Descrição de chapéu Coreia do Norte

Saiba quem é a irmã de Kim Jong-un, ditador que mandou explodir escritório diplomático

Kim Yo-jong tem ganhado protagonismo em meio a suspeitas de que seu irmão estaria gravemente doente

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São Paulo

Nos últimas dias, o protagonismo de Kim Jong-un nas relações internacionais norte-coreanas parece ter sido cedido, ao menos temporariamente, à sua irmã, Kim Yo-jong.

Foi ela quem respondeu a pedidos de paz feitos pelo presidente sul-coreano, Moon Jae-in, após Pyongyang explodir na terça (16) um escritório diplomático dedicado a facilitar as relações com a Coreia do Sul —é raro que membros do regime emitam comunicados pessoais como o dela.

Yo-jong (na Coreia, o sobrenome é escrito antes do nome) justificou a destruição do espaço afirmando que Moon havia falhado em implementar todos os pactos firmados em 2018, além de ter "colocado seu pescoço na corda da forca da vassalagem pró-Estados Unidos".

A explosão ocorre cerca de dois meses após Kim se ausentar das comemorações do aniversário de seu avô e fundador da Coreia do Norte, , Kim Il-sung, realizadas no dia 15 de abril.

Com o crescimento dos rumores de que Kim estaria gravemente doente, passou-se a debater quem poderia sucedê-lo no comando do regime. A atuação recente de Yo-jong reforça as análises que indicam que ela assumiria como nova líder, embora mulheres em cargos de comando seja algo raro no país.

Ela é apontada como uma das parentes mais próximas de Jong-un e esteve ao lado do irmão em momentos importantes, como nas reuniões com o presidente dos EUA, Donald Trump, realizadas em 2018 e em 2019.

Kim Yo-jong, irmã do ditador Kim Jong-un, durante cerimônia em Hanói, no Vietnã - Jorge Silva - 2.mar.2019/Reuters

Em um desses encontros, no Vietnã, Kim foi visto fumando do lado de fora. Ao lado dele, uma mulher que parecia Yo-jong segurava um cinzeiro para o ditador.

Sua primeira declaração oficial em nome do governo foi publicada em março. Nela, Yo-jong acusou a Coreia do Sul de ser um "cão assustado que late" depois que Seul reclamou de um exercício militar norte-coreano.

Sua idade, assim como a do irmão, não é confirmada pelo regime —estima-se que ela tenha 30 anos. Os dois estudaram na Suíça no fim dos anos 1990. Usaram nomes falsos e viviam em uma casa com vários funcionários e seguranças.

Esses anos juntos teriam ajudado a aproximá-los, segundo reportagens dos jornais The Guardian e The Washington Post.

Ao voltar para a Coreia, no início dos anos 2000, Yo-jong se formou em ciência da computação em Pyongyang. Naquela década, seu pai, Kim Jong-il, comentou com um visitante russo que via na filha um potencial para a liderança.

Jong-il morreu em 2011, e Yo-jong fez sua primeira aparição pública em seu funeral. Kim Jong-un se tornou ditador da Coreia do Norte e chamou a irmã para ser diretora no setor de Propaganda, responsável por cuidar de sua imagem e da do governo.

Yo-jong tem atuado para tentar modernizar a imagem do país no exterior. Embora a Coreia do Norte siga fazendo testes com mísseis com bastante frequência, os encontros de Kim com Trump ajudaram a suavizar a imagem de brutalidade do regime norte-coreano, uma ditadura familiar no poder desde 1948.

Yo-jong foi incluída pelos EUA, em 2017, em uma lista de governantes norte-coreanos acusados de cometer abusos severos contra os direitos humanos.

Nos últimos anos, ela estaria atuando como uma espécie de chefe de gabinete do irmão. Em 2018, foi enviada às Olimpíadas de Inverno em Pyeongchang, na Coreia do Sul, para representar o governo. O ato foi visto como um sinal de seu poder.

"Kim Yo-jong será, por enquanto, a principal base de poder, com controle de partes do governo como o Judiciário e da segurança pública", disse Cho Han-bum, do Instituto para a Unificação da Coreia, em Seul, à agência Reuters.

Embora seja uma das pessoas mais influentes da família, terá grandes dificuldades para chegar ao comando do país. A principal delas é que a Coreia do Norte sempre coloca homens em postos de comando, além de valorizar figuras mais velhas.

"É improvável que ela assuma o poder, mas pode ajudar a construir um governo interino e mediar as forças políticas até que os filhos de Kim Jong-un cresçam", disse Go Myong-hyun, pesquisador do Asian Institute for Policy Studies, em Seul.

Especialistas em Coreia do Norte apontam que Jong-un, que se casou em 2009, teria três filhos, sendo que o mais velho tem dez anos.

Outro ponto é que há uma grande briga pelo poder na família Kim, que teve ao menos dois assassinatos nos últimos anos.

Chang Sung-taek, tio de Kim Jong-un, foi executado em 2013, acusado de traição. E, em 2017, um meio-irmão de Jong-un, Kim Jong-nam, foi morto por envenamento na Malásia.

Ele, que estava exilado, era crítico do regime, e há suspeitas de que colaborava com a CIA.


CRONOLOGIA

1945
Após a Segunda Guerra, o Japão deixa a Coreia. Tropas soviéticas ocupam o norte da península, e soldados americanos controlam o sul.

1948
Sem acordo para a unificação, surgem dois governos: um comunista, ao norte, e outro capitalista, ao sul.

1950
Tropas do Norte avançam sobre o sul e começa uma guerra. O norte tem apoio da União Soviética e da China. O Sul recebe ajuda militar dos EUA.

1953
É firmado um armistício. Até hoje, não foi assinado um acordo de paz para encerrar formalmente o conflito.

2011
Kim Jong-un, neto do fundador da Coreia do Norte, assume o poder.

abr. 2018
Encontro entre o ditador Kim Jong-un e o presidente Moon Jae-in leva a medidas de aproximação. Os dois dizem concordar com a elaboração de um acordo de paz.

fev.2019
Reunião entre Trump e Kim, no Vietnã, termina de forma abrupta e sem acordo. EUA querem que Coreia do Norte reduza programa nuclear em troca da retirada de sanções.

jun.2019
Trump vai até a zona desmilitarizada, onde encontra Kim. Foi o primeiro presidente dos EUA a pisar em solo norte-coreano.

15.abr.2020
Kim não vai à celebração em homenagem ao avô. Rumores de que ele estaria muito doente ganham força.

1º.mai
Kim reaparece em público, mas se movimenta com alguma dificuldade.

2.mai
Troca de tiros na zona desmilitarizada entre o Norte e o Sul.

16.jun
Coreia do Norte explode escritório diplomático perto da fronteira.

Com Reuters

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