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Macron anuncia retomada a partir de 11 de maio e pede 'refundação' da França

Presidente francês diz que momento é de 'comoção' e que é preciso deixar ideologias de lado

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Bruxelas

A França deve sair gradualmente da quarentena a partir de 11 de maio, anunciou o presidente Emmanuel Macron na noite de segunda (13), em pronunciamento na TV.

Em discurso em que reconheceu falhas no combate à pandemia, ele pediu uma “refundação” da França. A crise do coronavírus, disse, é a chance para criar “um projeto de concórdia, um projeto francês, uma razão de viver juntos”.

“Saibamos deixar de lado as ideologias e nos reinventemos; eu, o primeiro”, afirmou Macron, em tom completamente diferente do que adotou em 16 de março, quando anunciou a quarentena e por diversas vezes repetiu “estamos em guerra!”.

Espectador assiste a pronunciamento do presidente francês, Emmanuel Macron, a partir do Palácio do Eliseu
Espectador assiste a pronunciamento do presidente francês, Emmanuel Macron - Franck Fife/AFP

A palavra que marcou a fala desta segunda foi “ébranlement”, que significa comoção, choque, atordoamento.

“Temos que reconhecer: o momento que vivemos é de comoção íntima e coletiva. Saibamos viver como tal e nos lembremos que somos vulneráveis”, disse o presidente, que pretende trabalhar a partir da próxima semana num “novo caminho” para a França.

Macron disse que, embora sejam difíceis, as medidas de restrição de mobilidade são indispensáveis para permitir que os hospitais franceses recuperem a capacidade de atender e salvem vidas.

Ele pediu que os franceses sigam as regras nas próximas quatro semanas: “Não há outra forma de agir com segurança para barrar o vírus e permitir a reconstrução”.

No dia 11 de maio, devem ser reabertas creches, escolas infantis, colégios e liceus, com reorganização tanto dos horários quanto dos espaços, para reduzir o risco de contágio.

Segundo o presidente, a volta das aulas é fundamental para impedir um aumento da desigualdade no país, já que crianças de famílias mais pobres têm menos recursos para continuar sua educação longe das escolas.

Faculdades só deverão voltar a ter aulas presenciais depois do verão, e lugares de aglomeração, como restaurantes, bares, cinemas, teatros e hotéis, ainda não têm data para reabrir.

Macron também anunciou que as fronteiras do país vão seguir fechadas para não europeus —franceses e cidadaõs da União Europeia seguem sem restrições para entrar no país.

O governo deve reavaliar a situação a cada semana para tomar novas decisões de relaxamento ou reaperto das regras. Festivais só voltarão a acontecer a partir de julho, "no mínimo", segundo o presidente.

Embora seja mais um país europeu a anunciar planos para sair da quarentena, a realidade da França é bem diferente da dos outros sete que tomaram a dianteira.

Enquanto Eslováquia, República Tcheca e Espanha já retomaram algumas atividades, os franceses precisarão cumprir mais quatro semanas de confinamento para chegar à abertura prometida.

A situação nos hospitais franceses também está longe da encontrada na Áustria e na Alemanha, onde o número de pacientes recuperados já supera a soma de doentes e mortos. A França precisou remanejar doentes de UTIs superlotadas e alguns foram transferidos para esses dois países, onde ainda há leitos disponíveis.

Com a capacidade de atendimento ainda estressada, Macron pediu que idosos, doentes e outras pessoas vulneráveis continuem em casa depois de 11 de maio. Segundo ele, até lá o governo terá capacidade para testar todas as pessoas que apresentem sintomas relacionados ao coronavírus, como febre e tosse.

Quem tiver contágio confirmado será isolado e tratado, e os contatos, monitorados. Para isso, a França também deve lançar um aplicativo, semelhante ao já apresentado na Áustria e na Alemanha, de uso voluntário.

O programa rastreia com quem o usuário se encontrou e em que datas. Em caso de infecção confirmada, ele avisa aqueles que tenham tido contato com o doente.

Macron disse que também partilha “da aflição de não saber quando será o fim desta provação”.

“Gostaria de poder responder, mas não tenho essa resposta definitiva. Nesta noite eu partilho o que sabemos e o que não sabemos, com a humildade que nos faz decidir e agir sabendo que há incertezas”, afirmou.

Segundo ele, a única solução segura será a descoberta de uma vacina confiável, e o país deve acelerar as pesquisas científicas nessa direção, além de reforçar ensaios clínicos sobre formas de tratamento.

O governo promete anunciar nesta semana novas medidas para conter danos econômicos provocados pela pandemia.

A França foi o primeiro país europeu a registrar um caso de coronavírus, em 25 de janeiro. A primeira morte veio mais de um mês depois, em 26 de fevereiro.

Três dias depois, eventos foram suspensos, mas escolas e lojas continuaram funcionando por mais duas semanas. As aulas só pararam no dia 16 de março. No dia seguinte, Macron decretou quarentena total.

Até as 19h (horário do Brasil) desta segunda havia 137.875 casos confirmados de coronavírus e 14.986 mortos no país, quarto maior número no mundo, atrás dos EUA, da Itália e da Espanha.

Curaram-se da doença 27.718 pessoas, e 6.821 estavam em estado crítico.

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