Descrição de chapéu Coronavírus

Moradores da República Tcheca contam como é começar a sair da quarentena

População vai mais à rua, mas uso de máscaras segue majoritário e normalidade é sonho distante

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Bruxelas

O relaxamento da quarentena está longe de ser a volta à vida antes do coronavírus, mas já permite fazer planos, contam moradores da República Tcheca, um dos primeiros países europeus a reabrir algumas lojas, na última quinta (9).

Aficionados por hobbies do tipo “faça você mesmo”, tchecos chegaram a fazer filas para comprar ferramentas ou instrumentos de jardinagem em alguns dos estabelecimentos autorizados a funcionar na semana passada.

“Agora é a época de começar o cultivo”, diz a professora Daisy Cervenková, 49, que planta suas próprias verduras e legumes. Lojas de roupas, artigos de bebê e bicicletarias também estão entre as que receberam licença para retomar as atividades depois de quase um mês fechadas.

Mas nada é como antes no comércio. É preciso checar a temperatura dos funcionários todos os dias, manter o distanciamento de dois metros entre os clientes, usar máscaras e fornecer um meio de higienizar as mãos na entrada.

Um dos primeiros países do continente a adotar medidas de isolamento, a República Tcheca proibiu eventos no dia 11 de março, quando ainda não registrava nenhuma morte, e anunciou uma quarentena geral no dia 15. Até esta segunda (13), o país já tem 6.022 casos confirmados e 143 mortes.

“A cidade simplesmente parou, não tinha quase ninguém nas ruas. Alguns restaurantes tentaram abrir, mas foram multados”, conta Daisy, moradora de Uherské Hradiste, no interior do país.

Pessoas com máscaras observam relógio em Praga, capital da República Tcheca
Pessoas com máscaras observam relógio em Praga, capital da República Tcheca - Michal Cizek - 8.abr.20/AFP

Praga não chegou a parar, mas a adesão às restrições foi unânime, segundo o jornalista e publicitário Massimo Parolisi, 33. No dia 18, o governo impôs o uso obrigatório de máscara nas ruas, edifícios públicos e transporte público. “Depois disso nunca vi uma única pessoa sem ela”, afirma.

Isso durou até o último final de semana, quando os dias ensolarados do feriado encheram as ruas e fizeram o Ministério da Saúde falar no risco de um “repique de Páscoa” nos casos de coronavírus.

Em Praga, a polícia registrou na sexta e no sábado 600 casos diários de desrespeito à proibição de mais de duas pessoas juntas nas ruas. O número é o dobro da média.

Em Uherské Hradiste, frequentadores dos parques também foram multados. “Vi grupos de até seis pessoas, todas sem máscaras. Acho que as pessoas ficaram menos cautelosas”, diz Daisy.

A professor Daisy Červenková, 49, e seu filho Alfréd, 13, na cidade de Uherské Hradištěa
A professor Daisy Cervenková, 49, e seu filho Alfréd, 13, na cidade de Uherské Hradiste - Arquivo pessoal

Ela também passou a sair mais vezes à rua desde a última quinta, “mas sempre de máscara”. “Sou muito medrosa”, afirma. Parolisi acha que, como Daisy, a maioria dos tchecos vai manter o equipamento de proteção.

“A população não se sente segura ainda. Os números estão diminuindo, mas o sentimento geral é que é muito cedo para reabrir completamente restaurantes, bares, shoppings”, diz ele.

Os dois moradores da República Tcheca sabem que ainda vai demorar um bom tempo para que possam voltar às atividades das quais mais têm saudades: “Tomar uma cerveja ao longo do rio, jantar fora, passar a noite num bar com amigos na sexta-feira”, diz o publicitário.

“Passear, visitar amigos”, afirma Daisy. “Sinto falta dessa liberdade de ir e vir para onde eu quiser, a hora que quiser.”

E, depois, reconstruir o que foi perdido durante a quarentena. Daisy, sócia do marido numa escola de idiomas e agência de traduções, perdeu alunos que ficaram sem trabalho e viu secarem trabalhos de tradução, com o fechamento das empresas.

“A incerteza sobre o futuro deixa as pessoas sem vontade de comprar cursos de línguas”, afirma ela.

Parolisi, que fundou e administra o Praga Morning, jornal online e agência de mídia, teve que adiar ou cancelar a produção de vídeos e a promoção de eventos e festivais.

Para compensar, atraiu clientes de venda online de refeições, roupas e ensino a distância, que tiveram aumento na demanda durante a quarentena.

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