UE diz que retomada da economia precisa de fronteiras abertas a estrangeiros

Imigrantes e trabalhadores sazonais assumem postos de trabalho em setores essenciais

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Bauru

A pandemia de coronavírus mudou, ainda que temporariamente, a maneira com que países europeus lidam com trabalhadores estrangeiros, sazonais e imigrantes.

Diante da demanda por mão de obra em setores essenciais, o comissário da União Europeia para Trabalho e Direitos Sociais, Nicolas Schmit, disse nesta sexta (17) que os países membros precisam atenuar as restrições nas fronteiras para permitir que trabalhadores sazonais também possam retornar às atividades.

Além dos sazonais, trabalhadores fronteiriços, que vivem em um país do bloco europeu e trabalham em outro, também devem ser beneficiados. Estima-se que cerca de 1,5 milhão de pessoas se encaixem nessa categoria.

Homem trabalha no cultivo de verduras em estufa em Heidelberg, na Alemanha - Daniel Roland - 26.mar.20/AFP

Em março, a Comissão Europeia emitiu diretrizes para que os estados membros permitissem a circulação dos trabalhadores, principalmente em setores considerados críticos, como o de alimentos e o da saúde.

Para Schmit, não é aceitável que, no processo de retomada da economia, os trabalhadores sazonais e fronteiriços sejam impedidos de trabalhar.

"Agora chegou o momento em que precisamos estar em conformidade novamente com os princípios do código de Schengen", disse o comissário, referindo-se à área europeia de 26 países que normalmente não tem controle de fronteiras.

Schmit afirma entender a necessidade do controle por questões de saúde, mas diz que as restrições nas fronteiras não devem ser discriminatórias com os trabalhadores que vivem em diferentes países.

No Reino Unido, por exemplo, o secrétário de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais, George Eustice, fez um apelo à nação para que trabalhadores britânicos ajudassem a suprir a mão de obra escassa no setor de agricultura.

O pedido não teve o efeito esperado e, desde então, o país recebe centenas de romenos para trabalhar na plantação e colheita de frutas, verduras e outros alimentos.

A demanda deve aumentar nos próximos meses. De acordo com levantamento realizado pelo jornal britânico The Guardian, a indústria agrícola vai precisar de 90 mil trabalhadores.

O Reino Unido segue o exemplo da Alemanha, onde cerca de 80 mil trabalhadores sazonais devem chegar em voos nos meses de abril e maio. De acordo com Schmit, em todo o bloco europeu, outras centenas de milhares de pessoas serão necessárias para trabalhar.

Segundo ele, a crise ensinou às pessoas que as profissões que eles talvez não considerassem muito importantes no passado são essenciais e merecem remuneração adequada.

A demanda também acende um alerta sobre o fornecimento de acomodações que possibilitem o distanciamento social entre esses trabalhadores, de modo que países como a Alemanha, que tem registrado queda no número de novos casos de coronavírus, não sejam atingidos por uma segunda onda de contaminação.

Em março, a Associação Médica da Saxônia, estado no leste da Alemanha, publicou em sua página oficial no Facebook uma convocação para médicos estrangeiros que vivem na região.

A Saxônia é considerada a base política do partido Alternativa para a Alemanha, de ultradireita.

Desde 2015, quando a chanceler alemã, Angela Merkel, abriu as fronteiras do país para receber mais de um milhão de imigrantes que fugiam das guerras no Oriente Médio, o partido ganhou espaço no debate público com um forte discurso anti-imigração.

"Médicos estrangeiros que já moram na Saxônia, mas ainda não têm aprovação [para exercer a medicina], podem nos ajudar com a pandemia do coronavírus", diz a postagem na rede social.

A associação oferece um endereço de email para contato e faz uma única exigência: que os médicos estrangeiros falem alemão.

Trabalhadores sazonais no aeroporto de Otopeni, Romênia, mantêm distanciamento enquanto aguardam voo para Alemanha - Octav Ganea - 17.abr.20 / Reuters

Com informações da Reuters

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