse grupo —pesquisas mostram que seus índices de popularidade entre os jovens são baixos.
Para resolver suas diferenças, os dois anunciaram a criação de grupos conjuntos de trabalho em seis áreas diferentes —economia, educação, justiça criminal, imigração, saúde e mudança climática. A ideia é que eles apresentem uma plataforma comum que una as visões de Sanders e Biden.
"Eu espero que essas forças-tarefas usem as melhores pessoas e cabeças na sua campanha e na minha campanha para encontrarem soluções reais para esses problemas tão importantes", disse Sanders durante a transmissão.
O senador foi o último competidor de peso a desistir da disputa pela nomeação democrata, em uma campanha que começou com mais de 20 nomes, ainda no ano passado.
Embora Biden seja o único ainda na disputa democrata, ainda faltam alguns detalhes para ele ser confirmado como o candidato da sigla.
Projeções divulgadas nesta segunda indicam que ele venceu a primária de Wisconsin, na terça passada, e, com isso, acumula 1.248 delegados. Ele precisa chegar a 1.991 para assegurar matematicamente a vitória.
Depois, o nome dele precisa ser oficialmente confirmado durante a convenção nacional democrata, marcada para agosto após ter sido postergada devido à pandemia de coronavírus.
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