Descrição de chapéu Coronavírus

'Se for infectada, estarei no grupo dos que morrem ou dos que sobrevivem?', pergunta médica sul-africana

Aos 25 anos, Precious Chikura atende em hospital em Pietermaritzburgo

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Precious Chikura
Pietermaritzburgo (África do Sul)

A princípio, não achei que o coronavírus fosse algo tão sério. Minha percepção mudou quando a taxa de letalidade mundial começou a crescer, e a África do Sul teve seu primeiro caso.

Tenho 25 anos, me formei há dois e estou em treinamento no departamento de anestesia de um dos hospitais públicos da cidade de Pietermaritzburgo, no estado de KwaZulu-Natal, o terceiro com mais casos de coronavírus no país.

Sala de hospital com paredes verde claro, uma maca e diversos equipamentos hospitalares. Não há pessoas
Sala de cirurgia do Complexo Hospitalar de Pietermaritzburg, em KwaZulu-Natal, na África do Sul - Precious Chikura

Agora, só estamos atendendo pacientes graves e os de Covid-19. Recebemos treinamento específico para lidar com a doença.

Assim que o paciente chega ao hospital, ele passa por uma triagem na qual perguntamos sobre os sintomas, histórico de doenças e lugares frequentados. Se há suspeita de infecção pelo coronavírus, a pessoa é imediatamente isolada e testada.

Fazemos isso com roupas protetoras, que estão de acordo com as orientações dadas pelo governo.

Também não podemos deixar que as pessoas se aglomerem dentro do hospital, e há um número específico de pessoas que podem estar em uma fila aqui dentro.

Felizmente, a África do Sul baniu a venda de álcool durante o lockdown e isso diminuiu drasticamente o número de pacientes que chegavam desnecessariamente ao pronto-socorro, com fraturas e outros problemas preveníveis.

A África do Sul é uma mistura de um país de primeiro mundo com um país de terceiro. Então, decisões políticas são sempre difíceis, mas acredito que o governo tem feito um bom trabalho, já que temos menos de 4.000 casos e menos de 70 mortes em decorrência do novo coronavírus.

Não é fácil decidir por um lockdown em um país com um nível tão alto de extrema pobreza. Mas o governo decidiu colocar vidas acima do dinheiro. Negociou com o setor privado e montou um projeto de auxílio financeiro para pessoas que não podem pagar pela sua quarentena.

Além disso, a África do Sul aumentou sua capacidade de testar, e profissionais batem de porta em porta nas comunidades para examinar as pessoas.

uma sala grande, onde estão guardados produtos e roupas hospitalares. A luz não é muito forte, não há pessoas, as paredes são verdes
Sala do Complexo Hospitalar de Pietermaritzburg, em KwaZulu-Natal, na África do Sul - Precious Chikura

Essas ações são muito importantes porque nosso sistema de saúde já sofria pressão antes do coronavírus, porque as epidemias de Aids e tuberculose deixam grande parte da nossa população com deficiências imunológicas.

Ainda assim, a rotina no hospital é de ansiedade. Especialmente porque nenhum de nós tem todas as respostas. As notícias mudam todos os dias, e é isso que nos deixa apreensivos: nós não temos certeza do futuro que nos aguarda. Isso irá durar um mês, seis meses? Ninguém faz ideia.

Para dois colegas meus, que têm filhos, a angústia é ainda maior. As escolas estão fechadas, eles não podem deixar as crianças com outras pessoas e quando chegam em casa o medo contaminá-las é grande.

Uma das minhas funções é intubar os pacientes. Estou lidando com as secreções deles, e isso me coloca em um grupo de alto risco. Eu lido com pacientes todo os dias. Mesmo que você tome todas as medidas de prevenção, ainda haverá casos do novo coronavírus entre profissionais de saúde.

Se eu for infectada, estarei no grupo dos que morrem ou dos que sobrevivem?

Precious Chikura, 25, é médica em treinamento no Complexo Hospitalar de Pietermaritzburgo, no estado de KwaZulu-Natal, na África do Sul. Depoimento a Manuela Ferraro

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