Em maior repressão desde início dos protestos, Hong Kong prende 15 ativistas pró-democracia

Detenções ocorrem em meio à pausa das manifestações devido à pandemia de coronavírus

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Jessie Pang
Hong Kong | Reuters

A polícia de Hong Kong prendeu 15 ativistas neste sábado (18), na maior repressão ao movimento pró-democracia no território desde o início dos protestos em massa, em junho do ano passado.

Entre os detidos por acusações de se reunirem em assembleias ilegais estão o fundador do Partido Democrata, Martin Lee, 81, o magnata de mídia Jimmy Lai, 71, e a ex-legisladora e advogada Margaret Ng, 72, segundo fontes políticas e de veículos de imprensa.

Um parlamentar da ativa, Leung Yin-chung, e nove ex-legisladores foram presos, incluindo os ativistas veteranos Lee Cheuk-yan e Yeung Sum.

O magnata da mídia Jimmy Lai (centro) é liberado de delegacia policial após pagar fiança, em detenção ocorrida em fevereiro - Lui Siu Wai -28.fev.2020/Xinhua

Os protestos que tomaram a ex-colônia britânica, levando milhões às ruas entre junho de 2019 e janeiro deste ano, tinham como o alvo o agora descartado projeto que propunha o envio de suspeitos para serem julgados na China continental.

Os tribunais de Pequim são considerados mais severos e com menos lisura nos processos em relação aos de Hong Kong, que goza de bastante liberdade em relação ao Partido Comunista.

Com o tempo, as manifestações passaram a incluir demandas por plena democracia no território semi-autônomo e investigação pública do uso excessivo da força pela polícia.​

As prisões de sábado ocorrem após vários meses de relativa calma em meio a uma pausa dos protestos devido à pandemia de coronavírus.

A legisladora democrata Claudia Mo, que não foi detida, disse que o governo de Hong Kong, comandado pela executiva-chefe Carrie Lam, está tentando introduzir uma onda de terror na cidade.

"Eles estão fazendo o possível para tentar silenciar e acabar com a oposição", afirmou Mo, referindo-se também às eleições legislativas de setembro próximo, na qual políticos pró-democracia esperam recuperar o poder de veto na assembleia local.

O superintendente da polícia de Hong Kong, Lam Wing-ho, disse à imprensa que 14 pessoas com idades entre 24 e 81 foram presas sob acusação de organizar e participar de "assembleias ilegais" nos dias 18 de agosto, 1º e 20 de outubro do ano passado.

Naquelas datas, o território teve protestos grandes e violentos.

Cinco dos 14 também foram presos por divulgar reuniões públicas não autorizadas nos dias 30 de setembro e 19 de outubro, completou a líder de Hong Kong.

A data da corte está marcada para 18 de maio, mas Lam avisou que mais prisões podem ser feitas. Alguns dos detidos neste sábado foram em seguida soltos após pagarem fiança.

Após sua libertação sob fiança no sábado à tarde (horário local), Martin Lee disse que não se arrependeu de suas ações. "Estou orgulhoso de ter a chance de percorrer nosso caminho da democracia com os excelentes jovens de Hong Kong", disse ele.

As autoridades de Hong Kong prenderam mais de 7.800 pessoas por envolvimento nos protestos, incluindo muitas por acusações de tumultos, o que pode levar a penas de prisão de até dez anos.

Não está claro quantos deles estão sob custódia.

Em um relatório especial publicado na terça-feira (14), três dos principais juízes de Hong Kong disseram à agência de notícias Reuters que a independência do sistema judicial da cidade está sob ataque da liderança do Partido Comunista em Pequim.

O Judiciário, completaram eles, está lutando por sua sobrevivência.

Ex-colônia britânica, Hong Kong retornou ao controle de Pequim em 1997 sob a fórmula "um país, dois sistemas", que garante amplas liberdades não gozadas pela China continental e um alto grau de autonomia.

As autoridades do governo e de segurança de Hong Kong descreveram recentemente algumas das ações do movimento democrático como próximas ao terrorismo, para tentar passar novas leis de segurança nacional.

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