Netanyahu e Gantz chegam a acordo para formar governo de emergência em Israel

Pandemia de coronavírus pressionou líderes a resolver impasse que já levou a 3 eleições em 1 ano

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Jerusalém e São Paulo | Reuters

Nas eleições disputadas em março, Benny Gantz disse que jamais se juntaria a um governo chefiado pelo premiê Binyamin Netanyahu, investigado por corrupção. No entanto, Gantz foi mudando de posição aos poucos, até fechar um acordo com o antigo rival nesta segunda (20).

O Likud e o Azul e Branco, partidos de ambos os líderes, anunciaram por meio de um comunicado que o objetivo da aliança é criar um governo de emergência nacional para lidar com a pandemia do coronavírus, sem detalhar como essa parceria funcionará.

Anúncios eleitorais de Benny Gantz (esq.) e Binyamin Netanyahu (dir.) nas ruas de Tel Aviv, em Israel
Anúncios eleitorais de Benny Gantz (esq.) e Binyamin Netanyahu (dir.) nas ruas de Tel Aviv, em Israel - Amir Cohen - 18.abr.20/Reuters

A doença chegou com força ao país no início de março, e, até agora, segundo a Universidade Johns Hopkins, Israel já registrou 13.713 casos e 177 mortes.

De acordo com a agência de notícias Reuters e a imprensa israelense, o mandato será dividido: Netanyahu seguirá como premiê até outubro de 2021, quando será a vez de Gantz chefiar o governo. Até lá, ele ocuparia o cargo de ministro da Defesa.

Aliados de Gantz, que reúne apoios de centro-esquerda, também seriam contemplados com ministérios. Gabi Ashkenazi, número 2 do partido Azul e Branco, deverá ser o ministro das Relações Exteriores. O gabinete deve chegar a 36 ministros, o maior já montado no país.

Na partilha de poder que está sendo montada com a divisão de cargos, o Azul e Branco e o Likud teriam força para conter as ações um do outro. Assim, mesmo que um partido não consiga implantar suas propostas, ao menos teria como bloquear medidas de que discorde.

No entanto, alguns aliados do líder do Azul e Branco romperam com ele, por considerar inaceitável uma aliança com Netanyahu, indiciado em três casos de corrupção.

No domingo (19), houve um protesto em Tel Aviv contra o premiê, e manifestantes pediram a Gantz que não fizesse o acordo. Mesmo assim, o ex-militar avançou com a ideia.

"Nós evitamos uma quarta eleição. Vamos proteger a democracia, lutar contra o coronavírus e cuidar de todos os cidadãos de Israel", publicou Gantz, em uma rede social, após o anúncio do acordo, fazendo referência ao imbróglio político que fez o país ir às urnas três vezes em menos de um ano.

"O primeiro-ministro diz que estabelecer um governo unido frente à pandemia de coronavírus é um imperativo nacional", disse um porta-voz de Netanyahu.

Juntos, Likud e Azul e Branco somam 70 dos 120 assentos do Parlamento, o que garante a maioria. Netanyahu negocia para que outros partidos de direita se juntem ao bloco, o que traria maior tranquilidade para aprovar projetos.

O acordo deve ser assinado formalmente na semana que vem, depois do Dia da Independência de Israel, celebrado em 28 de abril. O documento deve incluir a maioria das demandas de Netanyahu, como a anexação de partes da Cisjordânia, em um processo que pode começar em julho.

Netanyahu também quer poderes para vetar a nomeação de autoridades do Judiciário, incluindo a posição de procurador-geral. A ideia foi criticada por Yair Lapid, um dos principais aliados de Gantz até algumas semanas atrás.

"Gantz e Ashkenazi concordaram em permitir ao réu criminal [Netanyahu] apontar os juízes que vão julgar seus casos", publicou Lapid em uma rede social.

O premiê é acusado de fraude, de aceitar propina e de quebra de confiança. A Promotoria afirma que ele aceitou indevidamente o equivalente a US$ 264 mil (R$ 1,4 milhão) em presentes de empresários, incluindo cigarros e champanhe. Netanyahu nega as acusações.

Ele começaria a ser julgado em 17 de março, mas a sessão foi adiada por ao menos dois meses devido às restrições de aglomeração tomadas em resposta ao coronavírus.

A lei de Israel não prevê afastamento do premiê caso ele seja julgado por corrupção. No entanto, a Suprema Corte pode analisar o caso e forçar a saída de Netanyahu do cargo enquanto aguarda a sentença.

Segundo o jornal The Times of Israel, Netanyahu debate um acordo com Gantz: se ele for afastado pela Justiça, seu novo aliado não assumiria o comando, mas seriam convocadas novas eleições.

Com mais apoio, no entanto, o premiê também poderia obter imunidade judicial, proteção que só pode ser dada com aval do Parlamento.

Avigdor Lieberman, líder do partido ultranacionalista Israel Nossa Casa, celebrou a chegada ao consenso, mas disse que ficará na oposição. "Se o governo agir corretamente, nós o apoiaremos. Por outro lado, não hesitaremos em criticar", disse em uma rede social

Lieberman defendeu, na semana passada, que o Parlamento aprove leis para impedir que pessoas sob investigação possam seguir no cargo de primeiro-ministro. A medida afetaria Netanyahu. No entanto, o gesto foi visto mais como uma tentativa de forçar o premiê a chegar a um acordo com Gantz.

Netanyahu, 70, está no cargo há 11 anos consecutivos. Desde dezembro de 2018, o governo tem poderes limitados, pois o Parlamento foi dissolvido e não houve acordo para estabelecer um novo comando do país.

Foram realizadas três eleições em cerca de um ano, mas nenhum nome conseguiu votos ou apoio suficiente para ser apontado como novo governante, em um sistema que, sem um partido dominante, depende da construção de complexas coalizões.

O Knesset tem 120 cadeiras. Para se tornar governo, um partido ou coligação precisa eleger ao menos 61 cadeiras. Nos últimos três pleitos, nenhum grupo passou dessa barreira nas urnas.

A segunda opção é negociar acordos com outros partidos, até formar um bloco com mais de 61 assentos. No entanto, há um prazo de algumas semanas para isso. Sem acerto, convoca-se novas eleições, em um ciclo que se repetiu três vezes seguidas.

Nos últimos pleitos, Netanyahu foi a figura de liderança do bloco de direita, e apostou em medidas como o avanço da presença israelense em territórios pleiteados pela Palestina e na proximidade com o presidente dos EUA, Donald Trump.

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