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Confisco de equipamentos médicos é fake news, diz novo embaixador dos EUA no Brasil

Todd Chapman não exclui a possibilidade de os Estados Unidos bloquearem voos brasileiros

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São Paulo

São fake news os relatos de que os Estados Unidos estão confiscando carregamentos de equipamentos médicos destinados ao Brasil, disse nesta terça-feira (7) o novo embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman.

Segundo ele, muitos fornecedores estão dizendo que os carregamentos foram bloqueados pelos EUA como desculpa para poder vender os equipamentos a preços maiores para outros clientes.

Alemanha e França estão entre os países que reclamaram recentemente de que Washington está pagando valores muito acima do preço de mercado por máscaras vindas da China. O secretário do Interior de Berlim, Andreas Geisel, chegou a descrever o ocorrido como "pirataria moderna".

O embaixador Todd Chapman, durante evento em Brasília - Alan Santos - 6.abr.2020/PR

“Alguém está usando desculpa de que está bloqueado para vender a terceiros, aproveitando-se da situação”, afirmou Chapman. “Nós estamos averiguando isso por meio do sistema de Justiça; não é permitido praticar preços abusivos, sair reajustando preços, isso é contra a lei americana.”

Os governadores do Maranhão, Flávio Dino, e da Bahia, Rui Costa, acusaram os EUA de terem confiscado um carregamento de equipamentos médicos que iria para o Nordeste.

“Compramos respiradores em conjunto com outros estados do Nordeste. Equipamentos não chegaram por causa desse confisco mundial efetuado pelos Estados Unidos. Estamos organizando nova compra no âmbito do Consórcio Nordeste, além das nossas próprias aquisições. Luta todo dia", disse Dino no Twitter.

O próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, havia afirmado que negociações brasileiras tinham sido canceladas por causa dos EUA.

A embaixada americana chegou a postar uma mensagem no Twitter no sábado (4), dizendo: "O governo dos Estados Unidos não comprou nem bloqueou nenhum material ou equipamento médico da China destinado ao Brasil. Relatórios em contrário são completamente falsos".

Questionado se os EUA enviariam médicos ou equipamentos para auxiliar o Brasil no combate à pandemia do coronavírus, Chapman disse que já existe intercâmbio de conhecimento entre os dois países por meio do escritório do órgão americano CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, na sigla em inglês) no Brasil, que existe há dez anos.

“Não precisamos mandar especialistas para o Brasil, porque eles já estão aqui, temos escritório do CDC aqui, com linha direta para Atlanta”, disse ele.

Questionado sobre as iniciativas da China de mandar médicos e doar equipamentos como forma de aumentar a influência do país por meio de uma espécie de “diplomacia das máscaras”, Chapman afirmou que é "momento de todos trabalharem em conjunto, e não de ganhar pontos".

"No momento em que a casa está em chamas, não é hora de ganhar pontos, de discutir onde começou o fogo —já sabemos onde começou o fogo, e essa não é uma declaração política, é um fato. Agora, o importante é extinguir o fogo.”

Ele disse também que os EUA, há décadas, são líderes em assistência humanitária em saúde.

Segundo ele, foram quase US$ 170 bilhões (R$ 889 bilhões) em assistência na última década somente em saúde, o que corresponderia a 40% da assistência global, valor cinco vezes maior que o segundo na lista de maiores doadores. “Esses são fatos, não é papo”, afirmou.

Chapman não respondeu se a empresa 3M poderia continuar a exportar máscaras N95 para o Brasil.

Na semana passada, invocando a Lei de Defesa da Produção, o presidente Donald Trump proibiu a empresa de exportar os itens para Canadá e países da América Latina.

A 3M protestou, dizendo que isso teria “consequências humanitárias significativas”.

No sábado, Trump rebateu: “Precisamos das máscaras. Não queremos que outras pessoas fiquem com essas máscaras, e é por isso que estamos usando a Lei de Defesa da Produção".

"Você pode chamar de retaliação, porque é isso mesmo, retaliação. Se não nos derem o que precisamos para nosso povo, nós seremos muito duros.”

No domingo, a 3M e a Casa Branca chegaram a um acordo, com uma importação emergencial de máscaras da China para suprir o mercado interno que permitiu à empresa fazer os embarques para Canadá e América Latina.

A companhia é a principal fornecedora de máscaras N95 para a região. O embaixador limitou-se a dizer que a filial da 3M no país está "trabalhando super bem, para o bem do Brasil e dos outros”.

Chapman apresentou suas credenciais ao presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira (6). O novo embaixador fala português fluente.

Seu pai era executivo de multinacional, e ele morou entre 1974 e 1980 em São Paulo, onde estudou na escola americana Chapel.

Na entrevista coletiva, realizada a distância, contou que colecionava figurinhas da Copa do Mundo e citou o ex-jogador de futebol Rivelino e a banda Secos e Molhados. Chapman serviu como diplomata na embaixada em Brasília entre 2011 e 2014.

O novo embaixador não excluiu a possibilidade de os Estados Unidos bloquearem voos vindos do Brasil, como foi aventado pelo presidente Donald Trump na semana passada.

“É sempre algo que o governo americano está avaliando, muitos países já não têm acesso direto, é importante para proteger nosso país.”

Por enquanto, os EUA mantêm 16 voos semanais diretos, importantes para 260 mil americanos que vivem hoje no Brasil.

Ele citou também a linha de swap (troca) de US$ 60 bilhões (R$ 312 bi) que o Fed, o banco central americano, deixou disponível para o Brasil. Essa linha é útil no contexto de escassez de dólares, com a debandada maciça dos investidores estrangeiros do país.

Questionado se os EUA manteriam as deportações de brasileiros durante a pandemia de coronavírus, Chapman afirmou apenas que está trabalhando bem com o governo brasileiro nesta questão.

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