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Depoimento

Pandemia não parece ter afetado consumo desenfreado das famílias chinesas

Logística de aplicativos de entrega combina perfeitamente com estratégia de distanciamento social

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Thiago Bessimo
Pequim

A convite da Folha, seis pessoas que moram na Ásia contam como a região está enfrentando a pandemia de coronavírus.

Depoimentos de Coreia do Sul, Japão, Taiwan, Hong Kong, Tailândia e este, da China continental, descrevem os diferentes controles adotados pelos governos locais e como os moradores estão tentando manter a rotina sob as novas regras.

Meio-dia em Pequim, lavo minhas mãos, coloco a máscara modelo KN95, checo minhas chaves e meu cartão de morador. Vou buscar o almoço e uma entrega que pedi dois dias atrás pelo Taobao —um equivalente da Amazon na China.

Durante o dia, ao sair pelo portão do condomínio onde vivo, quase sempre vejo uma grande quantidade de entregadores com suas motos e caminhonetes amontoando as calçadas.

A pandemia não parece ter afetado o consumo desenfreado das famílias chinesas. Pelo contrário, o consumo online ficou mais evidente no dia a dia da cidade.

A logística criada por aplicativos de entrega combina perfeitamente com a estratégia de distanciamento social imposta pelo governo no começo da crise e presente até hoje.

Entregador com máscara, uma medida de proteção contra o coronavírus, próximo a conjunto residencial em Pequim
Entregador com máscara, uma medida de proteção contra o coronavírus, próximo a conjunto residencial em Pequim - Greg Baker - 18.fev.20/AFP

Conhecidas como as artérias entupidas das cidades chinesas, comunidades residenciais por vezes organizam compras coletivas, evitando que as pessoas saiam às ruas até para comprar itens básicos.

Apesar de essas comunidades já permitirem a saída de moradores, ao retornar todos precisam checar a temperatura corporal e mostrar um cartão que comprove residência no local.

As ruas agora estão novamente cheias. Shoppings, restaurantes, escritórios, cafés e bares operam numa quase normalidade. Todos precisam usar máscaras, prática à qual a população de Pequim está acostumada, se não pela doença, pela poluição que afeta a cidade.

Fiscais anotam a temperatura corporal, número da identidade ou do passaporte, nome e telefone. É comum que peçam o escaneamento do código QR fornecido pelas operadoras telefônicas para comprovar permanência na cidade por mais de 15 dias.

Em fevereiro, no auge da crise, Pequim chegava a ter quase 30 casos confirmados por dia e foi considerada uma das regiões mais atingidas em todo o país.

E, apesar dessa aparência de normalidade, a cidade agora luta contra o retorno da doença e a importação de novos casos por pessoas vindas de outros países. Os controles de ir e vir são aplicados a todos, mas parecem focar mais quem vem de fora.

Certos prédios comerciais e estabelecimentos recusam a presença de estrangeiros por medo de serem fechados pelas autoridades.

Muito elogiada pelas medidas duras tomadas no auge da crise, a China usa uma mistura de soluções digitais e sociais para conter o avanço da doença. E o combate à crise da Covid-19 é visto também como um guerra popular contra uma possível crise econômica.

A desconfiança com estrangeiros parece ser pontual. O governo não mediu esforços para estender tratamento gratuito a todos e ainda anunciou que não penalizará quem permanecer no país após o vencimento do visto.

Vale estudar e entender o que China fez de bom no combate contra a Covid-19. O país tem muito a ensinar ao Brasil. É importante ter em mente, porém, que nem tudo que foi adotado aqui é aplicável a outros lugares.

O analista Thiago Bessimo, mestre em política pela Universidade de Pequim, mora na capital chinesa desde 2016

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