Descrição de chapéu Coronavírus

Com máscaras e receio, estados testam abertura lenta nos EUA

Texas e Geórgia afrouxam medidas de isolamento social e recebem críticas de especialistas

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Austin (EUA)

"Sem máscara, sem acesso." O aviso está escrito em cartaz colado na porta de um pequeno mercado no centro de Austin, no estado americano do Texas. Quem deixar um cliente entrar sem a proteção no rosto pode ser multado em US$ 500 (R$ 2.800).

David Hernandez, 59, proprietário do armazém, diz que o controle tem que ser rígido. "Uma multa dessas bagunçaria meu orçamento."

Com medidas de restrição ao acesso dos consumidores na loja (no máximo dez de cada vez), o mercado não precisou fechar desde que as ações para controle da pandemia da Covid-19 foram adotadas no estado, em março.

Homem espera sua mulher fazer as unhas em um salão de beleza em Marietta, na Geórgia, nos EUA
Homem espera sua mulher fazer as unhas em um salão de beleza em Marietta, na Geórgia, nos EUA - Bita Honarvar/Reuters

Mas outros serviços tiveram restrições mais duras. E, nesta sexta (24), Texas e Geórgia adotaram medidas para afrouxar essas ações —num ensaio do que o presidente Donald Trump quer para o país.

Alaska e Oklahoma também liberaram a abertura de alguns serviços na sexta. Tennessee e Carolina do Sul já anunciaram que devem afrouxar as medidas de isolamento social.

Lojas de varejo voltaram a funcionar nas cidades texanas com limites. No primeiro dia da reabertura, a demanda não empolgava os comerciantes. Na Congress Avenue, no centro de Austin, poucos estabelecimentos funcionavam. Os avisos de fechados ainda estavam nas portas.

Já shoppings e lojas de departamento decidiram abrir no primeiro dia de permissão no Texas. Clientes não puderam, porém, entrar nas lojas.

O governo estadual divulgou um guia de normas, que permite que os consumidores retirem produtos na porta dos estabelecimentos e recebam compras em casa. O pagamento precisa ser feito por telefone.

Mesmo com as restrições, o plano do governador republicano Greg Abbott foi criticado por especialistas, que defendem não haver testes suficientes para garantir uma reabertura segura.

"Sem isso [testes], estamos constantemente no escuro. Não sabemos a real situação", afirma Claus Wilke, professor do departamento de biologia computacional da Universidade do Texas. "Todos querem voltar à vida normal, mas precisamos fazer isso com segurança."

Ele projeta que o estado precisaria multiplicar por oito a capacidade de realizar os exames.

O governador texano anunciou que o relaxamento das medidas deverá aumentar na próxima semana, com a possível abertura de salões de beleza e restaurantes.

"Agora estamos começando a ver que o pior pode ter passado", disse Abbott. Segundo ele, o número de mortos, embora trágico, "não chegou nem perto das previsões terríveis e precoces".

Até esta sexta (24), mais de 500 pessoas haviam morrido em decorrência da Covid-19 no Texas, que tem registrado aumento no número de casos da doença.

Maior economia do mundo, os EUA são recordistas no número de contaminados e de mortos —mais de 890 mil pessoas já receberam diagnóstico do novo coronavírus, e pelo menos 51 mil morreram. Os dados foram compilados e divulgados pela universidade Johns Hopkins.

O plano traçado pela Casa Branca para a retomada econômica define três critérios para os estados iniciarem uma abertura: declínio no número de casos confirmados e no total de registros de pessoas com sintomas e que ainda não receberam diagnóstico, nos últimos 14 dias, e garantia de atendimento por parte dos hospitais, que devem ter um programa "robusto de testes".

Epidemiologistas criticaram os critérios adotados pelo governo. Especialistas da Johns Hopkins, por exemplo, defendem adoção de mais metas para liberar a abertura.

Entre elas, eles citam a capacidade de testar todos os pacientes com sintomas de Covid-19 e as pessoas que tiveram contato com eles —o que não está sendo feito em escala no país.

Na Geórgia, o governo local foi até agora o mais radical nas medidas de reabertura da economia. Além de lojas, salões de beleza, academias de ginástica e outros serviços voltaram a funcionar na sexta.

Segundo o jornal The New York Times, filas se formaram a partir das 7h na frente de estabelecimentos comerciais em Atlanta, capital do estado.

Na segunda-feira, restaurantes poderão abrir novamente, com limite para dez clientes por 150 metros quadrados.

Ao adotar o plano, o governador republicano Brian Kemp foi questionado até mesmo por Donald Trump, seu aliado, que já havia defendido medidas de reabertura.

O poder para determinar a abertura do comércio e de outras atividades econômicas nos EUA é dos governadores. Por isso, o guia para abertura da economia dos EUA, lançado por Trump no dia 16, teve caráter de orientação, já que os estados não são obrigados a seguir as medidas.

"Ele [Kemp] deve fazer o que achar certo, mas eu discordo das medidas anunciadas", afirmou Trump. "Ainda é muito cedo [para abrir estabelecimentos comerciais]."

A democrata Keisha Lance Bottoms, prefeita de Atlanta, pediu para as pessoas não saíssem de casa.

"Escutem os cientistas", afirmou ela em entrevista ao programa "Good Morning America", da rede ABC. "Não há nada essencial em ir a uma pista de boliche ou fazer manicure no meio de uma pandemia."

A Geórgia já teve 22 mil casos de Covid-19 confirmados e 900 mortes em razão da doença.

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