Afetada pela crise do vírus, Marinha dos EUA reage e anuncia novos navios

Força perdeu comandante e tem navios atingidos pela Covid-19 enquanto China mostra poder

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São Paulo

Sob pressão devido à ascensão naval chinesa e à crise do novo coronavírus, que derrubou seu comandante no mês passado, a Marinha americana parece ter começado a reagir.

Na quinta (30), a Força anunciou a escolha da fabricante italiana Fincantieri para fornecer até dez novas fragatas, a um valor potencial de US$ 5,58 bilhões (R$ 30,7 bilhões hoje).

Marinheiro americano com máscara faz saudação do USS Kidd, retirado de combate
Marinheiro americano com máscara faz saudação do USS Kidd, retirado de combate - Alex Corona - 29.abr.2020/Marinha dos EUA/Reuters

O negócio só era esperado para ser anunciado no fim do ano, mas as circunstâncias se agravaram.

O programa em si é para toda essa década, como tudo em construção naval, mas o anúncio ajuda a simbolizar prontidão frente à crise.

A infecção do coronavírus atingiu os dois porta-aviões americanos em operação no Pacífico Ocidental, área que a China considera seu quintal estratégico e na qual promoveu exercícios navais nas últimas semanas que foram vistos como demonstração de força.

Um dos gigantes de Washington, o USS Theodore Roosevelt, teve de ser ancorado em Guam, ilha americana na região. O outro, o USS Ronald Reagan, voltou para reparos em seu porto em Yokosuka (Japão), mas a tripulação teve de ser posta em quarentena por causa da presença de infectados.

Não são casos únicos. Na quinta, o destróier lançador de mísseis USS Kidd deixou a formação que estava no Caribe, em exercícios desenhados para intimidar a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela, porque contava 47 casos da Covid-19 entre seus cerca de 320 tripulantes.

A situação no Pacífico ganhou contornos mais dramáticos quando o então chefe da Marinha americana, Thomas Moldy, teve de se demitir após insultar o capitão do Theodore Roosevelt –que havia vazado uma carta implorando a ele para evacuar o navio e acabou sendo dispensado do comando.

De lá para cá, a Marinha buscou sinalizar que sua crise poderia ser superada. Em abril, aumentou em 30% o gasto com compras de armamentos, viu entregues um destróier furtivo da classe Zumwalt e outro da classe Arleigh Burke, a mesma do Kidd.

Além disso, fez dois exercícios de livre navegação no disputado mar do Sul da China e outro no estreito de Taiwan, áreas que Pequim considera suas águas territoriais. Confirmou um exercício naval de grande porte para o meio do ano e, por fim, anunciou a compra das novas fragatas.

Elas são um modelo avançado da existente FREMM, em operação pela Itália e pela França. Sua aquisição é uma grande vitória para a Fincantieri. Elas terão capacidade de lançamento de mísseis e são, por sua vez, um sinal de racionalização de custos por parte dos americanos.

Foram gastos bilhões de dólares com um programa chamado LCS (Navio Litorâneo de Combate, na sigla inglesa), que se mostraram dispendiosos demais.

Assim, a demanda inicial de 55 barcos de menor tamanho, estabelecida no começo dos anos 2010, foi baixada para 32 e com a previsão de não adquirir mais unidades do LCS. Elas foram substituídas por fragatas já existentes, mas com revisões de desenho e "upgrades" em sistemas de armas.

A FREMM em nova roupagem derrotou dois concorrentes americanos e um espanhol. O contrato inicial é de US$ 795 milhões (R$ 4,3 bilhões) para o primeiro navio, e pode chegar até dez unidades. Dali em diante, pode ou não ser extendido para mais dez.

A crise da pandemia tem dado oportunidade a rivais americanos, além da China, de treinar sua musculatura militar. A Rússia tem feito exercícios semanais em praticamente todos os campos de suas Forças Armadas, a Coreia do Norte testou mísseis de cruzeiro e o Irã colocou um satélite em órbita.

São movimentos simbólicos, dado que os EUA seguem como maior potência militar do mundo.

Só no ano passado, gastaram 39% do orçamento global para o setor e detêm a maior força de projeção de poder no planeta, com 11 grupos de porta-aviões de propulsão nuclear.

A China tem dois modelos convencionais, incomparavelmente menos capazes.

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