Após meses de impasse, presidente do Afeganistão e rival acertam divisão de poder

Pacto ocorre em meio à escalada de violência no país, que também lida com coronavírus

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Cabul | AFP

O presidente afegão, Ashraf Ghani, e seu rival, Abdullah Abdullah, assinaram um acordo de compartilhamento de poder neste domingo (17), encerrando meses de disputas que mergulharam o país em uma crise política.

No início de março, ambos se proclamaram presidente no mesmo dia e no mesmo lugar.

"Abdullah chefiará a Alta Comissão de Reconciliação Nacional, e os membros de sua equipe serão incluídos no gabinete do governo", disse o porta-voz de Ghani, Sediq Sediqqi, em uma rede social.

A comissão é um conselho responsável pelas negociações de paz com o Taleban.

Ashraf Ghani e seu rival Abdullah Abdullah durante cerimônia na qual assinaram um acordo de divisão de poder em Cabul - Afghan Presidential Palace -17.mai.2020/Handout via Reuters

Seddiqi acrescentou que mais detalhes serão divulgados em breve.

Abdullah quer controlar uma pasta importante, como Finanças ou Assuntos Externos, e, embora Ghani não tenha concordado com o pedido, ele pode oferecer a chefia do Ministério do Interior, disseram fontes pouco antes da assinatura do acordo.

Abdullah foi derrotado por Ghani nas eleições presidenciais de setembro passado, mas os resultados finais foram anunciados apenas em fevereiro deste ano devido a 16.500 casos de denúncias de irregularidades no pleito.

Ghani foi reconhecido pela comunidade internacional como presidente do país.

Washington, então, fez lobby para resolver a crise política, anunciando a redução imediata de US$ 1 bilhão (R$ 5,86 bi) para o Afeganistão e de mais US$ 1 bilhão em 2021, caso um acordo não fosse alcançado.

Não se sabe se o corte da verba será mantido com a assinatura do pacto neste domingo.

No início de maio, a situação entre os rivais deu sinais de que iria se resolver: Abdullah, que é oftalmologista, anunciou no dia 1º um acordo provisório com Ghani, ex-economista do Banco Mundial.

O acordo de compartilhamento de poder ocorre em um momento de escalada da violência nos últimos meses. Em março, enquanto ambos os políticos tomavam posse pelo mesmo cargo, duas explosões sacudiam Cabul, em um atentado reivindicado pelo Estado Islâmico (EI).

Na última terça-feira (12), um ataque a um hospital-maternidade em Cabul deixou 24 mortos, incluindo vários recém-nascidos, mas neste caso o EI não reivindiou a autoria.

O aumento na violência ocorre apesar da assinatura, no final de fevereiro, de um acordo com os Estados Unidos estabelecendo a retirada de todas as forças estrangeiras do país dentro de 14 meses.

As negociações abriram caminho para encerrar a guerra do Afeganistão, que já dura quase 20 anos.

Neste cenário complicado, o Afeganistão também tem de lidar com a rápida disseminação do coronavírus, que já vitimou 169 pessoas e infectou 6.664 no país, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, parabenizou os rivais pelo acordo, dizendo que ambos estão agindo pela paz no país, mas lamentou que a iniciativa do pacto tenha demorado tanto.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também elogiou o acordo e instou o Taleban a reduzir a violência e a todos os lados a trabalharem em prol da paz.

O enviado especial dos EUA, Zalmay Khalilzad, disse na sexta-feira (15) que estava em discussão uma nova data para as negociações de paz dentro do país e que em breve ele viajaria para a região e tentaria incentivar a redução da violência.​

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