O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, fez um pronunciamento ao vivo pela televisão na noite desta quarta-feira (15), dissipando especulações de que poderia estar doente —e por isso estava desaparecido havia mais de um mês.
Ele disse que o coronavírus é uma "ameaça que vem do exterior" e que só matou "uma pessoa" no país até agora.
Oficialmente, o país centro-americano, com 6,2 milhões de habitantes, confirma nove casos de infecção pela Covid-19 —e o dado não muda pelo menos desde segunda (13).
Os números chamam a atenção principalmente na comparação com os países vizinhos, ambos com contaminação comunitária. Ao norte, em Honduras, há 419 casos e 31 mortos. Ao sul, a Costa Rica conta 626 infectados e 4 mortes. Em ambos, adotaram-se medidas de isolamento social.
"O mundo está sendo derrotado por esse vírus. Há uma situação dramática nos países desenvolvidos porque o serviço de saúde não foi pensado para atender aos pobres, aos trabalhadores", disse Ortega.
"E eu pergunto a eles: de que serviu esse tempo todo fabricando tantas armas e deixando o povo com fome, vulnerável a esse vírus? Agora, essas armas não podem acabar com essa tragédia."
Ortega estava atrás de uma mesa, ao lado da mulher e vice-presidente, Rosario Murillo, e da cúpula de seu governo. Por trás dele, havia as bandeiras da Nicarágua e da Frente Sandinista. Nenhum deles usava máscaras.
"Estou convencido de que esse vírus que se espalhou por todo o planeta, que não pode ser detido por muros nem pelo dinheiro dos bilionários, vai redesenhar o mundo. Nós aqui na Nicarágua estamos preparados porque temos um sistema de saúde bom."
Em seu pronunciamento, o ditador destacou que a Nicarágua tem médicos "formados em Cuba e na Venezuela", além de "um estoque grande de remédios, respiradores e camas de UTI suficientes".
Segundo ele, os médicos e o Exército "estão enfrentando a batalha com muita coragem", embora até agora seu governo não tenha determinado nenhuma medida de isolamento social.
Ele disse também que o fato de a Nicarágua estar mais preparada do que as nações mais desenvolvidas explica "os menores índices do mundo" durante a pandemia.
E acrescentou que os hospitais que teriam sido destruídos pelos manifestantes anti-governo, em 2018, foram "totalmente reconstruídos e renovados e estão à disposição para enfrentar essa pandemia".
Ortega manteve a posição de não adotar medidas de isolamento social para tentar impedir a disseminação do vírus. "A Nicarágua não pode parar, não podemos morrer de fome."
O governo nicaraguense manteve as escolas estatais e o comércio abertos, além de continuar promovendo o campeonato nicaraguense de futebol —o único torneio profissional das Américas que não foi interrompido pela pandemia de coronavírus.
"O importante, como sempre, é seguir trabalhando. Nós temos o que precisamos para seguir cuidando dos nicaraguenses."
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.